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1976 a 2025: retomada científica, emergências sanitárias e olhar para o futuro

Com o retorno da democracia, o IOC se reestrutuou e atuou na linha de frente das mais recentes crises de saúde pública: da chegada da dengue e do HIV ao Brasil à pandemia de Covid-19
Por Maíra Menezes29/05/2025 - Atualizado em 02/06/2025

A retomada científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi marcada pela volta da democracia, que permitiu a reintegração dos cassados e a gestão participativa em nova fase institucional, como unidade integrante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Atuando na linha de frente de respostas a emergências de saúde pública, o IOC teve papel central desde a chegada da dengue e do HIV ao Brasil até recente pandemia de Covid-19.

No dia 25 de maio de 2025, em data de aniversário compartilhada com a Fiocruz, o IOC completou 125 anos, celebrando seu Jubileu Secular de Prata. Confira, na linha do tempo, marcos das últimas décadas dessa trajetória e números que indicam a potência do Instituto ao olhar para o futuro, com o compromisso de produzir ciência e promover a saúde em benefício da sociedade e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Que venham mais 125 anos!

Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: José Rodrigues Coura, Leônidas e Maria Deane, Henrique e Jane Lenzi, Helio e Peggy Pereira e Luis Rey. Fotos: Gutemberg Brito e Acervos IOC e COC/Fiocruz. Arte: João Veras

A retomada científica do IOC ocorreu sob a gestão de José Rodrigues Coura, que assumiu a direção do Instituto e a vice-presidência de Pesquisa da Fiocruz em 1979, a convite do Ministério da Saúde. O contexto era de abertura lenta e gradual do regime militar, sob pressão popular, sendo a Lei da Anistia aprovada naquele mesmo ano. Com o objetivo de repovoar o IOC, Coura atuou para captar cientistas renomados e reestruturou as atividades de ensino. Também retomou a publicação da revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.

Retornaram ao Brasil para atuar no IOC: o entomologista Leônidas Deane e a protozoologista Maria Denae, que estavam na Venezuela; o parasitologista Luis Rey, que estava em Genebra, aposentando-se na Organização Mundial da Saúde (OMS); os virologistas Helio e Marguerite (Peggy) Pereira, que se aposentavam na Inglaterra; e os patologistas Henrique e Jane Lenzi, que vieram de Harvard, nos Estados Unidos, entre outros cientistas expoentes que passaram a compor os quadros do Instituto. 
 

Atividades de ensino do IOC, no campo e em laboratório, em programas de pós-graduação Stricto e Lato sensu. Fotos: Gutemberg Brito e Acervo IOC/Fiocruz. Arte: João Veras

O ensino formal no IOC foi interrompido em 1970, devido à decisão de concentrar as atividades educativas na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Em 1980, foi iniciada uma nova fase de atuação, com o estabelecimento da pós-graduação Stricto sensu no Instituto.

Mantendo a excelência e a articulação com a pesquisa dos tempos do 'Curso de Aplicação' e acompanhando a expansão de suas áreas de expertise, o IOC chegou a sete programas Stricto sensu, que titularam 4.143 mestres e doutores, em Biologia Parasitária, Medicina Tropical, Biologia Celular e Molecular, Ensino em Biociências e Saúde, Biologia Computacional e Sistemas, Biodiversidade e Saúde e Vigilância e Controle de Vetores.

O papel de formar recursos humanos para a saúde pública também se concretiza em quatro pós-graduações Lato sensu - em Entomologia Médica, Malacologia de Vetores, Ensino em Biociências e Saúde e Ciência, Arte e Cultura na Saúde - e dois cursos de nível médio - Especialização em Biologia Parasitária e Biotecnologia e Técnico em Biotecnologia. O ensino no IOC inclui ainda iniciação científica e cursos de férias para alunos de graduação, formação de pós-doutorado e atividades educativas não-formais para públicos diversos. 

Diagnóstico, vigilância genômica e identificação de vetores, como barbeiros e caramujos, estão entre as muitas atividades desenvolvidas pelos laboratórios de referência do IOC. Fotos: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Vinte e três laboratórios do IOC prestam serviços de referência, desempenhando papel estratégico no SUS para diagnóstico de agravos, identificação de vetores e reservatórios, sequenciamento genômico, desenvolvimento de tecnologias e capacitação de profissionais. Além de apoiar o Ministério da Saúde, nove atuam em nível internacional em redes da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Laboratórios de referência mantêm ainda dois ambulatórios especializados para atendimento de pacientes em hanseníase e hepatites virais.

