“Não podemos sanear todo o Brasil, esperar que as pessoas saiam da pobreza extrema para tratar de doenças. Nós somos observadores, mas principalmente agentes. A Fiocruz tem dado contribuições significativas na melhoria dos indicadores de saúde no Brasil para combater a pobreza”, afirmou o Secretário de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, na segunda sessão da Plenária do V Encontro do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizada nesta terça-feira, 21/06. Na abertura do evento, que reúne cerca de 100 profissionais do Instituto para delinear o planejamento quadrienal da Unidade, já havia contado com a presença de outra autoridade: Glaucius Oliva, presidente do CNPq, que fez a palestra de abertura em 12 de maio, em Teresópolis (RJ). A segunda sessão plenária tem como objetivo votar as propostas produzidas em grupos de trabalho durante o evento.
Foto: Gutemberg Brito
Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC/Fiocruz.
Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC/Fiocruz, abriu o evento contando um pouco das conquistas dos Encontros anteriores, realizados em 2003, 2006 e 2008. “É sempre muito bom debater o futuro e as diretrizes da Instituição, sua missão e valores com os membros do IOC”, comemora.
Foto: Gutemberg Brito
Claude Pirmez, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, na abertura do V Encontro do IOC.
Claude Pirmez, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, reverberou a relevância de ações de planejamento. “Não é só o tempo de história que o IOC possui. Trata-se de uma construção de pesquisa que fez diferença para a ciência no Brasil. Nós representamos uma instituição de peso muito grande”, declara. “Em pleno século XXI, o que está reservado para uma Instituição como esta no futuro? Estamos discutindo macroprojetos, como, por exemplo, a criação de uma rede nacional de vigilância, que seja integrada e multidisciplinar entre diversos órgãos e instituições de saúde”, ressalta.
Agenda inconclusa
Em sua primeira visita oficial ao IOC desde que assumiu o cargo na SVS, Barbosa ministrou a palestra ‘Desafios das doenças transmissíveis na agenda inconclusa da saúde no Brasil’, em que fez uma ampla exposição da situação do Brasil no campo das chamadas doenças negligenciadas. Ele frisa que o momento é de sincronia entre o Ministério da Saúde, a Secretaria de Vigilância em Saúde e o IOC.
“Em vez de usarmos o termo ‘doenças negligenciadas’ deveríamos usar, o que seria mais correto, ‘doenças de populações negligenciadas’ pois existem populações em pobreza extrema em nosso país. Temos que superar essa realidade. ‘Negligenciamento’, neste caso, não é só a falta de instrumentos, ferramentas para a saúde pública no combate às doenças, mas também se refere ao acesso geográfico da população aos postos e aos agentes de saúde. O povo brasileiro tem que se ter acesso a saneamento básico. Temos que ter trabalhos preventivos nas escolas. As frentes de combate às doenças negligenciadas são muitas, mas vamos vencer”, afirma Jarbas.
Foto: Gutemberg Brito
Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, em palestra no IOC, disse que as doenças negligenciadas "são causa e consequência da pobreza".
A maioria dessas doenças pode reduzir a capacidade de aprendizado e a produtividade das pessoas. “As doenças negligenciadas são causa e consequência da pobreza. Elas podem perpetuar a situação de miséria”, diz. Segundo dados apresentados, 70% dos países pobres sofrem com estes agravos. “Controle e eliminação destas doenças são viáveis e melhoram o acesso aos serviços de saúde. Temos que ter disponibilidade de novas ferramentas, novas estratégias com ênfase na atenção primária e melhorias nos serviços de saúde. A região das Américas tem uma história de sucesso em estratégias de eliminação e erradicação como o sarampo, pólio e varíola, por exemplo”, conta o secretário.
Balanço geral
Jarbas Barbosa apresentou de forma completa e bem atualizada os números de diversas doenças que atingem o Brasil. Segundo o secretário, doenças com grande potencial de eliminação como problema de saúde pública incluem doença de Chagas, filariose linfática, hanseníase, oncocercose, tracoma, sífilis congênita, raiva humana transmitida por cão, tétano neonatal e peste. Jarbas afirmou que os instrumentos de combate a estas doenças existem e que há exemplos concretos no mundo na utilização de ferramentas disponíveis para controlá-las. Já a leishmaniose visceral e a dengue, segundo o secretário, demandam novos instrumentos para seu enfrentamento.
