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O legado de Milton Ozório Moraes na ciência, na saúde e nas pessoas

Simpósio abordou impacto do cientista no combate à hanseníase e na formação de recursos humanos
Por Maíra Menezes12/08/2025 - Atualizado em 28/08/2025
 
Integrantes do Laboratório de Hanseníase, militantes do Morhan, colaboradores, alunos e familiares de Milton Moraes participaram do evento. Foto: Rudson Amorim 

O legado do pesquisador Milton Ozório Moraes, um dos maiores estudiosos em fisiopatologia da hanseníase, falecido precocemente em 2022, foi destacado no terceiro dia do ‘Simpósio IOC Jubileu 125 anos - 2º ato’. 

Realizado no dia 7 de agosto, integrando o evento comemorativo, o ‘1º Simpósio Milton Ozório Moraes: desvendando a genômica e a genética epidemiológica das micobactérias’ abordou o impacto da atuação do pesquisador para a ciência, a saúde e a formação de recursos humanos.

Assista na íntegra:

Na mesa de abertura, representantes do IOC, da Fiocruz e do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) exaltaram a memória do cientista e apontaram que seu legado permanece vivo em inovações que contribuem para o enfrentamento da hanseníase, na atuação de jovens cientistas formados por ele e nas ações do IOC e da Fiocruz. 

A chefe do Laboratório de Hansneíase do IOC, Roberta Olmo, destacou o papel de Milton na trajetória do Laboratório, que é referência para o Ministério da Saúde e mantém um ambulatório para atendimento à população. Em mais de 20 anos, Milton atuou como aluno, pesquisador e chefe na unidade. 

“Desde o começo, Milton fez grandes contribuições científicas até chegar em aportes muito significativos para o SUS, que geraram produtos, serviços e práticas que são hoje o motivo de estarmos aqui”, disse Roberta. 

A coordenadora da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC, Patricia Cuervo, enumerou as diversas realizações do cientista no programa, do qual ele foi aluno, orientador, docente e coordenador, contribuindo para o reconhecimento de sua excelência científica e para as ações de solidariedade na formação de profissionais na Argentina e em Moçambique. 

“Muitas pessoas que ele formou estão atualmente na Fiocruz e em outras instituições científicas. O diretor do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique foi aluno do Milton", citou Patricia. 

A diretora do IOC, Tania Cremonini de Araujo-Jorge, enfatizou a importância do 1º Simpósio Milton Ozório Moraes nas celebrações pelos 125 anos do Instituto. 

“O Jubileu é um marco de memória e futuro. É extremamente importante ter esse Simpósio na nossa celebração, porque o legado da ciência tem que prosseguir. Milton teve uma força muito impressionante e ele fica aqui nas pessoas, nos colegas, na família e na educação”, afirmou Tania. 

 

Componentes da mesa de abertura recordaram a intensa atuação de Milton Moraes na pesquisa, no ensino e no âmbito institucional. Foto: Rudson Amorim

O papel do pesquisador na construção do Programa Inova Fiocruz, do qual ele foi coordenador e que constitui a principal estratégia de fomento à pesquisa e à inovação na Fundação, foi lembrado pela coordenadora do Programa, Claude Pirmez. 

“Onde você [Milton] estiver, quero dizer que valeu à pena. Temos mais de mil projetos no Inova e devemos muito a você e ao Krieger. Aqui na Terra, você é inspiração”, declarou Claude, mencionando também o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Marco Aurelio Krieger, que faleceu este ano. 

A vice-presidente adjunta de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Marcia de Oliveira Teixeira, recordou a atuação de Milton como assessor da VPPCB.  

“Uma característica marcante do Milton é a inquietude, o movimento de não se acomodar. É simbólico ter esse evento na semana em que lançamos o Fórum Oswaldo Cruz, que quer construir um plano de desenvolvimento da pesquisa na Fiocruz", apontou Marcia, que representou a presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Alda Maria da Cruz, no evento. 

A coordenadora da Plataforma de Pesquisa Clínica da Fiocruz, Tatiana Camilo Ribeiro de Senna, enfatizou a busca do pesquisador pelo aprimoramento das atividades científicas.  

“Euzenir e Milton estavam empenhados em trazer novos estudos clínicos para o Ambulatório Sousa Araújo porque sabiam que a pesquisa traz mais qualidade para o serviço", contou Tatiana, citando também a ex-chefe do Laboratório de Hanseníase, Euzenir Sarno. 