Diversas referências foram credenciadas nos anos 1980, no contexto da estruturação do sistema nacional de laboratórios de saúde pública, incluindo serviços voltados para poliomielite, hepatites virais, leishmanias, leptospirose e triatomíneos, entre outros. Alguns serviços têm atuação ainda anterior, como as referências para influenza, estabelecida na década de 1950, e para cólera e enterobactérias, implantada no começo dos anos 1970.  

 
Momento de votação durante reunião do Conselho Deliberativo do IOC, instância máxima de decisão do Instituto. Foto: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Após a redemocratização, em 1985, o IOC seguiu a trilha da gestão participativa e iniciou o processo de eleição de seus diretores. Até então, todos os diretores do Instituto haviam sido indicados pelo seu antecessor ou pela autoridade política à qual estavam vinculados. Em 1985 e 1989, os diretores foram eleitos pelo Conselho Deliberativo do Instituto, que foi criado em 1979. Depois, o voto passou a ser direto.

Atualmente, o Conselho Deliberativo, instância máxima de decisão do IOC, é formado por representantes eleitos de todos os seus laboratórios e das categorias que integram a comunidade institucional. A instituição conta ainda com câmaras técnicas, que assessoram a tomada de decisões da Diretoria, e promove periodicamente os ‘Encontros do IOC’, que visam propor estratégias e diretrizes de curto, médio e longo prazos para a unidade. 

Os pesquisadores cassados antes da cerimônia de reintegração e durante o evento. Na foto do alto, a partir da esquerda: Augusto Cid de Mello Perissé, Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Haity Moussatché, Fernando Braga Ubatuba, Moacyr Vaz de Andrade, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Herman Lent, Sebastião José de Oliveira, Domingos Arthur  Machado Filho. Fotos: Acervo COC/Fiocruz. Arte: João Veras

O retorno dos cassados aos quadros do IOC ocorreu em 1986, cinco anos após a Lei da Anistia. Dos dez pesquisadores, apenas Herman Lent optou por não voltar ao Instituto, permanecendo na Universidade Santa Úrsula, que o havia acolhido. Assim, retornaram: Augusto Perissé, Domingos Arthur Machado, Fernando Braga Ubatuba, Haity Moussatché, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Moacyr Vaz de Andrade, Sebastião José de Oliveira e Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

A cerimônia de reintegração, conduzida pelo então presidente da Fiocruz, Sergio Arouca, reparou a injustiça e afirmou a redemocratização da Fiocruz. O evento teve participação de personalidades como Ulysses Guimarães e Darcy Ribeiro.

 
Mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, Zika e chikungunya. Foto: Josué Damacena. Arte: João Veras

Os anos 1980 marcaram a chegada da dengue às Américas, com grandes epidemias. Atuando de forma pioneira, o IOC contribuiu para a compreensão da doença, o desenvolvimento de métodos de diagnóstico e de estratégias de controle, tornando-se referência junto ao Ministério da Saúde.

O Instituto foi responsável pelas primeiras detecções dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus dengue no Brasil, respectivamente em 1986, 1990 e 2001. Em 2010, identificou o sorotipo 4, apontando a reintrodução da linhagem no país quase 30 anos após o primeiro surto registrado em Roraima em 1981.

O pioneirismo também esteve presente no enfrentamento das emergências mais recentes de arboviroses, como a Zika em 2015 e a febre amarela em 2016.

Paralelamente às atividades na virologia, as pesquisas sobre o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya, são uma expertise do Instituto, que investiga o comportamento do vetor e a resistência a inseticidas, entre outros temas, e concebeu a estratégia de controle ao inseto ‘10 minutos contra o Aedes’.  

