:: Confira a cobertura especial
Autoras e autores das melhores teses defendidas no Instituto em 2024 receberam medalha e certificado do Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto. Foto: Rudson Amorim
Realizada na sexta-feira, 19/09, durante o último dia da Semana da Pós-graduação do IOC, a entrega do Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto 2025 destacou pesquisas que trazem contribuições significativas para a saúde pública e a ciência.
Este ano, cinco programas de pós-graduação do Instituto selecionaram suas melhores teses para a premiação. Os trabalhos agraciados incluem: novas estratégias para aprimorar o combate ao mosquito Aedes; caracterização de mecanismos envolvidos na Covid-19 grave; dados sobre impacto da chikungunya para bebês expostos ao vírus na gestação; análise do legado de um importante pesquisador para a divulgação científica no Brasil e metodologias para identificar características tumorais associadas com malignidade do câncer.
A cerimônia foi realizada no Auditório Emmanuel Dias, Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fiocruz, em Manguinhos.
Confira, abaixo, mais detalhes das pesquisas vencedoras.
A tese de André de Souza Leandro, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária, avaliou ferramentas para aprimorar a vigilância do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya.
Médico veterinário do Centro de Controle de Zoonoses de Foz do Iguaçu, no Paraná, ele conseguiu apontar estratégias para estabelecer um sistema de alerta precoce com objetivo de apoiar gestores no direcionamento das ações de combate ao vetor.
Com o título ‘Avaliação sobre previsibilidade de indicadores entomológicos na vigilância de arbovírus’, o trabalho foi orientado por Rafael Maciel de Freitas, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, e Daniel Antunes Maciel Villela, pesquisador do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz).
O estudo mostrou que o monitoramento da população de mosquitos Aedes adultos, utilizando armadilhas chamadas de Adultrap, foi capaz de prever alta de casos de arboviroses no município com antecedência de quatro semanas.
Após diversos testes, foi possível estabelecer uma estratégia para distribuir as armadilhas em unidades geográficas sentinelas, de forma a predizer aumento de casos em regiões da cidade com duas semanas de antecedência.
A importância da detecção dos vírus nos insetos capturados também foi apontada. A análise permitiu identificar a circulação de arboviroses e de diferentes sorotipos da dengue de forma precoce, antes de os primeiros pacientes serem diagnosticados.
Na tela: o vencedor pela PGBP, André de Souza Leandro (à esquerda), e o orientador da tese, Rafael Maciel de Freitas. A diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Luciana Garzoni, fez a entrega simbólica da medalha. Foto: Rudson Amorim
Por outro lado, a pesquisa em Foz do Iguaçu indicou ineficácia de uma medida de controle do Aedes popularmente conhecida: a aplicações do inseticida Malathion com o método chamado de fumacê.
Foi observado que a presença do vetor não foi reduzida nas áreas de Foz do Iguaçu com aplicação do fumacê. Em laboratório, análises confirmaram resistência dos mosquitos ao produto, o que já foi detectado em diferentes partes do país.
Utilizando o modelo matemático chamado de “lógica fuzzy”, André combinou dados sobre presença do vetor, população humana, ocorrência de arboviroses e características do ambiente para mapear as áreas de maior risco para os agravos, revelando regiões permanentes de alto risco na cidade e áreas com variação sazonal.
O estudo abordou ainda a forma de atuação dos profissionais de vigilância, indicando benefícios do modelo de vigilância integrada para diferentes agravos e da adoção de softwares para processamento de informações.
O autor da tese destacou que as medidas apontadas são aplicáveis à realidade dos serviços de vigilância.
“Os resultados do estudo estão alinhados com as necessidades e expectativas por ferramentas práticas com respaldo científico aplicáveis ao serviço. Isso torna a pesquisa relevante para o aperfeiçoamento das práticas voltadas à prevenção e ao controle de arbovírus transmitidos por Aedes", afirmou André.
O veterinário salientou a honra de receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto. “Sinto-me grato e honrado em receber esta premiação. Agradeço ao meu orientador Rafael Maciel de Freitas pela oportunidade de crescer e o tempo dedicado. Gratidão a todos que contribuíram para este projeto, em especial à família e aos amigos pelo incentivo e a paciência", completa.
Realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, a tese da bióloga Emilly Caroline dos Santos Moraes avança no conhecimento sobre mecanismos moleculares envolvidos na Covid-19.
A pesquisa intitulada ‘Investigação dos mecanismos fisiopatológicos da Covid-19 grave através de análises proteômicas de lipoproteínas e vesículas extracelulares’ foi orientada por Monique Ramos de Oliveira Garcia, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), e Hugo Caire Castro Faria Neto, chefe substituto do Laboratório de Imunofarmacologia do IOC.
A estudante recebeu bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
O estudo teve como objetivo compreender por que alguns pacientes evoluem de forma mais grave do que outros e identificar os processos biológicos subjacentes à Covid-19 severa. Para isso, foi aplicada uma abordagem proteômica – capaz de analisar milhares de proteínas em uma única amostra – direcionada a dois componentes específicos da circulação sanguínea: as vesículas extracelulares e as lipoproteínas.
Liberadas por diferentes tipos de células, as vesículas extracelulares atuam na resposta imunológica e na comunicação celular, entre outras funções.
Emilly Caroline dos Santos Moraes, premiada pela PGBCM. Foto: Rudson Amorim
A função principal das lipoproteínas é o transporte do colesterol no organismo, sendo mais conhecidas pelas siglas HDL (que se refere a lipoproteínas de alta densidade) e LDL (referente a lipoproteínas de baixa densidade). Estas moléculas também participam da resposta imune.
Os componentes foram analisados em amostras de sangue de pacientes com Covid-19 grave, incluindo indivíduos que morreram devido à doença e que sobreviveram à infecção. Amostras de doadores de sangue saudáveis foram consideradas como controles.
Os indivíduos afetados pela Covid-19 apresentaram aumento na circulação de vesículas extracelulares, com perfil de proteínas ligado ao aumento da coagulação sanguínea, o que pode estimular a formação de coágulos, levando à trombose.
Os níveis de HDL e LDL mostraram-se reduzidos no sangue dos pacientes, o que foi associado ao risco de mortalidade na Covid-19. Entre diversas alterações, a composição do HDL apresentou diminuição de proteínas anti-inflamatórias e protetoras contra danos oxidativos e aumento de proteínas ligadas à inflamação.
“Nossos resultados contribuíram para a compreensão da fisiopatologia da Covid-19 em casos graves e podem embasar novos estudos sobre o potencial das proteínas encontradas como biomarcadores de severidade. Além disso, as metodologias que aplicamos, isto é, as técnicas de isolamento dos componentes estudados e a espectrometria de massas, podem ser empregadas em outros contextos clínicos”, apontou Emilly.
A autora do estudo destacou a alegria e a sensação de dever cumprido ao receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto.
“Me sinto honrada em representar um trabalho coletivo, pensado e apoiado por pesquisadores e alunos que não hesitaram em trabalhar durante toda a pandemia, mesmo antes da vacina e com os riscos de infecção”, disse Emilly, que agradeceu o suporte institucional da Pós, Capes e Faperj; o apoio de familiares e amigos; e a generosidade científica de seus orientadores e da chefe do Laboratório de Imunofarmacologia, Patricia Bozza.
A tese da neonatologista Fátima Cristiane Pinho de Almeida Di Maio Ferreira alerta para os riscos da transmissão vertical do vírus chikungunya, que pode ocorrer de mãe para filho durante a gestação ou no momento do parto.
Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, a pesquisa apontou complicações graves logo após o nascimento, assim como impactos no desenvolvimento neurológico dos bebês.
Com o título ‘Investigação do neurodesenvolvimento em crianças expostas ao vírus chikungunya no período neonatal no Rio de Janeiro: seguimento até os 3 anos de idade’, o estudo foi orientado por Patrícia Brasil, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
A pesquisa foi conduzida no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (HUGG/Unirio), onde Fátima atua como neonatologista. Foram acompanhados cerca de 60 bebês expostos à chikungunya durante a gestação no período de 2016 a 2020.
Confirmando observações feitas anteriormente na Ilha de Reunião, no Oceano Índico, o estudo apontou que a transmissão vertical do agravo é um risco maior quando a infecção materna ocorre perto do parto.
Ao todo, 18 crianças contraíram o vírus, o que indica taxa de transmissão vertical de 33%. Em todos estes casos, as gestantes tiveram diagnóstico de chikungunya no período entre sete dias antes e sete dias depois do parto.
