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Tese sobre novos testes para doença de Chagas vence prêmio de inovação para o SUS

Exames podem ampliar detecção da forma crônica da infecção, que atinge milhões de pessoas no Brasil 
Por Maíra Menezes04/12/2025 - Atualizado em 05/12/2025
Troféu de primeiro lugar no 'Prêmio CT&I SUS' foi entregue para Evandro da Rocha Dias e Angela Junqueira (de vestido estampado) por estudo realizado na Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC. Foto: Divulgação

A tese de doutorado do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que apresenta dois novos testes para diagnóstico da doença de Chagas conquistou o primeiro lugar no ‘17º Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS’. 

O resultado da premiação foi anunciado no dia 2 de dezembro, durante o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), em Brasília.  

A honraria é promovida pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

O projeto ‘Desenvolvimento de protótipos de ELISA e teste rápido para a doença de Chagas crônica’, do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, foi vencedor na categoria tese de doutorado. 

A pesquisa foi realizada pelo biomédico Evandro da Rocha Dias, com orientação dos pesquisadores Angela Junqueira, do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC, e David William Provance Junior, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). 

A tese apresenta dois tipos de teste para diagnóstico da forma crônica da doença de Chagas, incluindo um teste rápido, que oferece resultado em 15 minutos e pode ser aplicado em áreas remotas, e um exame do tipo ELISA, para análise em infraestrutura laboratorial. 

Teste rápido para doença de Chagas crônica pode ser aplicado em áreas remotas, oferecendo resultado em cerca de 15 minutos. Foto: Divulgação

A doença de Chagas é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi. A forma crônica do agravo, que se desenvolve após anos de infecção silenciosa, atinge entre 2 milhões e 4,9 milhões de pessoas no Brasil, segundo estimativa do Ministério da Saúde. A maioria dos infectados não sabe que é portador do T. cruzi

Os novos testes foram desenvolvidos a partir de uma tecnologia inovadora, que tem registro de patente solicitado pela Fiocruz. Para chegar aos produtos, foram mais de dez anos de pesquisas, com colaboração de cientistas de três unidades da Fiocruz: IOC, CDTS e Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). 

Para os autores do trabalho, a premiação coroa o esforço científico voltado para a saúde pública. 

“Ficamos muito felizes com o reconhecimento nesta premiação, que destaca pesquisas que impulsionam a saúde pública do Brasil. Os testes foram desenvolvidos para ampliar o acesso ao diagnóstico da doença de Chagas crônica e têm o potencial de reduzir custos para o SUS [Sistema Único de Saúde]”, comemorou Evandro, que segue atuando no projeto como pesquisador de pós-doutorado em Bio-Manguinhos. 

Um diferencial dos exames foi o ótimo desempenho observado em ensaios na região amazônica, onde testes comerciais frequentemente apresentam resultados inconclusivos. 

“Este projeto buscou resolver um desafio tecnológico para o diagnóstico da doença de Chagas crônica na Amazônia, pensando nos pacientes que vivem nessa região, para oferecer o cuidado adequado a essas pessoas”, declarou Angela. 

“Desde o começo, aceitamos o desafio de desenvolver os testes tendo em vista a produção industrial para fornecimento ao SUS. Tenho muito orgulho desse projeto, que uniu IOC, CDTS e Bio-Manguinhos com esse objetivo”, afirmou David. 

O projeto contou com bolsa de doutorado concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e financiamentos do Programa Inova Fiocruz e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) através do Instituto Nacional Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças de Populações Negligenciadas (INCT-IDPN).    

A pesquisa também teve apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Barcelos (Semsa-Barcelos) e do Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Negro (DSEI-ARN).  

A partir da esquerda: Angela Junqueira, Evandro da Rocha Dias, Andressa da Matta Durans e David William Provance Junior. Pesquisadores ressaltam importância da cooperação entre unidades da Fiocruz no desenvolvimento tecnológico. Foto: Rudson Amorim
 

Alto desempenho 

Os ensaios laboratoriais realizados mostraram sensibilidade de 94% para o ELISA e 95% para o teste rápido, sinalizando alto potencial para identificar a doença de Chagas crônica, inclusive na Região Norte. A especificidade ficou em aproximadamente 99% para o ELISA e 96% para o teste rápido, o que representa baixo percentual de resultados falso-positivos. 

