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Reforço para o enfrentamento das leishmanioses nas Américas

Manual lançado pela Opas apresenta diretrizes para diagnóstico, tratamento, vigilância e controle do agravo. Pesquisadores do IOC que atuam em serviços de referência para a doença estão entre os autores da publicação
Por Maíra Menezes22/08/2019 - Atualizado em 06/01/2020

Diretrizes para diagnóstico, tratamento, vigilância e controle das leishmanioses são apresentadas no ‘Manual de Procedimentos para Vigilância e Controle das Leishmanioses nas Américas’, publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Voltada para gestores e profissionais dos serviços de saúde, a publicação define critérios e padroniza procedimentos com base em evidências científicas, considerando especialmente os dados locais. O documento é elaborado pela Opas em parceria com os Ministérios da Saúde dos países da região e especialistas, incluindo pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

“O ‘Manual’ visa ampliar o conhecimento que se tem sobre as leishmanioses nas Américas e apoiar os gestores e profissionais de saúde bem como organizar e estruturar os serviços, tornando essas ações mais efetivas e eficientes”, afirma Ana Nilce Maia Elkhoury, assessora regional em Leishmanioses da Opas.

A publicação incorpora conhecimentos atualizados sobre os parasitos presentes nas Américas, os contextos ecológicos e epidemiológicos da doença, as manifestações clínicas e os procedimentos para diagnóstico, vigilância e controle dos casos humanos, de vetores e de animais reservatórios. Além disso, conta com fotos, diagramas e ilustrações, que facilitam a compreensão e a aplicação do conhecimento.

“Este é um importante instrumento de apoio para os programas nacionais de controle das leishmanioses”, enfatiza Elizabeth Rangel, vice-diretora de Laboratórios de Referência e Coleções Biológicas do IOC, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Díptera e Hemíptera e coordenadora do Laboratório de Referência Nacional para o Ministério da Saúde e Regional para a Organização Pan-Americana da Saúde em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das Leishmanioses. A especialista também é coordenadora da Rede Fiocruz de Laboratórios de Leishmanioses.

“É um documento norteador, que reúne informações publicadas em artigos científicos de forma objetiva para aqueles que trabalham nos serviços de saúde”, aponta Elisa Cupolillo, curadora da Coleção de Leishmania do IOC, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose e coordenadora do Laboratório de Referência em Identificação e Genotipagem de Leishmania para o Ministério da Saúde e a Opas.

Contexto da doença

As leishmanioses são causadas por parasitos do gênero Leishmania, que podem acometer a pele, as mucosas e as vísceras (órgãos internos, como fígado e baço). O parasito é transmitido por insetos flebotomíneos, popularmente conhecidos por nomes como mosquito-palha ou asa branca. Esses vetores infectam-se ao sugar o sangue de animais infectados, chamados de reservatórios, e transmitem o parasito para as pessoas através da picada. Segundo os dados mais recentes disponibilizados pela Opas, foram registrados quase 50 mil casos das formas cutânea e mucosa do agravo e cerca de 4,2 mil casos da infecção visceral nas Américas em 2017. O Brasil foi o país com maior número de notificações, com 17,5 mil casos de leishmaniose cutânea e mucosa e 4,1 mil da doença visceral.

“As leishmanioses apresentam grande magnitude e ampla distribuição nas Américas. Em alguns países, observamos que essas doenças vêm se expandindo nos últimos anos. Em outros, elas permanecem no patamar endêmico, mas com mudança do perfil de transmissão, saindo das áreas mais silvestres e passando a ocupar a periferia rural ou urbana”, ressalta Elizabeth.

O ‘Manual’ destaca que as leishmanioses ocorrem em uma grande variedade de cenários, desde o sul dos Estados Unidos até o norte do Uruguai (com exceção do Chile). Ao todo, 15 espécies de leishmanias capazes de provocar a infecção humana já foram descritas na região, com distribuições territoriais distintas. Da mesma forma, as localidades apresentam variações entre as espécies de vetores e reservatórios. Além disso, condições ambientais, sociais, econômicas influenciam na disseminação do agravo, incluindo fatores como desmatamento, moradia precária, falta de saneamento e pobreza.

“Além de apresentar os procedimentos, o ‘Manual’ chama atenção para aspectos importantes que devem ser levados em conta pelos profissionais dos serviços de saúde. Por exemplo, avaliar o risco de pacientes infectados por algumas espécies de Leishmania desenvolverem não apenas a forma cutânea da doença, mas também lesões mucosas, que podem ser graves”, pontua Elisa.