Características pessoais de Milton, como gentileza, humildade e espírito colaborativo, foram ressaltadas pelo militante do Morhan, Artur Custódio, ao abordar a relação do cientista com os afetados pela hanseníase. 

“Era um pesquisador despido da vaidade que é muito comum na academia. Milton olhava os atingidos pela hanseníase como pessoas integrais, reconhecia o peso do estigma, se preocupava com a complexidade da doença e tinha a capacidade de trabalhar com todas as pessoas", afirmou Artur. 

Inovação e colaboração científica 

O evento marcou o lançamento do verbete ‘Milton Ozório Moraes’ no ‘Dicionário Biobibliográfico de Cientistas da Fiocruz’. O projeto visa apresentar informações e bibliografia produzida por pesquisadores da Fundação, fornecendo o link para os arquivos no repositório institucional Arca. 

Integrante do projeto, a bibliotecária Catarina Barreto apresentou o novo verbete, destacando a ampla produção científica do pesquisador, que agora está mais facilmente acessível. 

A primeira mesa do Simpósio discutiu duas importantes contribuições de Milton para a saúde pública: o desenvolvimento do primeiro kit de biologia molecular para diagnóstico da hanseníase no Brasil, atualmente disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), e o ensaio clínico no país de uma inédita vacina contra a doença, que deve começar este ano. 

Verônica Schmidt ressaltou importância de uma vacina contra hanseníase para o controle da doença. Foto: Rudson Amorim

A consultora técnica da Coordenação Geral de Laboratórios do Ministério da Saúde (CGLAB/MS), Sara de Moura Lima, apontou que o Kit Biomol Hanseníase representa um marco na pesquisa e no serviço de saúde. Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021, o produto passou a ser oferecido no SUS em 2023, ampliando o diagnóstico da hanseníase em casos que antes tinham resultado inconclusivo com uso de outras metodologias. 

Líder científica do ensaio clínico da Lepvax, a chefe substituta do Laboratório de Hanseníase do IOC, Verônica Schmidt, salientou a importância da atuação de Milton para trazer o teste da vacina para o Brasil e sua participação ativa no projeto mesmo após o diagnóstico de câncer.  

“Em outubro de 2024, recebemos a aprovação da Anvisa após cinco anos de persistência e rigor científico. Milton não nos deu peixe. Ele nos ensinou a pescar. E estamos fazendo isso”, disse Verônica. 

A capacidade de colaboração científica e a diversidade de contribuições de Milton foram evidenciadas na segunda mesa do evento. O professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Marcelo Mira, e o chefe do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC, Flavio Lara, comentaram suas parcerias de longa data com o pesquisador, que resultaram em importantes descobertas sobre aspectos genéticos e alterações mitocondriais na hanseníase.  

Em apresentação descontraída, Marcelo Mira e Flavio Lara lembraram como Milton conseguia resolver desavenças entre colaboradores com gentileza e bom humor. Foto: Rudson Amorim

Os colegas também listaram mais de 30 temas de pesquisa em que Milton publicou artigos, colaborando com diversos grupos do país e do exterior. Além disso, o papel do pesquisador no estabelecimento de um centro de estudos de hanseníase na Fundação Hospitalar Alfredo da Matta (Fuham), do estado do Amazonas, foi lembrado com exibição de vídeos de profissionais da instituição. 

Com foco na formação de recursos humanos, a terceira mesa do Simpósio reuniu a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cynthia Chester Cardoso e a professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Carolinne de Sales Marques. Orientadas por Milton no mestrado e no doutorado no Programa de Biologia Celular e Molecular do IOC, elas ressaltaram a importância dos aprendizados para a pesquisa e a docência. 

Comentando suas linhas de pesquisa atuais, Cynthia citou estudos sobre a farmacogenética do HIV e Covid-19 e Carolinne apresentou resultados de investigações sobre fatores genéticos da hanseníase em Alagoas. 

Medalha Milton Moraes 

Marcado pela emoção, o encerramento do evento contou com entrega de duas honrarias: a Medalha Milton Moraes de mérito em epidemiologia das doenças genéticas e a medalha comemorativa pelos 125 anos do IOC. 

Aprovada em maio pelo Conselho Deliberativo do IOC, a Medalha Milton Moraes foi entregue pela primeira vez. A agraciada, escolhida em votação realizada nos laboratórios sediados no Pavilhão da Hanseníase, foi a líder do Setor de Biologia Molecular do Laboratório de Hanseníase e coordenadora da Plataforma de PCR em Tempo Real, Fernanda Kehdy. 

