Desde o final de abril, o estado do Rio Grande do Sul enfrenta os impactos da tragédia causada por severas enchentes que causaram mortes e deixaram milhares de pessoas sem ter onde morar. Dados divulgados pelo Governo Federal apontam que, atualmente, mais de 35 mil pessoas estão em abrigos temporários.
A aglomeração nesses ambientes deve ser acompanhada de perto pelas autoridades de saúde, pois possibilita a circulação de vírus respiratórios, gastrointestinais e verminoses.
Outra ocorrência bastante comum e que deve estar no radar dos profissionais da saúde e voluntários é a dispersão da pediculose (infestação por piolhos).
“Piolhos têm grande impacto na saúde pública, especialmente durante e após emergências. Sempre que pessoas precisam ficar em abrigos, surgem pequenos surtos”, alerta Júlio Vianna Barbosa, biólogo e pesquisador do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Antigo conhecido da humanidade, o piolho é um inseto parasito que vive no cabelo. Sem asas e com pernas incapazes de saltar, sua transmissão se dá pelo contato direto ou pelo compartilhamento de itens pessoais, como bonés, escovas de cabelo e travesseiros.
O primeiro sintoma da pediculose é a intensa irritação atrás da orelha e na nuca, onde esses insetos costumam ficar concentrados por serem regiões quentes e úmidas. A coceira é proveniente da reação do organismo à picada do piolho para se alimentar de sangue.
“Além de combater a pediculose, é fundamental passar informação correta para combater o estigma. Qualquer pessoa pode pegar piolho, independentemente de gênero, etnia, higiene ou condição financeira”, enfatiza Júlio Barbosa.
Para dúvidas em relação à infestação por piolhos, o Instituto disponibiliza o Serviço de Fale Conosco, um canal de atendimento direto ao cidadão, no qual perguntas podem ser enviadas por meio de formulário eletrônico e serão respondidas por especialistas da área.
Confira abaixo entrevista com o especialista do IOC, que há mais de vinte anos atua na divulgação científica sobre piolhos:
• Por que os abrigos temporários são vulneráveis a infestações por piolhos?
A transmissão de ‘piolhos de cabeça’ ocorre primariamente por contato direto, quando há muita proximidade. Nos abrigos, há grande concentração de pessoas dormindo no mesmo ambiente e compartilhando itens pessoais, como vestimentas (boné, lenço, cachecol), roupas de cama (lençol, fronhas, cobertores) e banho (toalhas), além de objetos de higiene e beleza (pente comum e escova). É similar ao que acontece em escolas, onde alguma criança contrai piolho e acaba transmitindo para colegas de sala devido à proximidade e contato físico, já que brincam juntas e compartilham itens pessoais.
• A infestação de piolho está relacionada à falta de higiene?
A infestação por piolho não está relacionada à falta de higiene, condição financeira ou comportamento. Qualquer pessoa pode ter piolho, independentemente de gênero, etnia, higiene ou renda familiar. Uma pessoa que lava a cabeça todos os dias, por exemplo, também está sujeita à pediculose.
• Existe alguma forma de prevenir piolho em abrigos?
A principal recomendação é não compartilhar itens de uso pessoal. No entanto, em situações pós-catástrofes isso nem sempre é possível, já que muitas pessoas dependem de doações. Por isso, é fundamental que os responsáveis pelos abrigos fervam as roupas que chegarem por meio de doações para evitar a transmissão de parasitos, como piolho e sarna.
No âmbito individual, o uso diário de pente fino, preferencialmente de aço, é a melhor forma de tratar e prevenir a infestação de piolho. O uso de vinagre diluído em água — em proporções iguais — ajuda na remoção das lêndeas (como são popularmente chamados os ovos do piolho).
O ideal seria que, nessas situações de calamidade, os serviços de saúde pública distribuíssem pentes fino para a população desalojada e os responsáveis pelos abrigos promovessem mutirões para garantir o uso do pente.
• Quais são os tratamentos mais recomendados para pediculose?
Usar pente fino todos os dias é a ação mais eficaz, principalmente o de aço por causa da sua durabilidade e melhor higienização (podendo ser fervido para uso coletivo), além de ser mais eficiente na remoção das lêndeas.
Caso não tenha acesso ao pente de aço, o modelo de plástico também é eficaz, desde que os ‘dentes’ do pente não estejam danificados e a higienização após o uso seja feita corretamente com água e sabão.
Como complemento, a solução de vinagre e água (um copo de vinagre para um copo de água) ajuda a remover as lêndeas ao romper a proteína que as prende aos fios do cabelo.
