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Troca eficaz no diagnóstico da hepatite A

Substituição de anticorpo de mamíferos por similar encontrado em aves e répteis é peça-chave para o desenvolvimento de kits de diagnóstico e imunoterápicos mais baratos para a hepatite A
Por Jornalismo IOC28/01/2013 - Atualizado em 10/12/2019

Substituição de anticorpo de mamíferos por similar encontrado em aves e répteis é peça-chave para o desenvolvimento de kits de diagnóstico e imunoterápicos mais baratos para a hepatite A

O acesso limitado à água potável, ao saneamento e até mesmo à vacina e aos kits de diagnóstico, que possuem alto custo, são alguns dos fatores responsáveis por manter em cerca um milhão e meio o índice de novos casos de hepatite A por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a meta de oferecer ferramentas de diagnóstico mais acessíveis, pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) adaptaram um teste imunoenzimático mais simples, mais barato e bioético. O segredo está na substituição do anticorpo específico utilizado no insumo – a imunoglobulina G (IgG), obtida a partir de mamíferos imunizados – pela imunoglobulina Y (IgY), sua correspondente nas aves e répteis. A estratégia já foi concluída e o processo de validação está em andamento. Em curto prazo, o teste poderá ser empregado em estudos de prevalência ou mesmo para seleção de indivíduos que necessitam ser vacinados contra hepatite A.

Arquivo IOC

A quantidade de anticorpos presente em uma gema de ovo é três vezes maior do que a encontrada no volume correspondente de soro de coelho, animal comumente usado para este fim

A inovação é fruto da dissertação de mestrado de Alexandre dos Santos da Silva, aluno do programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária do IOC, em parceria com a Escola de Medicina Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso). Os pesquisadores Marcelo Alves Pinto, chefe do Laboratório e co-orientador e Vanessa Salete de Paula, orientadora do estudante, explicam que o insumo de um teste imunoenzimático - também conhecido como ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay) - é formado pelo antígeno e pelo seu anticorpo específico, extraído de um animal previamente vacinado em laboratório, como camundongo ou coelho. Este anticorpo funciona como uma ‘cola’, pois ao se conectar ao antígeno, o mantém preso à placa de titulação, composta por pequenos poços. Quando recebe o soro de uma pessoa infectada, o vírus presente no insumo também se conecta ao anticorpo do paciente, possibilitando, assim, a detecção da doença.        

A IgY pode ser extraída da gema dos ovos de frangas vacinadas contra o agravo. Assim como acontece com os humanos, as aves imunizadas produzem anticorpos anti-vírus da hepatite A e o transferem ativamente para a gema do ovo, processo que se assemelha ao do colostro em mamíferos, já que o embrião se alimenta do mesmo durante seu desenvolvimento. “Mas uma gema tem concentração de anticorpo três vezes maior do que o mesmo volume de soro de coelho, animal comumente usado para este fim. Além disso, a extração da IgY poupa a ave de qualquer stress”, explica Alves.

Mais produtividade, menos sofrimento

A produção da IgG, anticorpo homólogo ao humano utilizado nos insumos disponíveis no mercado, exige procedimentos invasivos para os animais, como a retirada de sangue de coelhos e camundongos vacinados. “A bioética norteou nossa busca, que resultou em um processo mais produtivo, e que reduz o seu custo”, diz o co-orientador do estudo.

Gutemberg Brito

A nova estratégia nasceu no Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC, fruto de uma dissertação de mestrado


Para a avaliação inicial do novo insumo, foram realizados testes com 100 amostras de soro positivas para o vírus da hepatite A (HAV) e 81 negativas, coletadas na cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro, durante um surto ocorrido em 2009. O resultado, publicado na edição de novembro da Revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), aponta que o teste tem especificidade e sensibilidade acima dos 95% - níveis considerados ideais para kits imunoenzimáticos.

Parcerias para um novo desafio

A equipe liderada por Marcelo Alves Pinto se dedica agora ao desenvolvimento de novos imunoterápicos a base de IgY, que podem ser utilizados para o tratamento de infecções. No rol de doenças a serem combatidas estão viroses de transmissão entérica, como as hepatites tipos A e E, além de gastroenterites, como as causadas por rotavírus, adenovírus e norovírus.

Gutemberg Brito

O pesquisador mantém parcerias com laboratórios de dentro e de fora da Fiocruz para o desenvolvimento de novas estratégicas baseadas na imunoglobulina Y