Abaixo, a primeira imagem do HIV obtida no Brasil, em 1987, pelo IOC. Acima, o pesquisador Bernardo Galvão, que liderou a equipe responsável pelo isolamento do vírus. Imagem de microscopia: Monika Barth. Foto: Genilton Vieira. Arte: João Veras

Logo após a confirmação do primeiro caso de Aids no Brasil, pesquisadores do IOC assumiram o desafio de enfrentar a doença. Na época, a infecção era pouco compreendida, associada com alta mortalidade e cercada de preconceitos. O vírus HIV foi caracterizado em 1983, na França. Dois anos depois, cientistas do IOC conseguiram desenvolver o primeiro kit brasileiro para o diagnóstico, após terem acesso a amostras de células infectadas pelo patógeno. A metodologia permitiu a confirmação da doença em casos suspeitos e contribuiu para estabelecer a triagem em bancos de sangue, reduzindo o risco de contaminação através de transfusões.

Na etapa seguinte de pesquisa, foi realizado o primeiro isolamento do HIV-1 no Brasil e na América Latina, em 1987. Publicado em artigo na revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, o achado contou com o empenho de uma equipe multidisciplinar que precisou aprender novas metodologias e adaptar técnicas usadas no exterior para a infraestrutura disponível no Brasil. Até hoje, o vírus permanece no alvo de pesquisas do IOC, que atua como laboratório de referência em HIV para o Ministério da Saúde.  

 
À esquerda, parasitos Trypanosoma cruzi entrelaçados em registro de microscopia eletrônica de varredura com colorido em pós-processamento da imagem. À direita, parasitos do gênero Leishmania. Imagens: Anissa Daliry e Maria de Nazaré Soeiro/IOC e Coleção de Leishmania/IOC

Durante os anos 1990, o IOC teve atuação pioneira na área genômica, sendo um dos responsáveis por introduzir no Brasil a técnica de PCR, que revolucionou a biologia molecular, permitindo amplificar genomas para sequenciamento e diagnóstico de doenças. O desenvolvimento de tecnologias de ponta para enfrentar agravos negligenciados foi um dos focos do Instituto, que estabeleceu metodologias moleculares para diagnóstico de doença de Chagas e leishmanioses, assim como identificação e tipagem de DNA de parasitos, constituindo serviços de referência na área. A aplicação da engenharia genética para produção do vírus vacinal amarílico em tecidos foi outra inovação.

A biologia molecular segue no centro de atividades de pesquisa e inovação no IOC. Nos últimos anos, o Instituto atuou, por exemplo, no desenvolvimento de kits para diagnóstico molecular de diversos agravos, incluindo hanseníase, doença de Chagas, leishmanioses, febre maculosa,  febre amarela, diarreia aguda, além de um simultâneo para influenza e Covid-19 e outro para dengue, Zika e chikungunya.

A partir da esquerda, em sentido horário: teste de método para controle de vetores das leishmanioses no Sudeste, pesquisa sobre malária e parasitoses intestinais em aldeia Yanomami no Amazonas e investigação sobre microrganismos no solo da Antártica. Fotos: Gutemberg Brito e Acervo pessoal. Arte: João Veras  

Nos anos 2000, o termo ‘Saúde Única’ ganhou força nas discussões globais reforçando a necessidade da abordagem integrada entre saúde humana, animal e ambiental. Presente na raiz das atividades do IOC, esta perspectiva permanece forte, como mostrou levantamento realizado em 2021, que mapeou atuação do Instituto em pesquisas de campo na interface entre ambiente e saúde em 25 estados, incluindo desde áreas rurais, indígenas e silvestres até grandes centros urbanos.

As zoonoses, doenças transmitidas de animais para seres humanos, são um tema importante destes estudos, que contemplam a interação entre patógenos, animais reservatórios, vetores, fatores ambientais, climáticos e socioeconômicos. No foco das pesquisas do IOC destacam-se, por exemplo, doenças zoonóticas como esquistossomose, hantaviroses e leptospirose, entre muitas outras.

Outras temáticas colocam o Instituto na vanguarda da Saúde Única, incluindo a atuação em malária, resistência bacteriana a antibióticos, contaminação ambiental e mudanças climáticas. 

 
Representantes do IOC, Fiocruz, Ministério da Saúde e Opas com profissionais de sete países capacitados para detecção do vírus Mpox em treinamento ministrado por especialistas do Instituto. Foto: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

O Instituto teve papel destacado nas crises sanitárias mais recentes no Brasil, incluindo influenza A H1N1, Zika, febre amarela e Mpox, além da Covid-19. Esteve de prontidão ainda contra o vírus ebola, esclarecendo casos suspeitos do agravo no país. Além de desenvolver pesquisas científicas, o IOC atuou como referência no diagnóstico laboratorial e na vigilância de vetores, ministrando capacitações e desenvolvendo metodologias.

