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Dia mundial contra hepatites: Instituto atua em iniciativas para ampliar diagnóstico

Em fase de desenvolvimento, teste molecular rápido inovador pretende fornecer resultado em apenas 30 minutos
Por Yuri Neri e Maíra Menezes28/07/2025 - Atualizado em 04/08/2025

Celebrado em 28 de julho, o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais chama atenção para as infecções do fígado causadas por vírus, que podem provocar quadros agudos de inflamação do órgão ou avançar de forma silenciosa, com risco de problemas graves como cirrose e câncer de fígado.  

Referência para o diagnóstico das hepatites virais junto ao Ministério da Saúde, o Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) desenvolve iniciativas e pesquisas importantes para ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento destes agravos, fortalecer a vigilância e compreender o cenário das infecções no Brasil. 

Um projeto em andamento busca desenvolver testes moleculares rápidos para hepatites virais, capazes de realizar a detecção do genoma de vírus nas amostras em cerca de 30 minutos. A meta é levar para as unidades de saúde uma etapa de diagnóstico que atualmente precisa ser realizada em laboratório. 

Integrando pesquisa e assistência, o Laboratório de Hepatites Virais mantém o Ambulatório de Hepatites Virais, no campus da Fiocruz, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O serviço oferece atendimento de referência municipal e estadual para casos agudos de hepatites e infecções em gestantes. 

Como referência nacional, Laboratório de Hepatites Virais do IOC realiza diversos exames para diagnóstico e acompanhamento de casos de hepatites virais. Foto: Rudson Amorim

Para ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento, a equipe promove ações externas de testagem desde 2023. Realizadas em doze cidades, estas ações alcançaram mais de 3 mil pessoas, principalmente de grupos vulneráveis. Ao todo, mais de 11 mil testes foram aplicados e 575 infecções diagnosticadas, indicando alto índice de prevalência de hepatites nas populações atendidas. 

Além disso, pesquisas recentes do Laboratório de Hepatites Virais apresentam achados que contribuem para o enfrentamento da doença. Entre os estudos, estão trabalhos que abordam a incidência do agravo em comunidades rurais e quilombolas no Piauí, salientando a baixa taxa de vacinação, e a diversidade genética do vírus da hepatite D no Brasil, sugerindo a classificação de um novo subgenótipo. 

Desenvolvimento tecnológico 

Com financiamento do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto para desenvolver testes moleculares rápidos para hepatites tem como base uma metodologia que ganhou destaque durante a pandemia de Covid-19.    

Chamada de amplificação isotérmica mediada por loop (RT-Lamp), a técnica facilita a detecção do genoma viral na comparação com a reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), considerada como padrão-ouro para esse tipo de exame.  

Resultado colorimétrico: nos casos positivos para hepatite, amostra passa de rosa para amarela no teste de RT-Lamp. Foto: Rudson Amorim

A vantagem da RT-Lamp é realizar a amplificação do genoma em temperatura constante, enquanto na RT-PCR são necessários ciclos de aquecimento e resfriamento.  

Chefe do Laboratório de Hepatites Virais do IOC, a virologista Lívia Villar aponta que a RT-Lamp já é usada em testes comerciais para Covid-19, mas ainda não há exames para hepatites baseados na metodologia no Brasil. 

“Estamos na etapa inicial do projeto, realizando ensaios de prova de conceito. Recebemos dois anos de financiamento e, neste prazo, queremos chegar ao protótipo do exame para hepatite C”, detalha Lívia. 

Lívia Villar (no canto, à direita) com parte da equipe do Laboratório de Hepatites Virais do IOC. Foto: Rudson Amorim

O Sistema Único de Saúde (SUS) conta atualmente com testes rápidos para triagem de hepatites B e C, que permitem detectar, em cerca de 30 minutos, a presença de antígenos ou anticorpos. 

Nos casos positivos, é feita a coleta de amostra de sangue para análise molecular em laboratório, através da metodologia de PCR. Essa etapa é necessária para confirmar o diagnóstico e quantificar a carga viral, orientando o tratamento adequado. 

“Os testes rápidos de triagem têm sido uma ferramenta muito importante para ampliar o acesso ao diagnóstico das hepatites. A proposta do teste rápido molecular é facilitar ainda mais esse processo, permitindo confirmar a presença do vírus, na própria unidade de saúde, em cerca de 30 minutos", destaca Lívia.  