Foram utilizadas amostras consideradas como padrão de referência pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, os testes foram avaliados no diagnóstico de amostras provenientes de cinco estados: Amazonas, Ceará, Maranhão, Paraíba e Sergipe. 

Os testes rápidos também foram aplicados no município de Barcelos, no Amazonas, em comunidades ribeirinhas, em embarcações ancoradas às margens do Rio Negro e no hospital geral da cidade.  

“Desafiamos os testes com amostras de vários estados para ter uma real avaliação do seu desempenho, considerando que existem variações regionais sutis entre os parasitos da doença de Chagas, que podem impactar no desempenho dos exames de diagnóstico”, destacou o coordenador do Departamento de Desenvolvimento de Reativos para Diagnóstico de Bio-Manguinhos, Edimilson Domingos da Silva.  

Tendo em vista o bom desempenho dos protótipos, Bio-Manguinhos deve solicitar o registro dos produtos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre de 2026. 

Desafio no diagnóstico 

As dificuldades no diagnóstico da doença de Chagas crônica, especialmente na Amazônia, motivaram o desenvolvimento tecnológico. 

A infecção faz parte do grupo de doenças negligenciadas, que atingem principalmente populações pobres e vulneráveis e quase não recebem atenção e financiamento da indústria farmacêutica e da saúde pública. 

Mais de cem anos depois da descoberta do agravo, ainda não existe um método considerado como padrão ouro para diagnosticar a forma crônica da doença de Chagas, que pode causar problemas graves no coração e sistema digestivo. 

Na ausência de um teste mais confiável, é necessário fazer dois exames. Se ambos tiverem resultado positivo ou negativo, a infecção é confirmada ou descartada. Porém, se os resultados forem divergentes, o diagnóstico é inconclusivo, gerando necessidade de um terceiro teste. 

O problema é mais frequente na região amazônica. Nas análises feitas por Evandro, os testes comerciais foram inconclusivos em 20% dos casos de Barcelos, em linha com o observado em outras pesquisas.  

Os pesquisadores ressaltam o impacto desse problema. Atuando em pesquisas sobre Chagas na Amazônia desde os anos 1990, Angela observa que muitos moradores do Alto Rio Negro precisam viajar dias de barco para chegar a uma unidade de saúde. 

“Na logística da Amazônia, quando há um resultado inconclusivo, é difícil o paciente retornar para novo exame. Ter um teste eficaz, principalmente um teste rápido, que pode ser aplicado em áreas remotas, é fundamental para essa população”, enfatizou a pesquisadora. “A melhoria no diagnóstico também representa economia para o SUS, reduzindo o gasto com exames inconclusivos”, acrescentou Evandro. 

Inovação tecnológica 

Os cientistas da Fiocruz uniram esforços para enfrentar o problema em 2014. Angela apresentou a questão a David, que trabalha com uma abordagem inovadora para o desenvolvimento de testes diagnósticos: a criação de proteínas recombinantes. 

Estas moléculas são produzidas utilizando células programadas por engenharia genética, o que permite combinar seguimentos de diferentes proteínas em busca da estrutura mais favorável para detectar anticorpos contra o T. cruzi.  

Em 2018, a primeira versão da proteína para diagnóstico da doença de Chagas foi apresentada na tese de Andressa da Matta Durans, realizada na Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, com orientação de Angela e David.  

A partir de metodologia com registro de patente solicitado pela Fiocruz, o trabalho produziu uma proteína sofisticada: uma molécula que apresenta dez fragmentos de diferentes proteínas do T. cruzi.  

Evandro deu continuidade ao projeto. Em sua tese, foram feitos ajustes na proteína, produzidos protótipos dos testes e realizados ensaios para avaliação dos exames.  