A partir da esquerda: Patricia Brasil, orientadora da tese; Fátima Cristiane Pinho de Almeida Di Maio Ferreira, premiada pela PGMT; e Vanessa de Paula, coordenadora da Pós-graduação em Medicina Tropical. Foto: Rudson Amorim
A maioria dos bebês infectados não apresentou sintomas ao nascer. Porém, quase todos desenvolveram quadros graves em seguida, semelhantes à sepse. Dezessete precisaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O acompanhamento de parte das crianças ao longo de três anos detectou atrasos no neurodesenvolvimento em cerca de 20% dos casos, incluindo não apenas bebês com infecção confirmada ao nascer, mas também alguns que foram expostos na gestação e não apresentaram o vírus.
A aquisição da linguagem foi o aspecto mais afetado. Também foram registrados déficits no desenvolvimento motor e cognitivo, assim como casos de autismo.
Para Fátima, os achados reforçam a importância da vigilância e da prevenção da chikungunya em gestantes.
“A vigilância é crucial, principalmente quando a gestante é infectada no período do parto. É vital acompanhar as crianças expostas ao vírus, mesmo que não tenham sido infectadas. A intervenção precoce com terapias de apoio pode diminuir o impacto da doença no neurodesenvolvimento e no crescimento dessas crianças”, ressaltou a autora da pesquisa.
A médica acrescentou que profissionais de saúde devem orientar as gestantes sobre uso de repelentes e telas de proteção, além da eliminação de água parada para combater o mosquito Aedes, vetor da doença. Também é indicado evitar viagens para áreas com alta transmissão do agravo.
Ao receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto, Fátima destacou a relevância da premiação.
“Minha trajetória foi profundamente inspirada pela excelência do Instituto Oswaldo Cruz e da Pós-graduação em Medicina Tropical. Sinto-me, de fato, privilegiada por ter minha tese associada a um prêmio com tamanha credibilidade e importância. Não posso deixar de expressar minha profunda gratidão à minha orientadora, Patrícia Brasil. Sua sabedoria, paciência e incansável dedicação foram essenciais”, afirmou.
Físico, pesquisador e divulgador científico, Maurice Bazin nasceu na França, em 1934, e teve atuação marcante nos Estados Unidos, Argélia, Chile e Portugal. No final dos anos 1970, chegou ao Brasil, onde se tornou um dos grandes nomes da popularização da ciência, sendo um dos fundadores do Espaço Ciência Viva, primeiro museu participativo de ciências do país, em atividade até hoje no Rio de Janeiro.
O legado deste pesquisador é investigado na tese ‘A construção do campo da divulgação científica em espaços não formais no Brasil: contribuições de Maurice Bazin’, desenvolvida por Ludmila Nogueira da Silva, no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde.
Licenciada em química e professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Ludmila foi orientada por Robson Coutinho Silva e Eleonora Kurtenbach, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para caracterizar a influência de Bazin, ela analisou 22 textos publicados pelo autor abordando a divulgação científica em espaços não formais, como museus de ciência, de 1970 a 2009 (ano do seu falecimento). Também investigou 37 publicações acadêmicas que citaram o pesquisador como referência, entre 1970 e 2023.
Através da análise de conteúdo, foram mapeadas dez categorias temáticas nos textos de Bazin, que se refletiram nos estudos que citaram o autor, evidenciando o impacto de suas ideias sobre ‘relação público-ciência’, ‘ciência para o povo’, ‘experimentação’, ‘cultura científica’ e ‘parcerias e trocas de influências’, entre outros temas.
A partir da esquerda: Clélia Christina Mello Silva, coordenadora adjunta da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde; Ludmila Nogueira da Silva, ganhadora pela PGEBS; a orientadora, Eleonora Kurtenbach; e Daniel Gibaldi, coordenador do Programa. Foto: Rudson Amorim
O estudo contou ainda com 25 entrevistas com pessoas que atuam ou atuaram neste campo e que tiveram contato com Bazin ao longo de suas trajetórias. Metodologias de análise de conteúdo e do discurso foram aplicadas para interpretar as falas dos entrevistados.