Ações de testagem 

Entre setembro 2023 e julho de 2025, equipes do Ambulatório de Hepatites Virais do IOC promoveram 26 ações de testagem para hepatites virais em doze cidades: Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Queimados, Japeri, Paracambi, Maricá, Macaé, Paraty e Angra dos Reis. 

As atividades buscam levar o diagnóstico das hepatites virais até grupos vulneráveis, incluindo pessoas em situação de rua, profissionais do sexo, indivíduos em tratamento de hemodiálise, pacientes psiquiátricos, vítimas de enchentes, indígenas e outros. 

Para alcançar estas populações, a equipe do IOC conta com a parceria de prefeituras, Justiça Federal e Estadual e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Recursos oriundos de emenda parlamentar do deputado federal Paulo Ganime (Novo) também contribuem para custear as ações. 

Testes rápidos para triagem de hepatites B e C, sífilis e hepatites aplicados em ações promovidas pelo Ambulatório de Hepatites Virais. Fotos: Gutemberg Brito

Coordenadora do Ambulatório de Hepatites Virais, a médica Lia Lewis salienta a importância de estratégias para levar o diagnóstico até populações que têm dificuldade de acesso aos serviços de saúde, onde os testes e o tratamento para hepatites estão disponíveis.  

Em alguns eventos, como no Mutirão PopRuaJud, promovido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro, a testagem para hepatites é oferecida juntamente com diversos serviços importantes para pessoas em situação de rua. 

Em outros, como nas ações realizadas nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da Baixada Fluminense, atividades lúdicas e recreativas contribuem para acolher os pacientes e aliviar a tensão do momento do teste. 

Oferta de atendimento médico e odontológico e distribuição de cestas básicas também fazem parte de ações promovidas para atrair os pacientes para a testagem. 

“A hepatite é uma doença silenciosa. Se não houver diagnóstico, ela pode evoluir para cirrose ou câncer de fígado. O diagnóstico e o tratamento estão disponíveis no SUS. Esse é um mérito do nosso país. Mas precisamos alcançar as pessoas que não buscam estes serviços”, ressalta Lia. 

Lia Lewis (ao centro, na fileira da frente) com parte da equipe do Ambulatório de Hepatites Virais, em mutirão para atendimento de pessoas em situação de rua, promovido pela Justiça Federal, em maio, no Centro do Rio. No evento, 329 pessoas foram atendidas pelo serviço de referência. Foto: Acervo

As ações de testagem têm como base a oferta de testes rápidos para triagem de hepatites B e C, HIV e sífilis, seguida por coleta de amostras para confirmação de diagnóstico nos casos positivos. 

O retorno dos resultados para os pacientes e encaminhamento para o tratamento são feitos por equipes de saúde locais, que atuam em parceria com o Ambulatório de Hepatites Virais, ou pela própria equipe do serviço de referência, que volta à localidade para isso. 

Pesquisa científica  

Como Laboratório de Referência Nacional, o Laboratório de Hepatites Virais do IOC realiza testes sorológicos e moleculares para investigação de casos suspeitos e acompanhamento de pacientes crônicos, investiga surtos da doença e casos de resistência a tratamentos.   

Também atua na vigilância genômica, produz painéis de amostras para avaliação da qualidade de diagnósticos, capacita profissionais de saúde, desenvolve tecnologias e realiza pesquisas.   

Um estudo publicado na revista ‘Viruses’ ressalta a importância de reforçar as ações de combate às hepatites entre populações vulneráveis. Investigando a prevalência da doença em comunidades rurais e quilombolas no Piauí, a pesquisa chamou atenção para a baixa taxa de vacinação contra hepatite B. Somente 31% dos indivíduos apresentaram anticorpos induzidos pela vacina, que está disponível no SUS para pessoas de todas as faixas etárias e faz parte do calendário de imunização infantil desde 1992.  

“As hepatites são doenças socialmente determinadas, que atingem mais intensamente pessoas em áreas remotas e em vulnerabilidade socioeconômica. Esse estudo ressalta a necessidade de facilitar o acesso abrangente à vacinação para populações rurais e carentes, para proteger esses indivíduos e atingir a meta de eliminar a hepatite viral como problema de saúde pública até 2030”, destaca Lívia.  

Sequenciamento genético amplia a compreensão sobre dinâmicas de transmissão dos vírus das hepatites. Foto: Rudson Amorim

O trabalho integra pesquisa de mestrado realizada por Aline Cardoso no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, sob orientação da pesquisadora Lívia Villar.  

Liderado pelo Laboratório de Hepatites Virais, o estudo contou com colaboração do Laboratório de Epidemiologia e Sistemática Molecular do IOC, do Instituto de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz) e do Instituto Federal do Piauí (IFPI).   