Em 2009, o IOC sequenciou os primeiros genomas do H1N1 no Brasil. Em 2015, realizou a primeira detecção do vírus Zika no líquido amniótico de gestantes em casos de microcefalia e confirmou o papel do mosquito Aedes aegypti como principal vetor do vírus no país. Em 2017, durante o maior surto de febre amarela em quase 80 anos, identificou os mosquitos silvestres transmissores do agravo e realizou o sequenciamento genético completo do vírus associado ao surto, identificando mutações inéditas. Frente à disseminação do Mpox em 2022, especialistas do Instituto implementaram as técnicas para diagnóstico laboratorial da infecção e isolaram o vírus, registrando em imagens de microscopia a sua estrutura detalhada. 

Amostra com fragmento do coronavírus identificado em Wuhan, na China, recebida pelo IOC em janeiro de 2020 para reforçar procedimentos de diagnóstico. Foto: Josué Damacena. Arte: João Veras 

O IOC esteve na linha de frente da resposta brasileira à pandemia de Covid-19. Reconhecido como referência para o Brasil e as Américas, o Instituto implementou e desenvolveu metodologias para diagnóstico e capacitou profissionais. Atuando no monitoramento do genoma do SARS-CoV-2, teve duas pesquisadoras nomeadas para o grupo consultivo técnico da OMS.

Pesquisas do IOC tiveram impacto nas políticas de saúde, abordando vigilância em esgotos, padrões de disseminação do coronavírus, eficácia das máscaras, medicamentos antivirais, efeitos da infecção no organismo e consequências da pandemia para a saúde mental, além de chamar atenção para o aumento na resistência bacteriana aos antibióticos. A Vitrine Tecnológica Covid-19 deu visibilidade às inovações desenvolvidas.

No campo da educação, o IOC reestruturou suas atividades de ensino no ambiente online e implantou uma plataforma para apoio a educadores. Assim como toda a sociedade, o Instituto sofreu perdas, com mortes de trabalhadores e estudantes devido à doença. O IOC se mantém ativo na vigilância da Covid-19, monitorando a circulação da doença e a emergência de variantes virais.  

 
Alguns números do IOC em 2025, na celebração de seu Jubileu Secular de Prata. Arte: João Veras

Em 25 de maio de 2025, em data de aniversário compartilhada com a Fiocruz, o IOC completou 125 anos, celebrando seu Jubileu Secular de Prata. Os números não contam toda a história, mas ajudam a vislumbrar a potência do IOC ao olhar para ao futuro.

São 66 laboratórios de pesquisa, submetidos ao processo periódico de credenciamento, com avaliação externa, para promover a excelência científica, além de dez plataformas tecnológicas, com equipamentos de alto desempenho e equipes especializadas. Nos últimos dez anos (de 2015 a 2024) foram mais de 6.800 artigos publicados em periódicos, incluindo trabalhos que descreveram 260 novas espécies e 13 novos gêneros. O processo de inovação resultou em 27 tecnologias protegidas, com 66 patentes concedidas e 47 pedidos de patentes em tramitação.

Vinte e três laboratórios do IOC desempenham serviços de referência para o Ministério da Saúde, sendo que nove atuam no âmbito internacional junto à Opas e à OMS. Dois ambulatórios especializados são mantidos por laboratórios de referência. 

Vinte coleções biológicas estão sob a guarda do Instituto, preservando milhões de espécimes microbiológicos, zoológicos e materiais biológicos de patologia. No ensino, são mais de 4 mil mestres e doutores formados e 855 estudantes matriculados em sete programas de pós-graduação Stricto sensu, além de quatro cursos de especialização Lato sensu e dois de nível médio, com 112 alunos atualmente inscritos. Ultrapassando a marca de 115 anos, a revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ publicou mais de 7 mil artigos.  

Atualizada de forma democrática em abril, através de debates no '7º Encontro do IOC' e votação pelo Conselho Deliberativo, a missão do Instituto afirma: produzir ciência e promover a saúde em benefício da sociedade e do fortalecimento do SUS.

Viva o IOC! Viva a Fiocruz! Viva o SUS!