De acordo com o secretário, a filariose linfática é um bom exemplo de que algo pode ser feito para controlar as doenças negligenciadas. “A Secretaria Municipal de Saúde do Recife, por exemplo, fez o tratamento coletivo, focando no conjunto, pois o tratamento individual é algo muito difícil. De 2003 à 2010, houve uma redução de 80.275 casos para 53.833. Há lugares na região metropolitana da capital pernambucana em que a doença já foi controlada”, conta.
Foto: Gutemberg Brito
"A Fundação Oswaldo Cruz tem dado contribuições significativas na melhoria dos indicadores de saúde no Brasil para combater a pobreza”, afirma Jarbas Barbosa.
“A hanseníase ainda é um problema, e merece atenção. É inaceitável e envergonha a gente”, destaca Jarbas. Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Pará e Roraima são os estados com maiores incidências. “Tem que haver uma integração básica entre as secretarias municipais e estaduais. Para uma pessoa da periferia de Manaus (AM), por exemplo, que gasta R$ 16 para ter uma mobilidade até um posto de saúde é uma barreira a ser transposta. Há o tratamento, mas existe ainda um problema crônico nisso tudo: a dificuldade de acesso da população”, constata.
Outro problema destacado pelo secretário é a leishmaniose, que está em expansão no mundo e enfrenta o mesmo processo em nosso país. No Brasil, ela atinge 47,5% da população na região Nordeste. São 3.693 casos ao ano. A doença vem sendo registrada pelo SVS desde 1980. Em 2003, houve uma reformulação das estratégias de controle. O ápice foi registrado no ano 2000, quando quase cinco mil pessoas foram infectadas. “O Brasil tem uma responsabilidade tremenda entre os países que registram esse mal porque temos alta capacidade científica e tecnológica para combatê-lo”, enfatiza o secretário.
Compromisso público
Jarbas Barbosa reiterou o compromisso político na luta para eliminar as doenças relacionadas à pobreza. “Isso é parte de uma agenda na saúde pública que não foi concluída no país. Ainda estamos atrasados. Temos um alto grau de desenvolvimento científico, tecnológico, acadêmico e até econômico, guardadas suas proporções, que deve servir para darmos esse salto na qualidade da saúde pública no Brasil. Necessitamos de estratégias especiais e ênfase no nível local, com decisões baseadas em evidências, necessidade de informação adequada para a população, integração com a atenção primária (ESF), intervenções interprogramáticas, como ter acesso a água potável, condições básicas de higiene em comunidades do país”, destaca.
V Encontro do IOC
A primeira etapa da Plenária do V Encontro do IOC reuniu em Teresópolis (RJ) cerca de 100 membros do Instituto com o objetivo de discutir as políticas estratégicas do Instituto no contexto do Plano Quadrienal (2011-2014) do IOC/Fiocruz, aprovado no VI Congresso Interno, e consolidou os itens Missão e Visão institucionais.
Nesta segunda etapa, realizado no auditório do Museu da Vida, em Manguinhos (RJ), também foram reunidos cerca de 100 membros com objetivo de votar as propostas produzidas em grupos de trabalho durante o evento. Nestes grupos, foram elaboradas propostas para quatro blocos temáticos – Pesquisa, Complexo industrial, Cooperação e Coleções; Ensino, Comunicação e Informação; SUS, Saúde, Sustentabilidade e Ambiente; Inovação na Gestão – e para a definição da Missão, Visão e Valores institucionais.
João Paulo Soldati
21/06/2011
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“Não podemos sanear todo o Brasil, esperar que as pessoas saiam da pobreza extrema para tratar de doenças. Nós somos observadores, mas principalmente agentes. A Fiocruz tem dado contribuições significativas na melhoria dos indicadores de saúde no Brasil para combater a pobreza”, afirmou o Secretário de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, na segunda sessão da Plenária do V Encontro do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizada nesta terça-feira, 21/06. Na abertura do evento, que reúne cerca de 100 profissionais do Instituto para delinear o planejamento quadrienal da Unidade, já havia contado com a presença de outra autoridade: Glaucius Oliva, presidente do CNPq, que fez a palestra de abertura em 12 de maio, em Teresópolis (RJ). A segunda sessão plenária tem como objetivo votar as propostas produzidas em grupos de trabalho durante o evento.
Foto: Gutemberg Brito
Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC/Fiocruz.
Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC/Fiocruz, abriu o evento contando um pouco das conquistas dos Encontros anteriores, realizados em 2003, 2006 e 2008. “É sempre muito bom debater o futuro e as diretrizes da Instituição, sua missão e valores com os membros do IOC”, comemora.