A partir da esquerda: Ariani Noronha e Fernanda Kehdy; os filhos de Milton, Henrique e Manuela, com Valcemir Franca Silva Filho; Lúcia Ozório e Roberta Olmo. Fotos: Rudson Amorim. Arte: Jefferson Mendes

Ao apresentar a homenagem, a chefe do Laboratório de Hanseníase destacou a capacidade de superação da cientista, que assumiu a liderança do setor criado por Milton. Ela contou que a indicação ao prêmio foi feita pela doutoranda Ariani Batista Noronha, aluna que passou a ser orientada por Fernanda após o falecimento do pesquisador.  

“Sua atuação demonstra não apenas respeito pelo legado de Milton, mas compromisso com a continuidade e fortalecimento das linhas de pesquisa que ele cultivou no IOC”, disse Roberta, lendo a carta enviada por Ariani ao fazer a indicação. 

Durante o Simpósio, Fernanda apresentou o panorama atual do Setor de Biologia Molecular, que atua em atividades de referência para o Ministério da Saúde, realizando diagnóstico de pacientes atendidos no Ambulatório Souza Araújo e investigação de casos com suspeita de resistência à terapia da hanseníase em dez estados. . 

Na pesquisa científica, Fernanda citou novos estudos de associação genômica ampla e no Projeto Genomas SUS, iniciativa do Ministério da Saúde para produção de sequências de genomas completos de indivíduos de todo o país. 

“Encerro com uma frase do Milton, otimista, como era a marca dele: ‘a hanseníase é um problema de saúde pública e nós vamos resolver’. Não está fácil, mas nós vamos batalhar”, declarou a pesquisadora. 

Em reconhecimento ao legado do cientista, a Medalha Milton Moraes foi entregue também à família do pesquisador, representada por dois de seus quatro filhos: Manuela e Henrique. A mãe de Milton, Lúcia Ozório, psicóloga que se tornou militante do Morhan, recebeu a  medalha comemorativa pelos 125 anos do IOC, que também foi entregue aos palestrantes do evento. 

“A medalha cunhada com o nome dele é algo de muita potência. Palavras que ouvi hoje como colaboração e humildade são marcas dessa ciência amorosa que Milton fez. O cientista que batalha contra a hanseníase se corporifica nessa medalha, que ainda será entregue a muitos cientistas que trabalham com genética", afirmou Lúcia.

Simpósio abordou impacto do cientista no combate à hanseníase e na formação de recursos humanos
Por: 
maira
 
Integrantes do Laboratório de Hanseníase, militantes do Morhan, colaboradores, alunos e familiares de Milton Moraes participaram do evento. Foto: Rudson Amorim 

O legado do pesquisador Milton Ozório Moraes, um dos maiores estudiosos em fisiopatologia da hanseníase, falecido precocemente em 2022, foi destacado no terceiro dia do ‘Simpósio IOC Jubileu 125 anos - 2º ato’. 

Realizado no dia 7 de agosto, integrando o evento comemorativo, o ‘1º Simpósio Milton Ozório Moraes: desvendando a genômica e a genética epidemiológica das micobactérias’ abordou o impacto da atuação do pesquisador para a ciência, a saúde e a formação de recursos humanos.

Assista na íntegra:

Na mesa de abertura, representantes do IOC, da Fiocruz e do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) exaltaram a memória do cientista e apontaram que seu legado permanece vivo em inovações que contribuem para o enfrentamento da hanseníase, na atuação de jovens cientistas formados por ele e nas ações do IOC e da Fiocruz. 

A chefe do Laboratório de Hansneíase do IOC, Roberta Olmo, destacou o papel de Milton na trajetória do Laboratório, que é referência para o Ministério da Saúde e mantém um ambulatório para atendimento à população. Em mais de 20 anos, Milton atuou como aluno, pesquisador e chefe na unidade. 

“Desde o começo, Milton fez grandes contribuições científicas até chegar em aportes muito significativos para o SUS, que geraram produtos, serviços e práticas que são hoje o motivo de estarmos aqui”, disse Roberta. 

A coordenadora da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC, Patricia Cuervo, enumerou as diversas realizações do cientista no programa, do qual ele foi aluno, orientador, docente e coordenador, contribuindo para o reconhecimento de sua excelência científica e para as ações de solidariedade na formação de profissionais na Argentina e em Moçambique. 

“Muitas pessoas que ele formou estão atualmente na Fiocruz e em outras instituições científicas. O diretor do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique foi aluno do Milton", citou Patricia. 