Outra pesquisa recente contribui para o fortalecimento da vigilância genômica da hepatite D. Também chamada de hepatite delta, esta forma da doença é menos frequente, mas pode ser grave, principalmente porque só ocorre combinada com a hepatite B, uma vez que o vírus delta depende do vírus B para se replicar.  

Publicado na revista ‘Infection, Genetics and Evolution’, o estudo decodificou o genoma completo de 11 vírus da hepatite D (HDV), ampliando significativamente a base de dados sobre o agravo no Brasil, o que contribui para análises sobre as rotas de disseminação do patógeno. 

O trabalho apresentou os primeiros genomas completos dos genótipos 5 e 8 detectados no Brasil, além de nove sequências do genótipo 3.   

Enquanto o HDV-3 é exclusivo da América do Sul, HDV-5 e HDV-8 são genótipos tipicamente africanos. Considerando a variação entre a sequência do HDV-8 decodificada no Brasil e os vírus da África, a pesquisa sugeriu a classificação de um novo subgenótipo deste grupo. 

A pesquisa foi realizada por Giovana Angelice, discente do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC e bolsista nota 10 da Fundação de Amparo à Pesquisa Carlos Chagas Filho do Rio de Janeiro (Faperj). O projeto é orientado pelo pesquisador Francisco Mello, chefe substituto do Laboratório de Hepatites Virais. 

 

*Artigos: 

Lago, B.V.; Cardoso, A.B.; Nascimento, G.P.; Pereira, E.; Oliveira, R.A.; Magalhães, M.d.A.F.M.; Miguel, J.C.; Carvalho-Costa, F.A.; Santos-Malett, J.R.d.; Da Mota, J.C.; et al. Hepatitis A, B, and C in Brazilian Afro-Descendant Communities from Northeast Brazil: A Seroepidemiological Survey. Viruses 2024, 16, 1652. https://doi.org/10.3390/v16111652 

G.P. Angelice, T.M. Barros, V.A. Marques, et al., Exploring genetic diversity of hepatitis D virus full-length genome in Brazil: Discovery of a novel HDV-8 subgenotype beyond African borders, Infection, Genetics and Evolution (2024), https://doi.org/10.1016/j.meegid.2024.105671 

Em fase de desenvolvimento, teste molecular rápido inovador pretende fornecer resultado em apenas 30 minutos
Por: 
yuri.neri
maira

Celebrado em 28 de julho, o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais chama atenção para as infecções do fígado causadas por vírus, que podem provocar quadros agudos de inflamação do órgão ou avançar de forma silenciosa, com risco de problemas graves como cirrose e câncer de fígado.  

Referência para o diagnóstico das hepatites virais junto ao Ministério da Saúde, o Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) desenvolve iniciativas e pesquisas importantes para ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento destes agravos, fortalecer a vigilância e compreender o cenário das infecções no Brasil. 

Um projeto em andamento busca desenvolver testes moleculares rápidos para hepatites virais, capazes de realizar a detecção do genoma de vírus nas amostras em cerca de 30 minutos. A meta é levar para as unidades de saúde uma etapa de diagnóstico que atualmente precisa ser realizada em laboratório. 

Integrando pesquisa e assistência, o Laboratório de Hepatites Virais mantém o Ambulatório de Hepatites Virais, no campus da Fiocruz, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O serviço oferece atendimento de referência municipal e estadual para casos agudos de hepatites e infecções em gestantes. 

Como referência nacional, Laboratório de Hepatites Virais do IOC realiza diversos exames para diagnóstico e acompanhamento de casos de hepatites virais. Foto: Rudson Amorim

Para ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento, a equipe promove ações externas de testagem desde 2023. Realizadas em doze cidades, estas ações alcançaram mais de 3 mil pessoas, principalmente de grupos vulneráveis. Ao todo, mais de 11 mil testes foram aplicados e 575 infecções diagnosticadas, indicando alto índice de prevalência de hepatites nas populações atendidas. 

Além disso, pesquisas recentes do Laboratório de Hepatites Virais apresentam achados que contribuem para o enfrentamento da doença. Entre os estudos, estão trabalhos que abordam a incidência do agravo em comunidades rurais e quilombolas no Piauí, salientando a baixa taxa de vacinação, e a diversidade genética do vírus da hepatite D no Brasil, sugerindo a classificação de um novo subgenótipo. 