A pesquisa ressaltou a influência de Bazin naqueles que atuam na divulgação científica no Brasil, mais precisamente nas disposições adquiridas que conformam a matriz cultural que tende a orientar as ações destes atores sociais em seu campo.
Educadora científica no Espaço Ciência InterAtiva, localizado no Campus Mesquita do IFRJ, na Baixada Fluminense, Ludmila também destacou o legado de Bazin na conformação dos museus de ciências brasileiros, identificado na pesquisa.
“Para além da criação do Espaço Ciência Viva, é possível destacar a influência de Bazin na expografia destes espaços, sobretudo na abordagem interativa de módulos e oficinas, assim como nas ações em ruas, praças e diversos outros lugares, incentivando o que hoje chamamos de ciência itinerante. É importante ressaltar ainda sua contribuição para as políticas públicas de popularização da ciência no Brasil”, pontuou a autora da tese.
A pesquisadora avaliou que o reconhecimento no Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto pode contribuir para o debate sobre a divulgação científica no país.
“A visibilidade que este prêmio traz amplia a divulgação do legado deixado por Maurice Bazin e o debate sobre a importância de se divulgar o conhecimento científico de modo que alcance todos os públicos, em especial, as camadas menos favorecidas da população”, declarou Ludmila, agradecendo o apoio de sua família, dos orientadores do projeto e da Pós, além das pessoas e instituições que contribuíram com a pesquisa.
Em linhas gerais, o câncer envolve a proliferação descontrolada de células do organismo, que se multiplicam em excesso e passam a invadir outros tecidos.
Essa alteração aparentemente simples é resultado de um processo complexo. O surgimento e a expansão de células tumorais ocorrem devido a mutações do genoma e alterações em diversos sistemas de regulação, com influência de características individuais, fatores ambientais e eventos aleatórios.
A compreensão da complexidade desta doença está no centro da tese desenvolvida pelo físico médico Marcos Guilherme Vieira Junior, no Programa de Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, que pode contribuir para identificar características específicas do câncer em cada paciente, abrindo portas para avanços na terapia personalizada.
Com o título ‘Metodologia in silico para investigação da presença de atratores de câncer: um estudo de caso para glioblastoma multiforme’, o projeto foi orientado por Fabricio Alves Barbosa da Silva, pesquisador do Programa de Computação Científica (PROCC/Fiocruz), e Nicolas Carels, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).
Vencedores foram prestigiados por colegas discentes e docentes na cermimônia. Foto: Rudson Amorim
O estudante recebeu bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Avançando da perspectiva teórica em direção à aplicação prática, a pesquisa analisou as características das células tumorais referentes a quatro pacientes com glioblastoma multiforme, o tipo de tumor cerebral mais comum e agressivo.
A análise teve como base dados de RNA de célula única, moléculas produzidas a partir do processo de transcrição do DNA, que refletem os genes em atividade em cada célula.
O trabalho integrou abordagens matemáticas e computacionais de modelagem de sistemas complexos para analisar estes dados genéticos de células tumorais.
Considerando a heterogeneidade das células presentes no tumor, a pesquisa conseguiu identificar estados celulares estáveis associados à progressão tumoral, considerados como “atratores do câncer”.
“O estudo mostra uma forma de investigar ‘atratores do câncer’ por meio de modelos matemáticos e computacionais a partir dos dados de sequenciamento de RNA de célula única. Além disso, demonstra que esses atratores podem ser identificados utilizando um conjunto reduzido de genes biomarcadores ligados a diferentes subtipos de tumores malignos”, explicou o autor da tese.
Tendo como diferencial a consideração de aspectos dinâmicos do câncer, as metodologias propostas podem servir de base para a criação de algoritmos com o objetivo de identificar alvos terapêuticos específicos no tumor de cada paciente, com potencial de aplicação em diferentes tipos de câncer.
Os desafios do projeto foram lembrados por Marcos, que não pode comparecer à cerimônia de premiação.
“Receber este prêmio é um reconhecimento importante de um trabalho desenvolvido em uma área nova e desafiadora. Agradeço aos meus orientadores, bem como aos coautores, pelo apoio científico. Registro também minha gratidão à Fiocruz pela oportunidade, à Capes pelo financiamento, aos colegas de pesquisa e à minha família pelo suporte constante", declarou.