A diretora do IOC, Tania Cremonini de Araujo-Jorge, enfatizou a importância do 1º Simpósio Milton Ozório Moraes nas celebrações pelos 125 anos do Instituto. 

“O Jubileu é um marco de memória e futuro. É extremamente importante ter esse Simpósio na nossa celebração, porque o legado da ciência tem que prosseguir. Milton teve uma força muito impressionante e ele fica aqui nas pessoas, nos colegas, na família e na educação”, afirmou Tania. 

 

Componentes da mesa de abertura recordaram a intensa atuação de Milton Moraes na pesquisa, no ensino e no âmbito institucional. Foto: Rudson Amorim

O papel do pesquisador na construção do Programa Inova Fiocruz, do qual ele foi coordenador e que constitui a principal estratégia de fomento à pesquisa e à inovação na Fundação, foi lembrado pela coordenadora do Programa, Claude Pirmez. 

“Onde você [Milton] estiver, quero dizer que valeu à pena. Temos mais de mil projetos no Inova e devemos muito a você e ao Krieger. Aqui na Terra, você é inspiração”, declarou Claude, mencionando também o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Marco Aurelio Krieger, que faleceu este ano. 

A vice-presidente adjunta de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Marcia de Oliveira Teixeira, recordou a atuação de Milton como assessor da VPPCB.  

“Uma característica marcante do Milton é a inquietude, o movimento de não se acomodar. É simbólico ter esse evento na semana em que lançamos o Fórum Oswaldo Cruz, que quer construir um plano de desenvolvimento da pesquisa na Fiocruz", apontou Marcia, que representou a presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Alda Maria da Cruz, no evento. 

A coordenadora da Plataforma de Pesquisa Clínica da Fiocruz, Tatiana Camilo Ribeiro de Senna, enfatizou a busca do pesquisador pelo aprimoramento das atividades científicas.  

“Euzenir e Milton estavam empenhados em trazer novos estudos clínicos para o Ambulatório Sousa Araújo porque sabiam que a pesquisa traz mais qualidade para o serviço", contou Tatiana, citando também a ex-chefe do Laboratório de Hanseníase, Euzenir Sarno. 

Características pessoais de Milton, como gentileza, humildade e espírito colaborativo, foram ressaltadas pelo militante do Morhan, Artur Custódio, ao abordar a relação do cientista com os afetados pela hanseníase. 

“Era um pesquisador despido da vaidade que é muito comum na academia. Milton olhava os atingidos pela hanseníase como pessoas integrais, reconhecia o peso do estigma, se preocupava com a complexidade da doença e tinha a capacidade de trabalhar com todas as pessoas", afirmou Artur. 

Inovação e colaboração científica 

O evento marcou o lançamento do verbete ‘Milton Ozório Moraes’ no ‘Dicionário Biobibliográfico de Cientistas da Fiocruz’. O projeto visa apresentar informações e bibliografia produzida por pesquisadores da Fundação, fornecendo o link para os arquivos no repositório institucional Arca. 

Integrante do projeto, a bibliotecária Catarina Barreto apresentou o novo verbete, destacando a ampla produção científica do pesquisador, que agora está mais facilmente acessível. 

A primeira mesa do Simpósio discutiu duas importantes contribuições de Milton para a saúde pública: o desenvolvimento do primeiro kit de biologia molecular para diagnóstico da hanseníase no Brasil, atualmente disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), e o ensaio clínico no país de uma inédita vacina contra a doença, que deve começar este ano. 

Verônica Schmidt ressaltou importância de uma vacina contra hanseníase para o controle da doença. Foto: Rudson Amorim

A consultora técnica da Coordenação Geral de Laboratórios do Ministério da Saúde (CGLAB/MS), Sara de Moura Lima, apontou que o Kit Biomol Hanseníase representa um marco na pesquisa e no serviço de saúde. Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021, o produto passou a ser oferecido no SUS em 2023, ampliando o diagnóstico da hanseníase em casos que antes tinham resultado inconclusivo com uso de outras metodologias. 

Líder científica do ensaio clínico da Lepvax, a chefe substituta do Laboratório de Hanseníase do IOC, Verônica Schmidt, salientou a importância da atuação de Milton para trazer o teste da vacina para o Brasil e sua participação ativa no projeto mesmo após o diagnóstico de câncer.  

“Em outubro de 2024, recebemos a aprovação da Anvisa após cinco anos de persistência e rigor científico. Milton não nos deu peixe. Ele nos ensinou a pescar. E estamos fazendo isso”, disse Verônica. 