Para estes três últimos, os pesquisadores buscam desenvolver um imunoterápico de administração oral. “Nas gastroenterites, a replicação do vírus ocorre apenas na mucosa intestinal e, por isso, é possível neutralizá-los no próprio trato digestivo com uma cápsula ou solução”, explica Alves. Na nossa hipótese, em casos de surto, a transmissão também poderá ser interrompida porque, uma vez neutralizadas, as partículas de vírus secretadas nas fezes do paciente deixam de ser infecciosas. O Laboratório de Virologia Ambiental e Comparada do IOC, com os pesquisadores José Paulo Gagliardi e Eduardo de Melo Volotão, especialistas em rotavírus, atuam como parceiros do projeto e também como co-orientadores do doutorando Gentil Bentes e a mestranda Juliana Guimarães, ambos do curso de pós- graduação em Biologia Parasitária. Para teste da IgY como imunoterápico o grupo de pesquisadores estabeleceram o macaco cinomolgos (Macaca fascicularis) como modelo experimental para a infecção pelo rotavírus humano (trabalho em fase final de realização). O desafio está programado para janeiro/fevereiro de 2013, nesta etapa a IgY será administrada nos macacos cinomolgos infectados com rotavírus humano. Comprovada sua eficácia, os pesquisadores estimam que a estratégia de imunoterapia poderia ser disponibilizada em cinco anos. 

Já no caso da hepatite A, em que quadros agudos e fulminantes são marcados por intensa replicação viral na corrente sanguínea, o grupo conta com a colaboração do pesquisador Jacob Pitcovisk, um dos cabeças do Instituto Tecnológico Galileu (MIGAL), de Israel. O objetivo dos parceiros é “encapar” a imunoglobulina uma molécula denominada mannosamine-biotin, que possui função proteger a IgY de um ‘ataque’ dos anticorpos produzidos pelo próprio paciente, aumentando o tempo de atividade do mesmo no organismo. “Este é um problema recorrente na imunoterapia. Esperamos que, com a molécula conjugada, a IgY fique disponível o suficiente para neutralizar o vírus na circulação”, ressalta.

Sobre a hepatite A

Transmitido pela ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes de uma pessoa infectada, o vírus da hepatite A causa uma doença aguda que, ao contrário das hepatites tipos B e C, não evolui para a forma crônica e tampouco deixa sequelas. Ainda não existe tratamento específico para o vírus, apenas medidas de controle dos sintomas. Devido à dificuldade de replicar o HAV em laboratório, a produção do antígeno para elaboração de vacina demanda tecnologias protegidas por patente, o que encarece seu custo. Como é uma doença mediada pelo sistema imunológico, os sintomas costumam ser mais severos quando a infecção ocorre a partir da adolescência, época em que a imunidade está em vias de atingir a maturidade.

Já nas crianças, são comuns os quadros leves ou assintomáticos. A hepatite A fulminante é desenvolvida em 0,1% dos casos e pode levar à morte ou à necessidade de transplante de fígado. No Brasil, a vacina é gratuita apenas para alguns grupos de risco, como portadores de doenças hepáticas, autoimunes ou pessoas vivendo com Aids.

Isadora Marinho
28/01/2013

Substituição de anticorpo de mamíferos por similar encontrado em aves e répteis é peça-chave para o desenvolvimento de kits de diagnóstico e imunoterápicos mais baratos para a hepatite A
Por: 
jornalismo

Substituição de anticorpo de mamíferos por similar encontrado em aves e répteis é peça-chave para o desenvolvimento de kits de diagnóstico e imunoterápicos mais baratos para a hepatite A

O acesso limitado à água potável, ao saneamento e até mesmo à vacina e aos kits de diagnóstico, que possuem alto custo, são alguns dos fatores responsáveis por manter em cerca um milhão e meio o índice de novos casos de hepatite A por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a meta de oferecer ferramentas de diagnóstico mais acessíveis, pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) adaptaram um teste imunoenzimático mais simples, mais barato e bioético. O segredo está na substituição do anticorpo específico utilizado no insumo – a imunoglobulina G (IgG), obtida a partir de mamíferos imunizados – pela imunoglobulina Y (IgY), sua correspondente nas aves e répteis. A estratégia já foi concluída e o processo de validação está em andamento. Em curto prazo, o teste poderá ser empregado em estudos de prevalência ou mesmo para seleção de indivíduos que necessitam ser vacinados contra hepatite A.

Arquivo IOC

A quantidade de anticorpos presente em uma gema de ovo é três vezes maior do que a encontrada no volume correspondente de soro de coelho, animal comumente usado para este fim

A inovação é fruto da dissertação de mestrado de Alexandre dos Santos da Silva, aluno do programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária do IOC, em parceria com a Escola de Medicina Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso). Os pesquisadores Marcelo Alves Pinto, chefe do Laboratório e co-orientador e Vanessa Salete de Paula, orientadora do estudante, explicam que o insumo de um teste imunoenzimático - também conhecido como ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay) - é formado pelo antígeno e pelo seu anticorpo específico, extraído de um animal previamente vacinado em laboratório, como camundongo ou coelho. Este anticorpo funciona como uma ‘cola’, pois ao se conectar ao antígeno, o mantém preso à placa de titulação, composta por pequenos poços. Quando recebe o soro de uma pessoa infectada, o vírus presente no insumo também se conecta ao anticorpo do paciente, possibilitando, assim, a detecção da doença.        