Desenvolvimento tecnológico 

Com financiamento do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto para desenvolver testes moleculares rápidos para hepatites tem como base uma metodologia que ganhou destaque durante a pandemia de Covid-19.    

Chamada de amplificação isotérmica mediada por loop (RT-Lamp), a técnica facilita a detecção do genoma viral na comparação com a reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), considerada como padrão-ouro para esse tipo de exame.  

Resultado colorimétrico: nos casos positivos para hepatite, amostra passa de rosa para amarela no teste de RT-Lamp. Foto: Rudson Amorim

A vantagem da RT-Lamp é realizar a amplificação do genoma em temperatura constante, enquanto na RT-PCR são necessários ciclos de aquecimento e resfriamento.  

Chefe do Laboratório de Hepatites Virais do IOC, a virologista Lívia Villar aponta que a RT-Lamp já é usada em testes comerciais para Covid-19, mas ainda não há exames para hepatites baseados na metodologia no Brasil. 

“Estamos na etapa inicial do projeto, realizando ensaios de prova de conceito. Recebemos dois anos de financiamento e, neste prazo, queremos chegar ao protótipo do exame para hepatite C”, detalha Lívia. 

Lívia Villar (no canto, à direita) com parte da equipe do Laboratório de Hepatites Virais do IOC. Foto: Rudson Amorim

O Sistema Único de Saúde (SUS) conta atualmente com testes rápidos para triagem de hepatites B e C, que permitem detectar, em cerca de 30 minutos, a presença de antígenos ou anticorpos. 

Nos casos positivos, é feita a coleta de amostra de sangue para análise molecular em laboratório, através da metodologia de PCR. Essa etapa é necessária para confirmar o diagnóstico e quantificar a carga viral, orientando o tratamento adequado. 

“Os testes rápidos de triagem têm sido uma ferramenta muito importante para ampliar o acesso ao diagnóstico das hepatites. A proposta do teste rápido molecular é facilitar ainda mais esse processo, permitindo confirmar a presença do vírus, na própria unidade de saúde, em cerca de 30 minutos", destaca Lívia.  

Ações de testagem 

Entre setembro 2023 e julho de 2025, equipes do Ambulatório de Hepatites Virais do IOC promoveram 26 ações de testagem para hepatites virais em doze cidades: Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Queimados, Japeri, Paracambi, Maricá, Macaé, Paraty e Angra dos Reis. 

As atividades buscam levar o diagnóstico das hepatites virais até grupos vulneráveis, incluindo pessoas em situação de rua, profissionais do sexo, indivíduos em tratamento de hemodiálise, pacientes psiquiátricos, vítimas de enchentes, indígenas e outros. 

Para alcançar estas populações, a equipe do IOC conta com a parceria de prefeituras, Justiça Federal e Estadual e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Recursos oriundos de emenda parlamentar do deputado federal Paulo Ganime (Novo) também contribuem para custear as ações. 

Testes rápidos para triagem de hepatites B e C, sífilis e hepatites aplicados em ações promovidas pelo Ambulatório de Hepatites Virais. Fotos: Gutemberg Brito

Coordenadora do Ambulatório de Hepatites Virais, a médica Lia Lewis salienta a importância de estratégias para levar o diagnóstico até populações que têm dificuldade de acesso aos serviços de saúde, onde os testes e o tratamento para hepatites estão disponíveis.  

Em alguns eventos, como no Mutirão PopRuaJud, promovido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro, a testagem para hepatites é oferecida juntamente com diversos serviços importantes para pessoas em situação de rua. 

Em outros, como nas ações realizadas nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da Baixada Fluminense, atividades lúdicas e recreativas contribuem para acolher os pacientes e aliviar a tensão do momento do teste. 

Oferta de atendimento médico e odontológico e distribuição de cestas básicas também fazem parte de ações promovidas para atrair os pacientes para a testagem. 

“A hepatite é uma doença silenciosa. Se não houver diagnóstico, ela pode evoluir para cirrose ou câncer de fígado. O diagnóstico e o tratamento estão disponíveis no SUS. Esse é um mérito do nosso país. Mas precisamos alcançar as pessoas que não buscam estes serviços”, ressalta Lia. 

Lia Lewis (ao centro, na fileira da frente) com parte da equipe do Ambulatório de Hepatites Virais, em mutirão para atendimento de pessoas em situação de rua, promovido pela Justiça Federal, em maio, no Centro do Rio. No evento, 329 pessoas foram atendidas pelo serviço de referência. Foto: Acervo

As ações de testagem têm como base a oferta de testes rápidos para triagem de hepatites B e C, HIV e sífilis, seguida por coleta de amostras para confirmação de diagnóstico nos casos positivos. 