:: Confira as principais referências bibliográficas consultadas para a produção da 'Linha do tempo: IOC 125 anos'.

Com o retorno da democracia, o IOC se reestrutuou e atuou na linha de frente das mais recentes crises de saúde pública: da chegada da dengue e do HIV ao Brasil à pandemia de Covid-19
Por: 
maira

A retomada científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi marcada pela volta da democracia, que permitiu a reintegração dos cassados e a gestão participativa em nova fase institucional, como unidade integrante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Atuando na linha de frente de respostas a emergências de saúde pública, o IOC teve papel central desde a chegada da dengue e do HIV ao Brasil até recente pandemia de Covid-19.

No dia 25 de maio de 2025, em data de aniversário compartilhada com a Fiocruz, o IOC completou 125 anos, celebrando seu Jubileu Secular de Prata. Confira, na linha do tempo, marcos das últimas décadas dessa trajetória e números que indicam a potência do Instituto ao olhar para o futuro, com o compromisso de produzir ciência e promover a saúde em benefício da sociedade e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Que venham mais 125 anos!

Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: José Rodrigues Coura, Leônidas e Maria Deane, Henrique e Jane Lenzi, Helio e Peggy Pereira e Luis Rey. Fotos: Gutemberg Brito e Acervos IOC e COC/Fiocruz. Arte: João Veras

A retomada científica do IOC ocorreu sob a gestão de José Rodrigues Coura, que assumiu a direção do Instituto e a vice-presidência de Pesquisa da Fiocruz em 1979, a convite do Ministério da Saúde. O contexto era de abertura lenta e gradual do regime militar, sob pressão popular, sendo a Lei da Anistia aprovada naquele mesmo ano. Com o objetivo de repovoar o IOC, Coura atuou para captar cientistas renomados e reestruturou as atividades de ensino. Também retomou a publicação da revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.

Retornaram ao Brasil para atuar no IOC: o entomologista Leônidas Deane e a protozoologista Maria Denae, que estavam na Venezuela; o parasitologista Luis Rey, que estava em Genebra, aposentando-se na Organização Mundial da Saúde (OMS); os virologistas Helio e Marguerite (Peggy) Pereira, que se aposentavam na Inglaterra; e os patologistas Henrique e Jane Lenzi, que vieram de Harvard, nos Estados Unidos, entre outros cientistas expoentes que passaram a compor os quadros do Instituto. 
 

Atividades de ensino do IOC, no campo e em laboratório, em programas de pós-graduação Stricto e Lato sensu. Fotos: Gutemberg Brito e Acervo IOC/Fiocruz. Arte: João Veras

O ensino formal no IOC foi interrompido em 1970, devido à decisão de concentrar as atividades educativas na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Em 1980, foi iniciada uma nova fase de atuação, com o estabelecimento da pós-graduação Stricto sensu no Instituto.

Mantendo a excelência e a articulação com a pesquisa dos tempos do 'Curso de Aplicação' e acompanhando a expansão de suas áreas de expertise, o IOC chegou a sete programas Stricto sensu, que titularam 4.143 mestres e doutores, em Biologia Parasitária, Medicina Tropical, Biologia Celular e Molecular, Ensino em Biociências e Saúde, Biologia Computacional e Sistemas, Biodiversidade e Saúde e Vigilância e Controle de Vetores.

O papel de formar recursos humanos para a saúde pública também se concretiza em quatro pós-graduações Lato sensu - em Entomologia Médica, Malacologia de Vetores, Ensino em Biociências e Saúde e Ciência, Arte e Cultura na Saúde - e dois cursos de nível médio - Especialização em Biologia Parasitária e Biotecnologia e Técnico em Biotecnologia. O ensino no IOC inclui ainda iniciação científica e cursos de férias para alunos de graduação, formação de pós-doutorado e atividades educativas não-formais para públicos diversos. 

Diagnóstico, vigilância genômica e identificação de vetores, como barbeiros e caramujos, estão entre as muitas atividades desenvolvidas pelos laboratórios de referência do IOC. Fotos: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Vinte e três laboratórios do IOC prestam serviços de referência, desempenhando papel estratégico no SUS para diagnóstico de agravos, identificação de vetores e reservatórios, sequenciamento genômico, desenvolvimento de tecnologias e capacitação de profissionais. Além de apoiar o Ministério da Saúde, nove atuam em nível internacional em redes da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Laboratórios de referência mantêm ainda dois ambulatórios especializados para atendimento de pacientes em hanseníase e hepatites virais.

