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Pesquisa identifica contaminação por arsênio em cação no Rio de Janeiro

Em uma raia, quantidade do metal foi 79 vezes maior do que o limite estabelecido pela Anvisa
Por Maíra Menezes29/09/2022 - Atualizado em 17/10/2022

Os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento apontam altos níveis de contaminação por arsênio em raias coletadas no litoral fluminense, que são vendidas para consumo humano sob o nome de cação. Coordenado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o trabalho detectou índices do metal dezenas de vezes superiores ao máximo estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em duas espécies muito consumidas no estado.

Segundo a Anvisa, o limite do metal para consumo humano deve ser de um miligrama por quilo de peixe. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que também considerava esse limiar, reviu suas recomendações e aponta que não há nível de ingestão seguro.

Rachel Hauser Davis e o estudante Pedro Magno de Araújo analisam uma raia-ticonha (Rhinoptera brasiliensis). Pesquisa já coletou 450 raias e tubarões para investigar contaminações. Foto: Gutemberg Brito

“O arsênio está entre os dez contaminantes de maior preocupação para a saúde pública, segundo a OMS. É uma substância tóxica, que pode prejudicar os sistemas imune, reprodutivo e neurológico, além de ser carcinogênico”, pontua a pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC e coordenadora do estudo, Rachel Ann Hauser Davis.

Em 20 exemplares de raia-manteiga (espécie Gymnura altavela) coletados em Copacabana, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, os pesquisadores verificaram, em média, 15 miligramas de arsênio por quilo de peixe. Um animal chegou a apresentar 79 miligramas por quilo.

Os pesquisadores também analisaram 50 espécimes de raia-viola (espécie Pseudobatos horkelii), coletados em Copacabana, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca, na capital, e em Cabo Frio, na Região dos Lagos. Em média, a contaminação foi de 30 miligramas por quilo de peixe, com pico de 61 miligramas por quilo detectados em um animal.

“São níveis altos de contaminação. Esses animais não devem ser consumidos, tanto por causa do risco para a saúde como por serem espécies que precisam ser preservadas”, afirma Rachel, lembrando que raias e tubarões de diferentes espécies são vendidos para consumo com o nome genérico de cação e que a maioria destes animais apresenta algum grau de ameaça de extinção.

Por ser uma espécie criticamente ameaçada, a raia-viola tem a pesca proibida no Brasil desde 2014. Já a raia-manteiga é classificada como uma espécie em perigo, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

Ao todo, cerca de 450 espécimes de raias e tubarões foram coletados pelos cientistas desde 2021 e estão sendo analisados para verificar contaminações por metais e compostos orgânicos. As coletas são realizadas com a parceria de diversas colônias de pescadores artesanais, que destinam os animais acidentalmente capturados em redes de pesca à pesquisa científica.

Em junho, alguns resultados do trabalho foram apresentados na 45ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (45ª RASBQ). O trabalho abordou análises em amostras de bílis de 39 raias-viola e 14 raias-prego (espécie Dasyatis hypostigma). 

O arsênio foi o metal encontrado em maior quantidade. Nas raias-viola, a média foi de 11 miligramas por litro de bílis, chegando a 68 miligramas em um peixe. Nas raias-prego, a concentração média foi de 4 miligramas por litro de bílis, com máximo de 9 miligramas em um animal. A presença de cádmio, mercúrio e chumbo também foi detectada.

Segundo os pesquisadores, a ocorrência dos metais na bílis reflete a exposição recente dos peixes aos contaminantes, pois o fluido é excretado do organismo após cada episódio de alimentação. Outros resultados da pesquisa estão em fase de consolidação e devem ser publicados em breve. 

Em trabalhos anteriores, com base em espécimes coletados entre 2017 e 2019, os pesquisadores apontaram contaminação por arsênio em tubarões de Cabo Frio e mercúrio em tubarões do Rio de Janeiro.

A pesquisa é realizada em parceria com dez instituições científicas: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), Instituto Museu Aquário Marinho do Rio de Janeiro (Imam/AquaRio), Associação Mar Brasil e Grupo de Estudo de Elasmobrânquios do Paraná, além da Universidade Internacional da Flórida, nos Estados Unidos.

Atualmente, o projeto tem financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). A realização do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF/RJ.