“A inovação tecnológica foi importante para produzir uma proteína que detecta especificamente anticorpos contra doença de Chagas, sem reações cruzadas apesar da semelhança do T. cruzi com parasitos causadores de leishmanioses e outras doenças”, salientou David.  

A parceria com Bio-Manguinhos foi estabelecida em 2022 para fabricação dos exames em moldes industriais. Além da relevância no contexto da doença de Chagas, o projeto contribuiu para introduzir a tecnologia de proteínas recombinantes na unidade.  

“Houve uma sinergia muito grande nesse projeto. Passamos a ter o domínio completo dessa tecnologia, o que facilita o desenvolvimento e produção de testes para diagnóstico de diversas doenças”, ressaltou Edimilson. 

Sobre a doença de Chagas 

A transmissão da doença de Chagas está ligada a insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros. Os vetores infectados liberam o T. cruzi nas suas fezes. Como o barbeiro defeca após picar as pessoas, o parasito pode ser introduzido na ferida causada pela picada, contaminando os indivíduos. A infecção também pode ser transmitida por alimentos contaminados com fezes de barbeiros, como por exemplo açaí, bacaba e caldo de cana.  

Logo após o contágio, na chamada fase aguda do agravo, os pacientes podem apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, fraqueza e inchaço no rosto e nas pernas. Nesta fase, o diagnóstico é feito pela detecção do parasito no sangue. O IOC também vem atuando para aprimorar este processo

No entanto, muitas vezes, os casos agudos são assintomáticos ou passam despercebidos. Sem tratamento, os indivíduos permanecem infectados pelo T. cruzi, desenvolvendo a forma crônica da doença de Chagas. Após décadas de infecção silenciosa, cerca de 30% dos pacientes apresentam problemas do coração e aproximadamente 10% desenvolvem lesões digestivas. 

O diagnóstico da infecção crônica é fundamental para o acesso ao tratamento, que varia de acordo com o quadro clínico, podendo incluir medicamentos contra o T. cruzi e medidas para controlar os problemas cardíacos e digestivos. 

Exames podem ampliar detecção da forma crônica da infecção, que atinge milhões de pessoas no Brasil 
Por: 
maira
Troféu de primeiro lugar no 'Prêmio CT&I SUS' foi entregue para Evandro da Rocha Dias e Angela Junqueira (de vestido estampado) por estudo realizado na Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC. Foto: Divulgação

A tese de doutorado do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que apresenta dois novos testes para diagnóstico da doença de Chagas conquistou o primeiro lugar no ‘17º Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS’. 

O resultado da premiação foi anunciado no dia 2 de dezembro, durante o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), em Brasília.  

A honraria é promovida pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

O projeto ‘Desenvolvimento de protótipos de ELISA e teste rápido para a doença de Chagas crônica’, do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, foi vencedor na categoria tese de doutorado. 

A pesquisa foi realizada pelo biomédico Evandro da Rocha Dias, com orientação dos pesquisadores Angela Junqueira, do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC, e David William Provance Junior, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). 

A tese apresenta dois tipos de teste para diagnóstico da forma crônica da doença de Chagas, incluindo um teste rápido, que oferece resultado em 15 minutos e pode ser aplicado em áreas remotas, e um exame do tipo ELISA, para análise em infraestrutura laboratorial. 

Teste rápido para doença de Chagas crônica pode ser aplicado em áreas remotas, oferecendo resultado em cerca de 15 minutos. Foto: Divulgação

A doença de Chagas é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi. A forma crônica do agravo, que se desenvolve após anos de infecção silenciosa, atinge entre 2 milhões e 4,9 milhões de pessoas no Brasil, segundo estimativa do Ministério da Saúde. A maioria dos infectados não sabe que é portador do T. cruzi

Os novos testes foram desenvolvidos a partir de uma tecnologia inovadora, que tem registro de patente solicitado pela Fiocruz. Para chegar aos produtos, foram mais de dez anos de pesquisas, com colaboração de cientistas de três unidades da Fiocruz: IOC, CDTS e Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). 