Diversas referências foram credenciadas nos anos 1980, no contexto da estruturação do sistema nacional de laboratórios de saúde pública, incluindo serviços voltados para poliomielite, hepatites virais, leishmanias, leptospirose e triatomíneos, entre outros. Alguns serviços têm atuação ainda anterior, como as referências para influenza, estabelecida na década de 1950, e para cólera e enterobactérias, implantada no começo dos anos 1970.  

 
Momento de votação durante reunião do Conselho Deliberativo do IOC, instância máxima de decisão do Instituto. Foto: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Após a redemocratização, em 1985, o IOC seguiu a trilha da gestão participativa e iniciou o processo de eleição de seus diretores. Até então, todos os diretores do Instituto haviam sido indicados pelo seu antecessor ou pela autoridade política à qual estavam vinculados. Em 1985 e 1989, os diretores foram eleitos pelo Conselho Deliberativo do Instituto, que foi criado em 1979. Depois, o voto passou a ser direto.

Atualmente, o Conselho Deliberativo, instância máxima de decisão do IOC, é formado por representantes eleitos de todos os seus laboratórios e das categorias que integram a comunidade institucional. A instituição conta ainda com câmaras técnicas, que assessoram a tomada de decisões da Diretoria, e promove periodicamente os ‘Encontros do IOC’, que visam propor estratégias e diretrizes de curto, médio e longo prazos para a unidade. 

Os pesquisadores cassados antes da cerimônia de reintegração e durante o evento. Na foto do alto, a partir da esquerda: Augusto Cid de Mello Perissé, Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Haity Moussatché, Fernando Braga Ubatuba, Moacyr Vaz de Andrade, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Herman Lent, Sebastião José de Oliveira, Domingos Arthur  Machado Filho. Fotos: Acervo COC/Fiocruz. Arte: João Veras

O retorno dos cassados aos quadros do IOC ocorreu em 1986, cinco anos após a Lei da Anistia. Dos dez pesquisadores, apenas Herman Lent optou por não voltar ao Instituto, permanecendo na Universidade Santa Úrsula, que o havia acolhido. Assim, retornaram: Augusto Perissé, Domingos Arthur Machado, Fernando Braga Ubatuba, Haity Moussatché, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Moacyr Vaz de Andrade, Sebastião José de Oliveira e Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

A cerimônia de reintegração, conduzida pelo então presidente da Fiocruz, Sergio Arouca, reparou a injustiça e afirmou a redemocratização da Fiocruz. O evento teve participação de personalidades como Ulysses Guimarães e Darcy Ribeiro.

 
Mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, Zika e chikungunya. Foto: Josué Damacena. Arte: João Veras

Os anos 1980 marcaram a chegada da dengue às Américas, com grandes epidemias. Atuando de forma pioneira, o IOC contribuiu para a compreensão da doença, o desenvolvimento de métodos de diagnóstico e de estratégias de controle, tornando-se referência junto ao Ministério da Saúde.

O Instituto foi responsável pelas primeiras detecções dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus dengue no Brasil, respectivamente em 1986, 1990 e 2001. Em 2010, identificou o sorotipo 4, apontando a reintrodução da linhagem no país quase 30 anos após o primeiro surto registrado em Roraima em 1981.

O pioneirismo também esteve presente no enfrentamento das emergências mais recentes de arboviroses, como a Zika em 2015 e a febre amarela em 2016.

Paralelamente às atividades na virologia, as pesquisas sobre o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya, são uma expertise do Instituto, que investiga o comportamento do vetor e a resistência a inseticidas, entre outros temas, e concebeu a estratégia de controle ao inseto ‘10 minutos contra o Aedes’.  

Abaixo, a primeira imagem do HIV obtida no Brasil, em 1987, pelo IOC. Acima, o pesquisador Bernardo Galvão, que liderou a equipe responsável pelo isolamento do vírus. Imagem de microscopia: Monika Barth. Foto: Genilton Vieira. Arte: João Veras

Logo após a confirmação do primeiro caso de Aids no Brasil, pesquisadores do IOC assumiram o desafio de enfrentar a doença. Na época, a infecção era pouco compreendida, associada com alta mortalidade e cercada de preconceitos. O vírus HIV foi caracterizado em 1983, na França. Dois anos depois, cientistas do IOC conseguiram desenvolver o primeiro kit brasileiro para o diagnóstico, após terem acesso a amostras de células infectadas pelo patógeno. A metodologia permitiu a confirmação da doença em casos suspeitos e contribuiu para estabelecer a triagem em bancos de sangue, reduzindo o risco de contaminação através de transfusões.