:: Confira a cobertura especial
Autoras e autores das melhores teses defendidas no Instituto em 2024 receberam medalha e certificado do Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto. Foto: Rudson Amorim
Realizada na sexta-feira, 19/09, durante o último dia da Semana da Pós-graduação do IOC, a entrega do Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto 2025 destacou pesquisas que trazem contribuições significativas para a saúde pública e a ciência.
Este ano, cinco programas de pós-graduação do Instituto selecionaram suas melhores teses para a premiação. Os trabalhos agraciados incluem: novas estratégias para aprimorar o combate ao mosquito Aedes; caracterização de mecanismos envolvidos na Covid-19 grave; dados sobre impacto da chikungunya para bebês expostos ao vírus na gestação; análise do legado de um importante pesquisador para a divulgação científica no Brasil e metodologias para identificar características tumorais associadas com malignidade do câncer.
A cerimônia foi realizada no Auditório Emmanuel Dias, Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fiocruz, em Manguinhos.
Confira, abaixo, mais detalhes das pesquisas vencedoras.
A tese de André de Souza Leandro, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária, avaliou ferramentas para aprimorar a vigilância do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya.
Médico veterinário do Centro de Controle de Zoonoses de Foz do Iguaçu, no Paraná, ele conseguiu apontar estratégias para estabelecer um sistema de alerta precoce com objetivo de apoiar gestores no direcionamento das ações de combate ao vetor.
Com o título ‘Avaliação sobre previsibilidade de indicadores entomológicos na vigilância de arbovírus’, o trabalho foi orientado por Rafael Maciel de Freitas, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, e Daniel Antunes Maciel Villela, pesquisador do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz).
O estudo mostrou que o monitoramento da população de mosquitos Aedes adultos, utilizando armadilhas chamadas de Adultrap, foi capaz de prever alta de casos de arboviroses no município com antecedência de quatro semanas.
Após diversos testes, foi possível estabelecer uma estratégia para distribuir as armadilhas em unidades geográficas sentinelas, de forma a predizer aumento de casos em regiões da cidade com duas semanas de antecedência.
A importância da detecção dos vírus nos insetos capturados também foi apontada. A análise permitiu identificar a circulação de arboviroses e de diferentes sorotipos da dengue de forma precoce, antes de os primeiros pacientes serem diagnosticados.
Na tela: o vencedor pela PGBP, André de Souza Leandro (à esquerda), e o orientador da tese, Rafael Maciel de Freitas. A diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, Luciana Garzoni, fez a entrega simbólica da medalha. Foto: Rudson Amorim
Por outro lado, a pesquisa em Foz do Iguaçu indicou ineficácia de uma medida de controle do Aedes popularmente conhecida: a aplicações do inseticida Malathion com o método chamado de fumacê.
Foi observado que a presença do vetor não foi reduzida nas áreas de Foz do Iguaçu com aplicação do fumacê. Em laboratório, análises confirmaram resistência dos mosquitos ao produto, o que já foi detectado em diferentes partes do país.
Utilizando o modelo matemático chamado de “lógica fuzzy”, André combinou dados sobre presença do vetor, população humana, ocorrência de arboviroses e características do ambiente para mapear as áreas de maior risco para os agravos, revelando regiões permanentes de alto risco na cidade e áreas com variação sazonal.
O estudo abordou ainda a forma de atuação dos profissionais de vigilância, indicando benefícios do modelo de vigilância integrada para diferentes agravos e da adoção de softwares para processamento de informações.
O autor da tese destacou que as medidas apontadas são aplicáveis à realidade dos serviços de vigilância.
“Os resultados do estudo estão alinhados com as necessidades e expectativas por ferramentas práticas com respaldo científico aplicáveis ao serviço. Isso torna a pesquisa relevante para o aperfeiçoamento das práticas voltadas à prevenção e ao controle de arbovírus transmitidos por Aedes", afirmou André.
O veterinário salientou a honra de receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto. “Sinto-me grato e honrado em receber esta premiação. Agradeço ao meu orientador Rafael Maciel de Freitas pela oportunidade de crescer e o tempo dedicado. Gratidão a todos que contribuíram para este projeto, em especial à família e aos amigos pelo incentivo e a paciência", completa.
Realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, a tese da bióloga Emilly Caroline dos Santos Moraes avança no conhecimento sobre mecanismos moleculares envolvidos na Covid-19.
A pesquisa intitulada ‘Investigação dos mecanismos fisiopatológicos da Covid-19 grave através de análises proteômicas de lipoproteínas e vesículas extracelulares’ foi orientada por Monique Ramos de Oliveira Garcia, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), e Hugo Caire Castro Faria Neto, chefe substituto do Laboratório de Imunofarmacologia do IOC.
A estudante recebeu bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
O estudo teve como objetivo compreender por que alguns pacientes evoluem de forma mais grave do que outros e identificar os processos biológicos subjacentes à Covid-19 severa. Para isso, foi aplicada uma abordagem proteômica – capaz de analisar milhares de proteínas em uma única amostra – direcionada a dois componentes específicos da circulação sanguínea: as vesículas extracelulares e as lipoproteínas.
Liberadas por diferentes tipos de células, as vesículas extracelulares atuam na resposta imunológica e na comunicação celular, entre outras funções.
Emilly Caroline dos Santos Moraes, premiada pela PGBCM. Foto: Rudson Amorim
A função principal das lipoproteínas é o transporte do colesterol no organismo, sendo mais conhecidas pelas siglas HDL (que se refere a lipoproteínas de alta densidade) e LDL (referente a lipoproteínas de baixa densidade). Estas moléculas também participam da resposta imune.
Os componentes foram analisados em amostras de sangue de pacientes com Covid-19 grave, incluindo indivíduos que morreram devido à doença e que sobreviveram à infecção. Amostras de doadores de sangue saudáveis foram consideradas como controles.
Os indivíduos afetados pela Covid-19 apresentaram aumento na circulação de vesículas extracelulares, com perfil de proteínas ligado ao aumento da coagulação sanguínea, o que pode estimular a formação de coágulos, levando à trombose.
Os níveis de HDL e LDL mostraram-se reduzidos no sangue dos pacientes, o que foi associado ao risco de mortalidade na Covid-19. Entre diversas alterações, a composição do HDL apresentou diminuição de proteínas anti-inflamatórias e protetoras contra danos oxidativos e aumento de proteínas ligadas à inflamação.
“Nossos resultados contribuíram para a compreensão da fisiopatologia da Covid-19 em casos graves e podem embasar novos estudos sobre o potencial das proteínas encontradas como biomarcadores de severidade. Além disso, as metodologias que aplicamos, isto é, as técnicas de isolamento dos componentes estudados e a espectrometria de massas, podem ser empregadas em outros contextos clínicos”, apontou Emilly.
A autora do estudo destacou a alegria e a sensação de dever cumprido ao receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto.
“Me sinto honrada em representar um trabalho coletivo, pensado e apoiado por pesquisadores e alunos que não hesitaram em trabalhar durante toda a pandemia, mesmo antes da vacina e com os riscos de infecção”, disse Emilly, que agradeceu o suporte institucional da Pós, Capes e Faperj; o apoio de familiares e amigos; e a generosidade científica de seus orientadores e da chefe do Laboratório de Imunofarmacologia, Patricia Bozza.
A tese da neonatologista Fátima Cristiane Pinho de Almeida Di Maio Ferreira alerta para os riscos da transmissão vertical do vírus chikungunya, que pode ocorrer de mãe para filho durante a gestação ou no momento do parto.
Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, a pesquisa apontou complicações graves logo após o nascimento, assim como impactos no desenvolvimento neurológico dos bebês.
Com o título ‘Investigação do neurodesenvolvimento em crianças expostas ao vírus chikungunya no período neonatal no Rio de Janeiro: seguimento até os 3 anos de idade’, o estudo foi orientado por Patrícia Brasil, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
A pesquisa foi conduzida no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (HUGG/Unirio), onde Fátima atua como neonatologista. Foram acompanhados cerca de 60 bebês expostos à chikungunya durante a gestação no período de 2016 a 2020.
Confirmando observações feitas anteriormente na Ilha de Reunião, no Oceano Índico, o estudo apontou que a transmissão vertical do agravo é um risco maior quando a infecção materna ocorre perto do parto.
Ao todo, 18 crianças contraíram o vírus, o que indica taxa de transmissão vertical de 33%. Em todos estes casos, as gestantes tiveram diagnóstico de chikungunya no período entre sete dias antes e sete dias depois do parto.