Para os autores do trabalho, a premiação coroa o esforço científico voltado para a saúde pública. 

“Ficamos muito felizes com o reconhecimento nesta premiação, que destaca pesquisas que impulsionam a saúde pública do Brasil. Os testes foram desenvolvidos para ampliar o acesso ao diagnóstico da doença de Chagas crônica e têm o potencial de reduzir custos para o SUS [Sistema Único de Saúde]”, comemorou Evandro, que segue atuando no projeto como pesquisador de pós-doutorado em Bio-Manguinhos. 

Um diferencial dos exames foi o ótimo desempenho observado em ensaios na região amazônica, onde testes comerciais frequentemente apresentam resultados inconclusivos. 

“Este projeto buscou resolver um desafio tecnológico para o diagnóstico da doença de Chagas crônica na Amazônia, pensando nos pacientes que vivem nessa região, para oferecer o cuidado adequado a essas pessoas”, declarou Angela. 

“Desde o começo, aceitamos o desafio de desenvolver os testes tendo em vista a produção industrial para fornecimento ao SUS. Tenho muito orgulho desse projeto, que uniu IOC, CDTS e Bio-Manguinhos com esse objetivo”, afirmou David. 

O projeto contou com bolsa de doutorado concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e financiamentos do Programa Inova Fiocruz e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) através do Instituto Nacional Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças de Populações Negligenciadas (INCT-IDPN).    

A pesquisa também teve apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Barcelos (Semsa-Barcelos) e do Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Negro (DSEI-ARN).  

A partir da esquerda: Angela Junqueira, Evandro da Rocha Dias, Andressa da Matta Durans e David William Provance Junior. Pesquisadores ressaltam importância da cooperação entre unidades da Fiocruz no desenvolvimento tecnológico. Foto: Rudson Amorim
 

Alto desempenho 

Os ensaios laboratoriais realizados mostraram sensibilidade de 94% para o ELISA e 95% para o teste rápido, sinalizando alto potencial para identificar a doença de Chagas crônica, inclusive na Região Norte. A especificidade ficou em aproximadamente 99% para o ELISA e 96% para o teste rápido, o que representa baixo percentual de resultados falso-positivos. 

Foram utilizadas amostras consideradas como padrão de referência pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, os testes foram avaliados no diagnóstico de amostras provenientes de cinco estados: Amazonas, Ceará, Maranhão, Paraíba e Sergipe. 

Os testes rápidos também foram aplicados no município de Barcelos, no Amazonas, em comunidades ribeirinhas, em embarcações ancoradas às margens do Rio Negro e no hospital geral da cidade.  

“Desafiamos os testes com amostras de vários estados para ter uma real avaliação do seu desempenho, considerando que existem variações regionais sutis entre os parasitos da doença de Chagas, que podem impactar no desempenho dos exames de diagnóstico”, destacou o coordenador do Departamento de Desenvolvimento de Reativos para Diagnóstico de Bio-Manguinhos, Edimilson Domingos da Silva.  

Tendo em vista o bom desempenho dos protótipos, Bio-Manguinhos deve solicitar o registro dos produtos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre de 2026. 

Desafio no diagnóstico 

As dificuldades no diagnóstico da doença de Chagas crônica, especialmente na Amazônia, motivaram o desenvolvimento tecnológico. 

A infecção faz parte do grupo de doenças negligenciadas, que atingem principalmente populações pobres e vulneráveis e quase não recebem atenção e financiamento da indústria farmacêutica e da saúde pública. 

Mais de cem anos depois da descoberta do agravo, ainda não existe um método considerado como padrão ouro para diagnosticar a forma crônica da doença de Chagas, que pode causar problemas graves no coração e sistema digestivo. 

Na ausência de um teste mais confiável, é necessário fazer dois exames. Se ambos tiverem resultado positivo ou negativo, a infecção é confirmada ou descartada. Porém, se os resultados forem divergentes, o diagnóstico é inconclusivo, gerando necessidade de um terceiro teste. 