Na etapa seguinte de pesquisa, foi realizado o primeiro isolamento do HIV-1 no Brasil e na América Latina, em 1987. Publicado em artigo na revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, o achado contou com o empenho de uma equipe multidisciplinar que precisou aprender novas metodologias e adaptar técnicas usadas no exterior para a infraestrutura disponível no Brasil. Até hoje, o vírus permanece no alvo de pesquisas do IOC, que atua como laboratório de referência em HIV para o Ministério da Saúde.  

 
À esquerda, parasitos Trypanosoma cruzi entrelaçados em registro de microscopia eletrônica de varredura com colorido em pós-processamento da imagem. À direita, parasitos do gênero Leishmania. Imagens: Anissa Daliry e Maria de Nazaré Soeiro/IOC e Coleção de Leishmania/IOC

Durante os anos 1990, o IOC teve atuação pioneira na área genômica, sendo um dos responsáveis por introduzir no Brasil a técnica de PCR, que revolucionou a biologia molecular, permitindo amplificar genomas para sequenciamento e diagnóstico de doenças. O desenvolvimento de tecnologias de ponta para enfrentar agravos negligenciados foi um dos focos do Instituto, que estabeleceu metodologias moleculares para diagnóstico de doença de Chagas e leishmanioses, assim como identificação e tipagem de DNA de parasitos, constituindo serviços de referência na área. A aplicação da engenharia genética para produção do vírus vacinal amarílico em tecidos foi outra inovação.

A biologia molecular segue no centro de atividades de pesquisa e inovação no IOC. Nos últimos anos, o Instituto atuou, por exemplo, no desenvolvimento de kits para diagnóstico molecular de diversos agravos, incluindo hanseníase, doença de Chagas, leishmanioses, febre maculosa,  febre amarela, diarreia aguda, além de um simultâneo para influenza e Covid-19 e outro para dengue, Zika e chikungunya.

A partir da esquerda, em sentido horário: teste de método para controle de vetores das leishmanioses no Sudeste, pesquisa sobre malária e parasitoses intestinais em aldeia Yanomami no Amazonas e investigação sobre microrganismos no solo da Antártica. Fotos: Gutemberg Brito e Acervo pessoal. Arte: João Veras  

Nos anos 2000, o termo ‘Saúde Única’ ganhou força nas discussões globais reforçando a necessidade da abordagem integrada entre saúde humana, animal e ambiental. Presente na raiz das atividades do IOC, esta perspectiva permanece forte, como mostrou levantamento realizado em 2021, que mapeou atuação do Instituto em pesquisas de campo na interface entre ambiente e saúde em 25 estados, incluindo desde áreas rurais, indígenas e silvestres até grandes centros urbanos.

As zoonoses, doenças transmitidas de animais para seres humanos, são um tema importante destes estudos, que contemplam a interação entre patógenos, animais reservatórios, vetores, fatores ambientais, climáticos e socioeconômicos. No foco das pesquisas do IOC destacam-se, por exemplo, doenças zoonóticas como esquistossomose, hantaviroses e leptospirose, entre muitas outras.

Outras temáticas colocam o Instituto na vanguarda da Saúde Única, incluindo a atuação em malária, resistência bacteriana a antibióticos, contaminação ambiental e mudanças climáticas. 

 
Representantes do IOC, Fiocruz, Ministério da Saúde e Opas com profissionais de sete países capacitados para detecção do vírus Mpox em treinamento ministrado por especialistas do Instituto. Foto: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

O Instituto teve papel destacado nas crises sanitárias mais recentes no Brasil, incluindo influenza A H1N1, Zika, febre amarela e Mpox, além da Covid-19. Esteve de prontidão ainda contra o vírus ebola, esclarecendo casos suspeitos do agravo no país. Além de desenvolver pesquisas científicas, o IOC atuou como referência no diagnóstico laboratorial e na vigilância de vetores, ministrando capacitações e desenvolvendo metodologias.