Cooperação regional

Além de colaborar na elaboração das estratégias regionais para enfrentamento das leishmanioses, os Laboratórios de Referência do IOC realizam procedimentos de alta complexidade e atuam na capacitação e no controle de qualidade das atividades de vigilância entomológica e diagnóstico dos países da região. “As cooperações com o IOC foram fundamentais para estruturar o serviço de vigilância entomológica de flebotomíneos em vários países, assim como reorganizar os serviços de diagnóstico laboratorial e melhorar a qualidade do diagnóstico das leishmanioses na região”, declara Ana Nilce.

Entre as ações desenvolvidas pelo Laboratório de Referência Nacional para o Ministério da Saúde e Regional para a Organização Pan-Americana da Saúde em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das Leishmanioses estão a capacitação de profissionais para identificação de flebotomíneos e a disponibilização de kits e procedimentos para o diagnóstico e identificação dos vetores. O Laboratório também presta assessoria e consultoria em ações de vigilância e controle de vetores e atua no controle de qualidade das espécies identificadas pelos serviços nacionais de entomologia. A equipe realiza ainda diagnóstico e análises moleculares da infecção em vetores capturados, em parceria com laboratório de apoio, e participa de estudos de campo para investigação de focos de leishmanioses cutânea e visceral. Desde 2013, os treinamentos já alcançaram equipes de El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Nicarágua, Honduras, Bolívia, Peru, Panamá, Suriname e Uruguai.

O Laboratório de Referência em Identificação e Genotipagem de Leishmania para o Ministério da Saúde e a Opas promove a capacitação de equipes para execução de métodos de diagnóstico laboratorial da doença, incluindo o exame parasitológico e a análise molecular. Além disso, realiza a identificação de espécies de Leishmania e a caracterização do genótipo dos parasitos, quando necessário, e atua no planejamento e execução do programa de avaliação de desempenho dos laboratórios nacionais. Promovidos nos países ou na Fiocruz, os treinamentos em diagnóstico microscópico da Leishmaniose, coordenados por Renato Porrozzi e Fernanda Morgado, já contemplaram Guiana, Suriname, Peru e Paraguai. Além disso, serviços de diagnóstico molecular e caracterização de espécies de Leishmania foram prestados para Guatemala, El Salvador e Nicarágua.

Manual lançado pela Opas apresenta diretrizes para diagnóstico, tratamento, vigilância e controle do agravo. Pesquisadores do IOC que atuam em serviços de referência para a doença estão entre os autores da publicação
Por: 
maira

Diretrizes para diagnóstico, tratamento, vigilância e controle das leishmanioses são apresentadas no ‘Manual de Procedimentos para Vigilância e Controle das Leishmanioses nas Américas’, publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Voltada para gestores e profissionais dos serviços de saúde, a publicação define critérios e padroniza procedimentos com base em evidências científicas, considerando especialmente os dados locais. O documento é elaborado pela Opas em parceria com os Ministérios da Saúde dos países da região e especialistas, incluindo pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

“O ‘Manual’ visa ampliar o conhecimento que se tem sobre as leishmanioses nas Américas e apoiar os gestores e profissionais de saúde bem como organizar e estruturar os serviços, tornando essas ações mais efetivas e eficientes”, afirma Ana Nilce Maia Elkhoury, assessora regional em Leishmanioses da Opas.

A publicação incorpora conhecimentos atualizados sobre os parasitos presentes nas Américas, os contextos ecológicos e epidemiológicos da doença, as manifestações clínicas e os procedimentos para diagnóstico, vigilância e controle dos casos humanos, de vetores e de animais reservatórios. Além disso, conta com fotos, diagramas e ilustrações, que facilitam a compreensão e a aplicação do conhecimento.

“Este é um importante instrumento de apoio para os programas nacionais de controle das leishmanioses”, enfatiza Elizabeth Rangel, vice-diretora de Laboratórios de Referência e Coleções Biológicas do IOC, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Díptera e Hemíptera e coordenadora do Laboratório de Referência Nacional para o Ministério da Saúde e Regional para a Organização Pan-Americana da Saúde em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das Leishmanioses. A especialista também é coordenadora da Rede Fiocruz de Laboratórios de Leishmanioses.

“É um documento norteador, que reúne informações publicadas em artigos científicos de forma objetiva para aqueles que trabalham nos serviços de saúde”, aponta Elisa Cupolillo, curadora da Coleção de Leishmania do IOC, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose e coordenadora do Laboratório de Referência em Identificação e Genotipagem de Leishmania para o Ministério da Saúde e a Opas.