A partir da esquerda: Patricia Brasil, orientadora da tese; Fátima Cristiane Pinho de Almeida Di Maio Ferreira, premiada pela PGMT; e Vanessa de Paula, coordenadora da Pós-graduação em Medicina Tropical. Foto: Rudson Amorim
A maioria dos bebês infectados não apresentou sintomas ao nascer. Porém, quase todos desenvolveram quadros graves em seguida, semelhantes à sepse. Dezessete precisaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O acompanhamento de parte das crianças ao longo de três anos detectou atrasos no neurodesenvolvimento em cerca de 20% dos casos, incluindo não apenas bebês com infecção confirmada ao nascer, mas também alguns que foram expostos na gestação e não apresentaram o vírus.
A aquisição da linguagem foi o aspecto mais afetado. Também foram registrados déficits no desenvolvimento motor e cognitivo, assim como casos de autismo.
Para Fátima, os achados reforçam a importância da vigilância e da prevenção da chikungunya em gestantes.
“A vigilância é crucial, principalmente quando a gestante é infectada no período do parto. É vital acompanhar as crianças expostas ao vírus, mesmo que não tenham sido infectadas. A intervenção precoce com terapias de apoio pode diminuir o impacto da doença no neurodesenvolvimento e no crescimento dessas crianças”, ressaltou a autora da pesquisa.
A médica acrescentou que profissionais de saúde devem orientar as gestantes sobre uso de repelentes e telas de proteção, além da eliminação de água parada para combater o mosquito Aedes, vetor da doença. Também é indicado evitar viagens para áreas com alta transmissão do agravo.
Ao receber o Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto, Fátima destacou a relevância da premiação.
“Minha trajetória foi profundamente inspirada pela excelência do Instituto Oswaldo Cruz e da Pós-graduação em Medicina Tropical. Sinto-me, de fato, privilegiada por ter minha tese associada a um prêmio com tamanha credibilidade e importância. Não posso deixar de expressar minha profunda gratidão à minha orientadora, Patrícia Brasil. Sua sabedoria, paciência e incansável dedicação foram essenciais”, afirmou.
Físico, pesquisador e divulgador científico, Maurice Bazin nasceu na França, em 1934, e teve atuação marcante nos Estados Unidos, Argélia, Chile e Portugal. No final dos anos 1970, chegou ao Brasil, onde se tornou um dos grandes nomes da popularização da ciência, sendo um dos fundadores do Espaço Ciência Viva, primeiro museu participativo de ciências do país, em atividade até hoje no Rio de Janeiro.
O legado deste pesquisador é investigado na tese ‘A construção do campo da divulgação científica em espaços não formais no Brasil: contribuições de Maurice Bazin’, desenvolvida por Ludmila Nogueira da Silva, no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde.
Licenciada em química e professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Ludmila foi orientada por Robson Coutinho Silva e Eleonora Kurtenbach, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para caracterizar a influência de Bazin, ela analisou 22 textos publicados pelo autor abordando a divulgação científica em espaços não formais, como museus de ciência, de 1970 a 2009 (ano do seu falecimento). Também investigou 37 publicações acadêmicas que citaram o pesquisador como referência, entre 1970 e 2023.
Através da análise de conteúdo, foram mapeadas dez categorias temáticas nos textos de Bazin, que se refletiram nos estudos que citaram o autor, evidenciando o impacto de suas ideias sobre ‘relação público-ciência’, ‘ciência para o povo’, ‘experimentação’, ‘cultura científica’ e ‘parcerias e trocas de influências’, entre outros temas.
A partir da esquerda: Clélia Christina Mello Silva, coordenadora adjunta da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde; Ludmila Nogueira da Silva, ganhadora pela PGEBS; a orientadora, Eleonora Kurtenbach; e Daniel Gibaldi, coordenador do Programa. Foto: Rudson Amorim
O estudo contou ainda com 25 entrevistas com pessoas que atuam ou atuaram neste campo e que tiveram contato com Bazin ao longo de suas trajetórias. Metodologias de análise de conteúdo e do discurso foram aplicadas para interpretar as falas dos entrevistados.