A capacidade de colaboração científica e a diversidade de contribuições de Milton foram evidenciadas na segunda mesa do evento. O professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Marcelo Mira, e o chefe do Laboratório de Microbiologia Celular do IOC, Flavio Lara, comentaram suas parcerias de longa data com o pesquisador, que resultaram em importantes descobertas sobre aspectos genéticos e alterações mitocondriais na hanseníase.  

Em apresentação descontraída, Marcelo Mira e Flavio Lara lembraram como Milton conseguia resolver desavenças entre colaboradores com gentileza e bom humor. Foto: Rudson Amorim

Os colegas também listaram mais de 30 temas de pesquisa em que Milton publicou artigos, colaborando com diversos grupos do país e do exterior. Além disso, o papel do pesquisador no estabelecimento de um centro de estudos de hanseníase na Fundação Hospitalar Alfredo da Matta (Fuham), do estado do Amazonas, foi lembrado com exibição de vídeos de profissionais da instituição. 

Com foco na formação de recursos humanos, a terceira mesa do Simpósio reuniu a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cynthia Chester Cardoso e a professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Carolinne de Sales Marques. Orientadas por Milton no mestrado e no doutorado no Programa de Biologia Celular e Molecular do IOC, elas ressaltaram a importância dos aprendizados para a pesquisa e a docência. 

Comentando suas linhas de pesquisa atuais, Cynthia citou estudos sobre a farmacogenética do HIV e Covid-19 e Carolinne apresentou resultados de investigações sobre fatores genéticos da hanseníase em Alagoas. 

Medalha Milton Moraes 

Marcado pela emoção, o encerramento do evento contou com entrega de duas honrarias: a Medalha Milton Moraes de mérito em epidemiologia das doenças genéticas e a medalha comemorativa pelos 125 anos do IOC. 

Aprovada em maio pelo Conselho Deliberativo do IOC, a Medalha Milton Moraes foi entregue pela primeira vez. A agraciada, escolhida em votação realizada nos laboratórios sediados no Pavilhão da Hanseníase, foi a líder do Setor de Biologia Molecular do Laboratório de Hanseníase e coordenadora da Plataforma de PCR em Tempo Real, Fernanda Kehdy. 

A partir da esquerda: Ariani Noronha e Fernanda Kehdy; os filhos de Milton, Henrique e Manuela, com Valcemir Franca Silva Filho; Lúcia Ozório e Roberta Olmo. Fotos: Rudson Amorim. Arte: Jefferson Mendes

Ao apresentar a homenagem, a chefe do Laboratório de Hanseníase destacou a capacidade de superação da cientista, que assumiu a liderança do setor criado por Milton. Ela contou que a indicação ao prêmio foi feita pela doutoranda Ariani Batista Noronha, aluna que passou a ser orientada por Fernanda após o falecimento do pesquisador.  

“Sua atuação demonstra não apenas respeito pelo legado de Milton, mas compromisso com a continuidade e fortalecimento das linhas de pesquisa que ele cultivou no IOC”, disse Roberta, lendo a carta enviada por Ariani ao fazer a indicação. 

Durante o Simpósio, Fernanda apresentou o panorama atual do Setor de Biologia Molecular, que atua em atividades de referência para o Ministério da Saúde, realizando diagnóstico de pacientes atendidos no Ambulatório Souza Araújo e investigação de casos com suspeita de resistência à terapia da hanseníase em dez estados. . 

Na pesquisa científica, Fernanda citou novos estudos de associação genômica ampla e no Projeto Genomas SUS, iniciativa do Ministério da Saúde para produção de sequências de genomas completos de indivíduos de todo o país. 

“Encerro com uma frase do Milton, otimista, como era a marca dele: ‘a hanseníase é um problema de saúde pública e nós vamos resolver’. Não está fácil, mas nós vamos batalhar”, declarou a pesquisadora. 

Em reconhecimento ao legado do cientista, a Medalha Milton Moraes foi entregue também à família do pesquisador, representada por dois de seus quatro filhos: Manuela e Henrique. A mãe de Milton, Lúcia Ozório, psicóloga que se tornou militante do Morhan, recebeu a  medalha comemorativa pelos 125 anos do IOC, que também foi entregue aos palestrantes do evento. 

“A medalha cunhada com o nome dele é algo de muita potência. Palavras que ouvi hoje como colaboração e humildade são marcas dessa ciência amorosa que Milton fez. O cientista que batalha contra a hanseníase se corporifica nessa medalha, que ainda será entregue a muitos cientistas que trabalham com genética", afirmou Lúcia.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)