A IgY pode ser extraída da gema dos ovos de frangas vacinadas contra o agravo. Assim como acontece com os humanos, as aves imunizadas produzem anticorpos anti-vírus da hepatite A e o transferem ativamente para a gema do ovo, processo que se assemelha ao do colostro em mamíferos, já que o embrião se alimenta do mesmo durante seu desenvolvimento. “Mas uma gema tem concentração de anticorpo três vezes maior do que o mesmo volume de soro de coelho, animal comumente usado para este fim. Além disso, a extração da IgY poupa a ave de qualquer stress”, explica Alves.

Mais produtividade, menos sofrimento

A produção da IgG, anticorpo homólogo ao humano utilizado nos insumos disponíveis no mercado, exige procedimentos invasivos para os animais, como a retirada de sangue de coelhos e camundongos vacinados. “A bioética norteou nossa busca, que resultou em um processo mais produtivo, e que reduz o seu custo”, diz o co-orientador do estudo.

Gutemberg Brito

A nova estratégia nasceu no Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC, fruto de uma dissertação de mestrado



Para a avaliação inicial do novo insumo, foram realizados testes com 100 amostras de soro positivas para o vírus da hepatite A (HAV) e 81 negativas, coletadas na cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro, durante um surto ocorrido em 2009. O resultado, publicado na edição de novembro da Revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), aponta que o teste tem especificidade e sensibilidade acima dos 95% - níveis considerados ideais para kits imunoenzimáticos.

Parcerias para um novo desafio

A equipe liderada por Marcelo Alves Pinto se dedica agora ao desenvolvimento de novos imunoterápicos a base de IgY, que podem ser utilizados para o tratamento de infecções. No rol de doenças a serem combatidas estão viroses de transmissão entérica, como as hepatites tipos A e E, além de gastroenterites, como as causadas por rotavírus, adenovírus e norovírus.

Gutemberg Brito

O pesquisador mantém parcerias com laboratórios de dentro e de fora da Fiocruz para o desenvolvimento de novas estratégicas baseadas na imunoglobulina Y

Para estes três últimos, os pesquisadores buscam desenvolver um imunoterápico de administração oral. “Nas gastroenterites, a replicação do vírus ocorre apenas na mucosa intestinal e, por isso, é possível neutralizá-los no próprio trato digestivo com uma cápsula ou solução”, explica Alves. Na nossa hipótese, em casos de surto, a transmissão também poderá ser interrompida porque, uma vez neutralizadas, as partículas de vírus secretadas nas fezes do paciente deixam de ser infecciosas. O Laboratório de Virologia Ambiental e Comparada do IOC, com os pesquisadores José Paulo Gagliardi e Eduardo de Melo Volotão, especialistas em rotavírus, atuam como parceiros do projeto e também como co-orientadores do doutorando Gentil Bentes e a mestranda Juliana Guimarães, ambos do curso de pós- graduação em Biologia Parasitária. Para teste da IgY como imunoterápico o grupo de pesquisadores estabeleceram o macaco cinomolgos (Macaca fascicularis) como modelo experimental para a infecção pelo rotavírus humano (trabalho em fase final de realização). O desafio está programado para janeiro/fevereiro de 2013, nesta etapa a IgY será administrada nos macacos cinomolgos infectados com rotavírus humano. Comprovada sua eficácia, os pesquisadores estimam que a estratégia de imunoterapia poderia ser disponibilizada em cinco anos. 

Já no caso da hepatite A, em que quadros agudos e fulminantes são marcados por intensa replicação viral na corrente sanguínea, o grupo conta com a colaboração do pesquisador Jacob Pitcovisk, um dos cabeças do Instituto Tecnológico Galileu (MIGAL), de Israel. O objetivo dos parceiros é “encapar” a imunoglobulina uma molécula denominada mannosamine-biotin, que possui função proteger a IgY de um ‘ataque’ dos anticorpos produzidos pelo próprio paciente, aumentando o tempo de atividade do mesmo no organismo. “Este é um problema recorrente na imunoterapia. Esperamos que, com a molécula conjugada, a IgY fique disponível o suficiente para neutralizar o vírus na circulação”, ressalta.

Sobre a hepatite A

Transmitido pela ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes de uma pessoa infectada, o vírus da hepatite A causa uma doença aguda que, ao contrário das hepatites tipos B e C, não evolui para a forma crônica e tampouco deixa sequelas. Ainda não existe tratamento específico para o vírus, apenas medidas de controle dos sintomas. Devido à dificuldade de replicar o HAV em laboratório, a produção do antígeno para elaboração de vacina demanda tecnologias protegidas por patente, o que encarece seu custo. Como é uma doença mediada pelo sistema imunológico, os sintomas costumam ser mais severos quando a infecção ocorre a partir da adolescência, época em que a imunidade está em vias de atingir a maturidade.

Já nas crianças, são comuns os quadros leves ou assintomáticos. A hepatite A fulminante é desenvolvida em 0,1% dos casos e pode levar à morte ou à necessidade de transplante de fígado. No Brasil, a vacina é gratuita apenas para alguns grupos de risco, como portadores de doenças hepáticas, autoimunes ou pessoas vivendo com Aids.

Isadora Marinho

28/01/2013

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)