O problema é mais frequente na região amazônica. Nas análises feitas por Evandro, os testes comerciais foram inconclusivos em 20% dos casos de Barcelos, em linha com o observado em outras pesquisas.  

Os pesquisadores ressaltam o impacto desse problema. Atuando em pesquisas sobre Chagas na Amazônia desde os anos 1990, Angela observa que muitos moradores do Alto Rio Negro precisam viajar dias de barco para chegar a uma unidade de saúde. 

“Na logística da Amazônia, quando há um resultado inconclusivo, é difícil o paciente retornar para novo exame. Ter um teste eficaz, principalmente um teste rápido, que pode ser aplicado em áreas remotas, é fundamental para essa população”, enfatizou a pesquisadora. “A melhoria no diagnóstico também representa economia para o SUS, reduzindo o gasto com exames inconclusivos”, acrescentou Evandro. 

Inovação tecnológica 

Os cientistas da Fiocruz uniram esforços para enfrentar o problema em 2014. Angela apresentou a questão a David, que trabalha com uma abordagem inovadora para o desenvolvimento de testes diagnósticos: a criação de proteínas recombinantes. 

Estas moléculas são produzidas utilizando células programadas por engenharia genética, o que permite combinar seguimentos de diferentes proteínas em busca da estrutura mais favorável para detectar anticorpos contra o T. cruzi.  

Em 2018, a primeira versão da proteína para diagnóstico da doença de Chagas foi apresentada na tese de Andressa da Matta Durans, realizada na Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, com orientação de Angela e David.  

A partir de metodologia com registro de patente solicitado pela Fiocruz, o trabalho produziu uma proteína sofisticada: uma molécula que apresenta dez fragmentos de diferentes proteínas do T. cruzi.  

Evandro deu continuidade ao projeto. Em sua tese, foram feitos ajustes na proteína, produzidos protótipos dos testes e realizados ensaios para avaliação dos exames.  

“A inovação tecnológica foi importante para produzir uma proteína que detecta especificamente anticorpos contra doença de Chagas, sem reações cruzadas apesar da semelhança do T. cruzi com parasitos causadores de leishmanioses e outras doenças”, salientou David.  

A parceria com Bio-Manguinhos foi estabelecida em 2022 para fabricação dos exames em moldes industriais. Além da relevância no contexto da doença de Chagas, o projeto contribuiu para introduzir a tecnologia de proteínas recombinantes na unidade.  

“Houve uma sinergia muito grande nesse projeto. Passamos a ter o domínio completo dessa tecnologia, o que facilita o desenvolvimento e produção de testes para diagnóstico de diversas doenças”, ressaltou Edimilson. 

Sobre a doença de Chagas 

A transmissão da doença de Chagas está ligada a insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros. Os vetores infectados liberam o T. cruzi nas suas fezes. Como o barbeiro defeca após picar as pessoas, o parasito pode ser introduzido na ferida causada pela picada, contaminando os indivíduos. A infecção também pode ser transmitida por alimentos contaminados com fezes de barbeiros, como por exemplo açaí, bacaba e caldo de cana.  

Logo após o contágio, na chamada fase aguda do agravo, os pacientes podem apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, fraqueza e inchaço no rosto e nas pernas. Nesta fase, o diagnóstico é feito pela detecção do parasito no sangue. O IOC também vem atuando para aprimorar este processo

No entanto, muitas vezes, os casos agudos são assintomáticos ou passam despercebidos. Sem tratamento, os indivíduos permanecem infectados pelo T. cruzi, desenvolvendo a forma crônica da doença de Chagas. Após décadas de infecção silenciosa, cerca de 30% dos pacientes apresentam problemas do coração e aproximadamente 10% desenvolvem lesões digestivas. 

O diagnóstico da infecção crônica é fundamental para o acesso ao tratamento, que varia de acordo com o quadro clínico, podendo incluir medicamentos contra o T. cruzi e medidas para controlar os problemas cardíacos e digestivos. 

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)