Contexto da doença

As leishmanioses são causadas por parasitos do gênero Leishmania, que podem acometer a pele, as mucosas e as vísceras (órgãos internos, como fígado e baço). O parasito é transmitido por insetos flebotomíneos, popularmente conhecidos por nomes como mosquito-palha ou asa branca. Esses vetores infectam-se ao sugar o sangue de animais infectados, chamados de reservatórios, e transmitem o parasito para as pessoas através da picada. Segundo os dados mais recentes disponibilizados pela Opas, foram registrados quase 50 mil casos das formas cutânea e mucosa do agravo e cerca de 4,2 mil casos da infecção visceral nas Américas em 2017. O Brasil foi o país com maior número de notificações, com 17,5 mil casos de leishmaniose cutânea e mucosa e 4,1 mil da doença visceral.

“As leishmanioses apresentam grande magnitude e ampla distribuição nas Américas. Em alguns países, observamos que essas doenças vêm se expandindo nos últimos anos. Em outros, elas permanecem no patamar endêmico, mas com mudança do perfil de transmissão, saindo das áreas mais silvestres e passando a ocupar a periferia rural ou urbana”, ressalta Elizabeth.

O ‘Manual’ destaca que as leishmanioses ocorrem em uma grande variedade de cenários, desde o sul dos Estados Unidos até o norte do Uruguai (com exceção do Chile). Ao todo, 15 espécies de leishmanias capazes de provocar a infecção humana já foram descritas na região, com distribuições territoriais distintas. Da mesma forma, as localidades apresentam variações entre as espécies de vetores e reservatórios. Além disso, condições ambientais, sociais, econômicas influenciam na disseminação do agravo, incluindo fatores como desmatamento, moradia precária, falta de saneamento e pobreza.

“Além de apresentar os procedimentos, o ‘Manual’ chama atenção para aspectos importantes que devem ser levados em conta pelos profissionais dos serviços de saúde. Por exemplo, avaliar o risco de pacientes infectados por algumas espécies de Leishmania desenvolverem não apenas a forma cutânea da doença, mas também lesões mucosas, que podem ser graves”, pontua Elisa.

Cooperação regional

Além de colaborar na elaboração das estratégias regionais para enfrentamento das leishmanioses, os Laboratórios de Referência do IOC realizam procedimentos de alta complexidade e atuam na capacitação e no controle de qualidade das atividades de vigilância entomológica e diagnóstico dos países da região. “As cooperações com o IOC foram fundamentais para estruturar o serviço de vigilância entomológica de flebotomíneos em vários países, assim como reorganizar os serviços de diagnóstico laboratorial e melhorar a qualidade do diagnóstico das leishmanioses na região”, declara Ana Nilce.

Entre as ações desenvolvidas pelo Laboratório de Referência Nacional para o Ministério da Saúde e Regional para a Organização Pan-Americana da Saúde em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das Leishmanioses estão a capacitação de profissionais para identificação de flebotomíneos e a disponibilização de kits e procedimentos para o diagnóstico e identificação dos vetores. O Laboratório também presta assessoria e consultoria em ações de vigilância e controle de vetores e atua no controle de qualidade das espécies identificadas pelos serviços nacionais de entomologia. A equipe realiza ainda diagnóstico e análises moleculares da infecção em vetores capturados, em parceria com laboratório de apoio, e participa de estudos de campo para investigação de focos de leishmanioses cutânea e visceral. Desde 2013, os treinamentos já alcançaram equipes de El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Nicarágua, Honduras, Bolívia, Peru, Panamá, Suriname e Uruguai.

O Laboratório de Referência em Identificação e Genotipagem de Leishmania para o Ministério da Saúde e a Opas promove a capacitação de equipes para execução de métodos de diagnóstico laboratorial da doença, incluindo o exame parasitológico e a análise molecular. Além disso, realiza a identificação de espécies de Leishmania e a caracterização do genótipo dos parasitos, quando necessário, e atua no planejamento e execução do programa de avaliação de desempenho dos laboratórios nacionais. Promovidos nos países ou na Fiocruz, os treinamentos em diagnóstico microscópico da Leishmaniose, coordenados por Renato Porrozzi e Fernanda Morgado, já contemplaram Guiana, Suriname, Peru e Paraguai. Além disso, serviços de diagnóstico molecular e caracterização de espécies de Leishmania foram prestados para Guatemala, El Salvador e Nicarágua.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)