• Como o pente fino deve ser usado? Funciona para todos os tipos de cabelo?
Deve-se criar o hábito de usar o pente fino todos os dias, desde o couro cabeludo até o final do comprimento do cabelo. Ele funciona em todos os tipos de cabelo, podendo ser passado nos fios com auxílio de creme ou condicionador.
• Depois de remover o piolho, como o inseto deve ser morto e descartado?
Após passar o pente fino, os piolhos e lêndeas retirados devem ser colocados em um recipiente de vidro com álcool líquido (teor 70%) ou na solução de vinagre. Eles não resistirão e irão morrer. Depois devem ser descartados em vasos sanitários. Outra estratégia é usar o pente fino durante o banho para que os insetos sejam levados junto com a água corrente, que também ocasionará a morte do inseto.
• Existe medicamentos contra os piolhos?
Medicamentos de via oral podem não ser a melhor solução, pois, embora matem os piolhos quando forem se alimentar de sangue, não eliminam as lêndeas (que são os ovos). A pessoa fica sujeita a nova infestação. Além disso, o uso prolongado desses medicamentos pode causar efeitos colaterais, como comprometimento do fígado. Portanto, o uso do pente fino é a solução mais simples e eficaz para a remoção completa dos piolhos.
• Quais os riscos de utilizar tratamentos caseiros para combater piolhos?
Não deve ser utilizado nenhum produto sem a orientação de profissionais da área da saúde. É muito fácil encontrar por aí recomendações erradas, como o uso de venenos e inseticidas, que não são eficazes e podem ser extremamente tóxicos, podendo inclusive levar à morte. Novamente, a solução mais eficaz e barata continua sendo o uso do pente fino.
• Quais são os tipos de piolho?
Existem três tipos de piolho: de cabeça (piolho), de corpo (muquirana) e da região pubiana (chato). Apesar de estarem concentrados em regiões específicas nos corpos, eles podem transitar em diversas regiões. Vale destacar que o piolho de corpo é transmitido pelo compartilhamento de roupas. assim como ocorre com a sarna, pois a fêmea do inseto pode depositar seus ovos nesses objetos. Por isso, a importância de lavar e/ou ferver itens recebidos em doações.
Desde o final de abril, o estado do Rio Grande do Sul enfrenta os impactos da tragédia causada por severas enchentes que causaram mortes e deixaram milhares de pessoas sem ter onde morar. Dados divulgados pelo Governo Federal apontam que, atualmente, mais de 35 mil pessoas estão em abrigos temporários.
A aglomeração nesses ambientes deve ser acompanhada de perto pelas autoridades de saúde, pois possibilita a circulação de vírus respiratórios, gastrointestinais e verminoses.
Outra ocorrência bastante comum e que deve estar no radar dos profissionais da saúde e voluntários é a dispersão da pediculose (infestação por piolhos).
“Piolhos têm grande impacto na saúde pública, especialmente durante e após emergências. Sempre que pessoas precisam ficar em abrigos, surgem pequenos surtos”, alerta Júlio Vianna Barbosa, biólogo e pesquisador do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Antigo conhecido da humanidade, o piolho é um inseto parasito que vive no cabelo. Sem asas e com pernas incapazes de saltar, sua transmissão se dá pelo contato direto ou pelo compartilhamento de itens pessoais, como bonés, escovas de cabelo e travesseiros.
Vídeo produzido pelo IOC traz várias orientações sobre piolho
O primeiro sintoma da pediculose é a intensa irritação atrás da orelha e na nuca, onde esses insetos costumam ficar concentrados por serem regiões quentes e úmidas. A coceira é proveniente da reação do organismo à picada do piolho para se alimentar de sangue.
“Além de combater a pediculose, é fundamental passar informação correta para combater o estigma. Qualquer pessoa pode pegar piolho, independentemente de gênero, etnia, higiene ou condição financeira”, enfatiza Júlio Barbosa.
Para dúvidas em relação à infestação por piolhos, o Instituto disponibiliza o Serviço de Fale Conosco, um canal de atendimento direto ao cidadão, no qual perguntas podem ser enviadas por meio de formulário eletrônico e serão respondidas por especialistas da área.
Confira abaixo entrevista com o especialista do IOC, que há mais de vinte anos atua na divulgação científica sobre piolhos:
• Por que os abrigos temporários são vulneráveis a infestações por piolhos?