As etapas anteriores do trabalho foram custeadas pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Em uma raia, quantidade do metal foi 79 vezes maior do que o limite estabelecido pela Anvisa
Por: 
maira

Os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento apontam altos níveis de contaminação por arsênio em raias coletadas no litoral fluminense, que são vendidas para consumo humano sob o nome de cação. Coordenado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o trabalho detectou índices do metal dezenas de vezes superiores ao máximo estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em duas espécies muito consumidas no estado.

Segundo a Anvisa, o limite do metal para consumo humano deve ser de um miligrama por quilo de peixe. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que também considerava esse limiar, reviu suas recomendações e aponta que não há nível de ingestão seguro.

Rachel Hauser Davis e o estudante Pedro Magno de Araújo analisam uma raia-ticonha (Rhinoptera brasiliensis). Pesquisa já coletou 450 raias e tubarões para investigar contaminações. Foto: Gutemberg Brito

“O arsênio está entre os dez contaminantes de maior preocupação para a saúde pública, segundo a OMS. É uma substância tóxica, que pode prejudicar os sistemas imune, reprodutivo e neurológico, além de ser carcinogênico”, pontua a pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC e coordenadora do estudo, Rachel Ann Hauser Davis.

Em 20 exemplares de raia-manteiga (espécie Gymnura altavela) coletados em Copacabana, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, os pesquisadores verificaram, em média, 15 miligramas de arsênio por quilo de peixe. Um animal chegou a apresentar 79 miligramas por quilo.

Os pesquisadores também analisaram 50 espécimes de raia-viola (espécie Pseudobatos horkelii), coletados em Copacabana, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca, na capital, e em Cabo Frio, na Região dos Lagos. Em média, a contaminação foi de 30 miligramas por quilo de peixe, com pico de 61 miligramas por quilo detectados em um animal.

“São níveis altos de contaminação. Esses animais não devem ser consumidos, tanto por causa do risco para a saúde como por serem espécies que precisam ser preservadas”, afirma Rachel, lembrando que raias e tubarões de diferentes espécies são vendidos para consumo com o nome genérico de cação e que a maioria destes animais apresenta algum grau de ameaça de extinção.

Por ser uma espécie criticamente ameaçada, a raia-viola tem a pesca proibida no Brasil desde 2014. Já a raia-manteiga é classificada como uma espécie em perigo, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

Ao todo, cerca de 450 espécimes de raias e tubarões foram coletados pelos cientistas desde 2021 e estão sendo analisados para verificar contaminações por metais e compostos orgânicos. As coletas são realizadas com a parceria de diversas colônias de pescadores artesanais, que destinam os animais acidentalmente capturados em redes de pesca à pesquisa científica.

Em junho, alguns resultados do trabalho foram apresentados na 45ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (45ª RASBQ). O trabalho abordou análises em amostras de bílis de 39 raias-viola e 14 raias-prego (espécie Dasyatis hypostigma). 

O arsênio foi o metal encontrado em maior quantidade. Nas raias-viola, a média foi de 11 miligramas por litro de bílis, chegando a 68 miligramas em um peixe. Nas raias-prego, a concentração média foi de 4 miligramas por litro de bílis, com máximo de 9 miligramas em um animal. A presença de cádmio, mercúrio e chumbo também foi detectada.

Segundo os pesquisadores, a ocorrência dos metais na bílis reflete a exposição recente dos peixes aos contaminantes, pois o fluido é excretado do organismo após cada episódio de alimentação. Outros resultados da pesquisa estão em fase de consolidação e devem ser publicados em breve. 

Em trabalhos anteriores, com base em espécimes coletados entre 2017 e 2019, os pesquisadores apontaram contaminação por arsênio em tubarões de Cabo Frio e mercúrio em tubarões do Rio de Janeiro.

A pesquisa é realizada em parceria com dez instituições científicas: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), Instituto Museu Aquário Marinho do Rio de Janeiro (Imam/AquaRio), Associação Mar Brasil e Grupo de Estudo de Elasmobrânquios do Paraná, além da Universidade Internacional da Flórida, nos Estados Unidos.

Atualmente, o projeto tem financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). A realização do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF/RJ.

As etapas anteriores do trabalho foram custeadas pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)