A pesquisa ressaltou a influência de Bazin naqueles que atuam na divulgação científica no Brasil, mais precisamente nas disposições adquiridas que conformam a matriz cultural que tende a orientar as ações destes atores sociais em seu campo.
Educadora científica no Espaço Ciência InterAtiva, localizado no Campus Mesquita do IFRJ, na Baixada Fluminense, Ludmila também destacou o legado de Bazin na conformação dos museus de ciências brasileiros, identificado na pesquisa.
“Para além da criação do Espaço Ciência Viva, é possível destacar a influência de Bazin na expografia destes espaços, sobretudo na abordagem interativa de módulos e oficinas, assim como nas ações em ruas, praças e diversos outros lugares, incentivando o que hoje chamamos de ciência itinerante. É importante ressaltar ainda sua contribuição para as políticas públicas de popularização da ciência no Brasil”, pontuou a autora da tese.
A pesquisadora avaliou que o reconhecimento no Prêmio IOC de Teses Alexandre Peixoto pode contribuir para o debate sobre a divulgação científica no país.
“A visibilidade que este prêmio traz amplia a divulgação do legado deixado por Maurice Bazin e o debate sobre a importância de se divulgar o conhecimento científico de modo que alcance todos os públicos, em especial, as camadas menos favorecidas da população”, declarou Ludmila, agradecendo o apoio de sua família, dos orientadores do projeto e da Pós, além das pessoas e instituições que contribuíram com a pesquisa.
Em linhas gerais, o câncer envolve a proliferação descontrolada de células do organismo, que se multiplicam em excesso e passam a invadir outros tecidos.
Essa alteração aparentemente simples é resultado de um processo complexo. O surgimento e a expansão de células tumorais ocorrem devido a mutações do genoma e alterações em diversos sistemas de regulação, com influência de características individuais, fatores ambientais e eventos aleatórios.
A compreensão da complexidade desta doença está no centro da tese desenvolvida pelo físico médico Marcos Guilherme Vieira Junior, no Programa de Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, que pode contribuir para identificar características específicas do câncer em cada paciente, abrindo portas para avanços na terapia personalizada.
Com o título ‘Metodologia in silico para investigação da presença de atratores de câncer: um estudo de caso para glioblastoma multiforme’, o projeto foi orientado por Fabricio Alves Barbosa da Silva, pesquisador do Programa de Computação Científica (PROCC/Fiocruz), e Nicolas Carels, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).
Vencedores foram prestigiados por colegas discentes e docentes na cermimônia. Foto: Rudson Amorim
O estudante recebeu bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Avançando da perspectiva teórica em direção à aplicação prática, a pesquisa analisou as características das células tumorais referentes a quatro pacientes com glioblastoma multiforme, o tipo de tumor cerebral mais comum e agressivo.
A análise teve como base dados de RNA de célula única, moléculas produzidas a partir do processo de transcrição do DNA, que refletem os genes em atividade em cada célula.
O trabalho integrou abordagens matemáticas e computacionais de modelagem de sistemas complexos para analisar estes dados genéticos de células tumorais.
Considerando a heterogeneidade das células presentes no tumor, a pesquisa conseguiu identificar estados celulares estáveis associados à progressão tumoral, considerados como “atratores do câncer”.
“O estudo mostra uma forma de investigar ‘atratores do câncer’ por meio de modelos matemáticos e computacionais a partir dos dados de sequenciamento de RNA de célula única. Além disso, demonstra que esses atratores podem ser identificados utilizando um conjunto reduzido de genes biomarcadores ligados a diferentes subtipos de tumores malignos”, explicou o autor da tese.
Tendo como diferencial a consideração de aspectos dinâmicos do câncer, as metodologias propostas podem servir de base para a criação de algoritmos com o objetivo de identificar alvos terapêuticos específicos no tumor de cada paciente, com potencial de aplicação em diferentes tipos de câncer.
Os desafios do projeto foram lembrados por Marcos, que não pode comparecer à cerimônia de premiação.
“Receber este prêmio é um reconhecimento importante de um trabalho desenvolvido em uma área nova e desafiadora. Agradeço aos meus orientadores, bem como aos coautores, pelo apoio científico. Registro também minha gratidão à Fiocruz pela oportunidade, à Capes pelo financiamento, aos colegas de pesquisa e à minha família pelo suporte constante", declarou.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)