Em 2009, o IOC sequenciou os primeiros genomas do H1N1 no Brasil. Em 2015, realizou a primeira detecção do vírus Zika no líquido amniótico de gestantes em casos de microcefalia e confirmou o papel do mosquito Aedes aegypti como principal vetor do vírus no país. Em 2017, durante o maior surto de febre amarela em quase 80 anos, identificou os mosquitos silvestres transmissores do agravo e realizou o sequenciamento genético completo do vírus associado ao surto, identificando mutações inéditas. Frente à disseminação do Mpox em 2022, especialistas do Instituto implementaram as técnicas para diagnóstico laboratorial da infecção e isolaram o vírus, registrando em imagens de microscopia a sua estrutura detalhada. 

Amostra com fragmento do coronavírus identificado em Wuhan, na China, recebida pelo IOC em janeiro de 2020 para reforçar procedimentos de diagnóstico. Foto: Josué Damacena. Arte: João Veras 

O IOC esteve na linha de frente da resposta brasileira à pandemia de Covid-19. Reconhecido como referência para o Brasil e as Américas, o Instituto implementou e desenvolveu metodologias para diagnóstico e capacitou profissionais. Atuando no monitoramento do genoma do SARS-CoV-2, teve duas pesquisadoras nomeadas para o grupo consultivo técnico da OMS.

Pesquisas do IOC tiveram impacto nas políticas de saúde, abordando vigilância em esgotos, padrões de disseminação do coronavírus, eficácia das máscaras, medicamentos antivirais, efeitos da infecção no organismo e consequências da pandemia para a saúde mental, além de chamar atenção para o aumento na resistência bacteriana aos antibióticos. A Vitrine Tecnológica Covid-19 deu visibilidade às inovações desenvolvidas.

No campo da educação, o IOC reestruturou suas atividades de ensino no ambiente online e implantou uma plataforma para apoio a educadores. Assim como toda a sociedade, o Instituto sofreu perdas, com mortes de trabalhadores e estudantes devido à doença. O IOC se mantém ativo na vigilância da Covid-19, monitorando a circulação da doença e a emergência de variantes virais.  

 
Alguns números do IOC em 2025, na celebração de seu Jubileu Secular de Prata. Arte: João Veras

Em 25 de maio de 2025, em data de aniversário compartilhada com a Fiocruz, o IOC completou 125 anos, celebrando seu Jubileu Secular de Prata. Os números não contam toda a história, mas ajudam a vislumbrar a potência do IOC ao olhar para ao futuro.

São 66 laboratórios de pesquisa, submetidos ao processo periódico de credenciamento, com avaliação externa, para promover a excelência científica, além de dez plataformas tecnológicas, com equipamentos de alto desempenho e equipes especializadas. Nos últimos dez anos (de 2015 a 2024) foram mais de 6.800 artigos publicados em periódicos, incluindo trabalhos que descreveram 260 novas espécies e 13 novos gêneros. O processo de inovação resultou em 27 tecnologias protegidas, com 66 patentes concedidas e 47 pedidos de patentes em tramitação.

Vinte e três laboratórios do IOC desempenham serviços de referência para o Ministério da Saúde, sendo que nove atuam no âmbito internacional junto à Opas e à OMS. Dois ambulatórios especializados são mantidos por laboratórios de referência. 

Vinte coleções biológicas estão sob a guarda do Instituto, preservando milhões de espécimes microbiológicos, zoológicos e materiais biológicos de patologia. No ensino, são mais de 4 mil mestres e doutores formados e 855 estudantes matriculados em sete programas de pós-graduação Stricto sensu, além de quatro cursos de especialização Lato sensu e dois de nível médio, com 112 alunos atualmente inscritos. Ultrapassando a marca de 115 anos, a revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ publicou mais de 7 mil artigos.  

Atualizada de forma democrática em abril, através de debates no '7º Encontro do IOC' e votação pelo Conselho Deliberativo, a missão do Instituto afirma: produzir ciência e promover a saúde em benefício da sociedade e do fortalecimento do SUS.

Viva o IOC! Viva a Fiocruz! Viva o SUS!

:: Confira as principais referências bibliográficas consultadas para a produção da 'Linha do tempo: IOC 125 anos'.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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