A transmissão de ‘piolhos de cabeça’ ocorre primariamente por contato direto, quando há muita proximidade. Nos abrigos, há grande concentração de pessoas dormindo no mesmo ambiente e compartilhando itens pessoais, como vestimentas (boné, lenço, cachecol), roupas de cama (lençol, fronhas, cobertores) e banho (toalhas), além de objetos de higiene e beleza (pente comum e escova). É similar ao que acontece em escolas, onde alguma criança contrai piolho e acaba transmitindo para colegas de sala devido à proximidade e contato físico, já que brincam juntas e compartilham itens pessoais.
• A infestação de piolho está relacionada à falta de higiene?
A infestação por piolho não está relacionada à falta de higiene, condição financeira ou comportamento. Qualquer pessoa pode ter piolho, independentemente de gênero, etnia, higiene ou renda familiar. Uma pessoa que lava a cabeça todos os dias, por exemplo, também está sujeita à pediculose.
• Existe alguma forma de prevenir piolho em abrigos?
A principal recomendação é não compartilhar itens de uso pessoal. No entanto, em situações pós-catástrofes isso nem sempre é possível, já que muitas pessoas dependem de doações. Por isso, é fundamental que os responsáveis pelos abrigos fervam as roupas que chegarem por meio de doações para evitar a transmissão de parasitos, como piolho e sarna.
No âmbito individual, o uso diário de pente fino, preferencialmente de aço, é a melhor forma de tratar e prevenir a infestação de piolho. O uso de vinagre diluído em água — em proporções iguais — ajuda na remoção das lêndeas (como são popularmente chamados os ovos do piolho).
O ideal seria que, nessas situações de calamidade, os serviços de saúde pública distribuíssem pentes fino para a população desalojada e os responsáveis pelos abrigos promovessem mutirões para garantir o uso do pente.
• Quais são os tratamentos mais recomendados para pediculose?
Usar pente fino todos os dias é a ação mais eficaz, principalmente o de aço por causa da sua durabilidade e melhor higienização (podendo ser fervido para uso coletivo), além de ser mais eficiente na remoção das lêndeas.
Caso não tenha acesso ao pente de aço, o modelo de plástico também é eficaz, desde que os ‘dentes’ do pente não estejam danificados e a higienização após o uso seja feita corretamente com água e sabão.
Como complemento, a solução de vinagre e água (um copo de vinagre para um copo de água) ajuda a remover as lêndeas ao romper a proteína que as prende aos fios do cabelo.
• Como o pente fino deve ser usado? Funciona para todos os tipos de cabelo?
Deve-se criar o hábito de usar o pente fino todos os dias, desde o couro cabeludo até o final do comprimento do cabelo. Ele funciona em todos os tipos de cabelo, podendo ser passado nos fios com auxílio de creme ou condicionador.
• Depois de remover o piolho, como o inseto deve ser morto e descartado?
Após passar o pente fino, os piolhos e lêndeas retirados devem ser colocados em um recipiente de vidro com álcool líquido (teor 70%) ou na solução de vinagre. Eles não resistirão e irão morrer. Depois devem ser descartados em vasos sanitários. Outra estratégia é usar o pente fino durante o banho para que os insetos sejam levados junto com a água corrente, que também ocasionará a morte do inseto.
• Existe medicamentos contra os piolhos?
Medicamentos de via oral podem não ser a melhor solução, pois, embora matem os piolhos quando forem se alimentar de sangue, não eliminam as lêndeas (que são os ovos). A pessoa fica sujeita a nova infestação. Além disso, o uso prolongado desses medicamentos pode causar efeitos colaterais, como comprometimento do fígado. Portanto, o uso do pente fino é a solução mais simples e eficaz para a remoção completa dos piolhos.
• Quais os riscos de utilizar tratamentos caseiros para combater piolhos?
Não deve ser utilizado nenhum produto sem a orientação de profissionais da área da saúde. É muito fácil encontrar por aí recomendações erradas, como o uso de venenos e inseticidas, que não são eficazes e podem ser extremamente tóxicos, podendo inclusive levar à morte. Novamente, a solução mais eficaz e barata continua sendo o uso do pente fino.
• Quais são os tipos de piolho?
Existem três tipos de piolho: de cabeça (piolho), de corpo (muquirana) e da região pubiana (chato). Apesar de estarem concentrados em regiões específicas nos corpos, eles podem transitar em diversas regiões. Vale destacar que o piolho de corpo é transmitido pelo compartilhamento de roupas. assim como ocorre com a sarna, pois a fêmea do inseto pode depositar seus ovos nesses objetos. Por isso, a importância de lavar e/ou ferver itens recebidos em doações.
Foto de capa: Coleção de Artrópodes Vetores Ápteros de Importância em Saúde das Comunidades do IOC
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)