O retorno dos resultados para os pacientes e encaminhamento para o tratamento são feitos por equipes de saúde locais, que atuam em parceria com o Ambulatório de Hepatites Virais, ou pela própria equipe do serviço de referência, que volta à localidade para isso. 

Pesquisa científica  

Como Laboratório de Referência Nacional, o Laboratório de Hepatites Virais do IOC realiza testes sorológicos e moleculares para investigação de casos suspeitos e acompanhamento de pacientes crônicos, investiga surtos da doença e casos de resistência a tratamentos.   

Também atua na vigilância genômica, produz painéis de amostras para avaliação da qualidade de diagnósticos, capacita profissionais de saúde, desenvolve tecnologias e realiza pesquisas.   

Um estudo publicado na revista ‘Viruses’ ressalta a importância de reforçar as ações de combate às hepatites entre populações vulneráveis. Investigando a prevalência da doença em comunidades rurais e quilombolas no Piauí, a pesquisa chamou atenção para a baixa taxa de vacinação contra hepatite B. Somente 31% dos indivíduos apresentaram anticorpos induzidos pela vacina, que está disponível no SUS para pessoas de todas as faixas etárias e faz parte do calendário de imunização infantil desde 1992.  

“As hepatites são doenças socialmente determinadas, que atingem mais intensamente pessoas em áreas remotas e em vulnerabilidade socioeconômica. Esse estudo ressalta a necessidade de facilitar o acesso abrangente à vacinação para populações rurais e carentes, para proteger esses indivíduos e atingir a meta de eliminar a hepatite viral como problema de saúde pública até 2030”, destaca Lívia.  

Sequenciamento genético amplia a compreensão sobre dinâmicas de transmissão dos vírus das hepatites. Foto: Rudson Amorim

O trabalho integra pesquisa de mestrado realizada por Aline Cardoso no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, sob orientação da pesquisadora Lívia Villar.  

Liderado pelo Laboratório de Hepatites Virais, o estudo contou com colaboração do Laboratório de Epidemiologia e Sistemática Molecular do IOC, do Instituto de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz) e do Instituto Federal do Piauí (IFPI).   

Outra pesquisa recente contribui para o fortalecimento da vigilância genômica da hepatite D. Também chamada de hepatite delta, esta forma da doença é menos frequente, mas pode ser grave, principalmente porque só ocorre combinada com a hepatite B, uma vez que o vírus delta depende do vírus B para se replicar.  

Publicado na revista ‘Infection, Genetics and Evolution’, o estudo decodificou o genoma completo de 11 vírus da hepatite D (HDV), ampliando significativamente a base de dados sobre o agravo no Brasil, o que contribui para análises sobre as rotas de disseminação do patógeno. 

O trabalho apresentou os primeiros genomas completos dos genótipos 5 e 8 detectados no Brasil, além de nove sequências do genótipo 3.   

Enquanto o HDV-3 é exclusivo da América do Sul, HDV-5 e HDV-8 são genótipos tipicamente africanos. Considerando a variação entre a sequência do HDV-8 decodificada no Brasil e os vírus da África, a pesquisa sugeriu a classificação de um novo subgenótipo deste grupo. 

A pesquisa foi realizada por Giovana Angelice, discente do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC e bolsista nota 10 da Fundação de Amparo à Pesquisa Carlos Chagas Filho do Rio de Janeiro (Faperj). O projeto é orientado pelo pesquisador Francisco Mello, chefe substituto do Laboratório de Hepatites Virais. 

 

*Artigos: 

Lago, B.V.; Cardoso, A.B.; Nascimento, G.P.; Pereira, E.; Oliveira, R.A.; Magalhães, M.d.A.F.M.; Miguel, J.C.; Carvalho-Costa, F.A.; Santos-Malett, J.R.d.; Da Mota, J.C.; et al. Hepatitis A, B, and C in Brazilian Afro-Descendant Communities from Northeast Brazil: A Seroepidemiological Survey. Viruses 2024, 16, 1652. https://doi.org/10.3390/v16111652 

G.P. Angelice, T.M. Barros, V.A. Marques, et al., Exploring genetic diversity of hepatitis D virus full-length genome in Brazil: Discovery of a novel HDV-8 subgenotype beyond African borders, Infection, Genetics and Evolution (2024), https://doi.org/10.1016/j.meegid.2024.105671 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)