Foto: Gutemberg Brito
Claude Pirmez, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, na abertura do V Encontro do IOC.
Claude Pirmez, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, reverberou a relevância de ações de planejamento. “Não é só o tempo de história que o IOC possui. Trata-se de uma construção de pesquisa que fez diferença para a ciência no Brasil. Nós representamos uma instituição de peso muito grande”, declara. “Em pleno século XXI, o que está reservado para uma Instituição como esta no futuro? Estamos discutindo macroprojetos, como, por exemplo, a criação de uma rede nacional de vigilância, que seja integrada e multidisciplinar entre diversos órgãos e instituições de saúde”, ressalta.
Agenda inconclusa
Em sua primeira visita oficial ao IOC desde que assumiu o cargo na SVS, Barbosa ministrou a palestra ‘Desafios das doenças transmissíveis na agenda inconclusa da saúde no Brasil’, em que fez uma ampla exposição da situação do Brasil no campo das chamadas doenças negligenciadas. Ele frisa que o momento é de sincronia entre o Ministério da Saúde, a Secretaria de Vigilância em Saúde e o IOC.
“Em vez de usarmos o termo ‘doenças negligenciadas’ deveríamos usar, o que seria mais correto, ‘doenças de populações negligenciadas’ pois existem populações em pobreza extrema em nosso país. Temos que superar essa realidade. ‘Negligenciamento’, neste caso, não é só a falta de instrumentos, ferramentas para a saúde pública no combate às doenças, mas também se refere ao acesso geográfico da população aos postos e aos agentes de saúde. O povo brasileiro tem que se ter acesso a saneamento básico. Temos que ter trabalhos preventivos nas escolas. As frentes de combate às doenças negligenciadas são muitas, mas vamos vencer”, afirma Jarbas.
Foto: Gutemberg Brito
Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, em palestra no IOC, disse que as doenças negligenciadas "são causa e consequência da pobreza".
A maioria dessas doenças pode reduzir a capacidade de aprendizado e a produtividade das pessoas. “As doenças negligenciadas são causa e consequência da pobreza. Elas podem perpetuar a situação de miséria”, diz. Segundo dados apresentados, 70% dos países pobres sofrem com estes agravos. “Controle e eliminação destas doenças são viáveis e melhoram o acesso aos serviços de saúde. Temos que ter disponibilidade de novas ferramentas, novas estratégias com ênfase na atenção primária e melhorias nos serviços de saúde. A região das Américas tem uma história de sucesso em estratégias de eliminação e erradicação como o sarampo, pólio e varíola, por exemplo”, conta o secretário.
Balanço geral
Jarbas Barbosa apresentou de forma completa e bem atualizada os números de diversas doenças que atingem o Brasil. Segundo o secretário, doenças com grande potencial de eliminação como problema de saúde pública incluem doença de Chagas, filariose linfática, hanseníase, oncocercose, tracoma, sífilis congênita, raiva humana transmitida por cão, tétano neonatal e peste. Jarbas afirmou que os instrumentos de combate a estas doenças existem e que há exemplos concretos no mundo na utilização de ferramentas disponíveis para controlá-las. Já a leishmaniose visceral e a dengue, segundo o secretário, demandam novos instrumentos para seu enfrentamento.
De acordo com o secretário, a filariose linfática é um bom exemplo de que algo pode ser feito para controlar as doenças negligenciadas. “A Secretaria Municipal de Saúde do Recife, por exemplo, fez o tratamento coletivo, focando no conjunto, pois o tratamento individual é algo muito difícil. De 2003 à 2010, houve uma redução de 80.275 casos para 53.833. Há lugares na região metropolitana da capital pernambucana em que a doença já foi controlada”, conta.
Foto: Gutemberg Brito
"A Fundação Oswaldo Cruz tem dado contribuições significativas na melhoria dos indicadores de saúde no Brasil para combater a pobreza”, afirma Jarbas Barbosa.
“A hanseníase ainda é um problema, e merece atenção. É inaceitável e envergonha a gente”, destaca Jarbas. Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Pará e Roraima são os estados com maiores incidências. “Tem que haver uma integração básica entre as secretarias municipais e estaduais. Para uma pessoa da periferia de Manaus (AM), por exemplo, que gasta R$ 16 para ter uma mobilidade até um posto de saúde é uma barreira a ser transposta. Há o tratamento, mas existe ainda um problema crônico nisso tudo: a dificuldade de acesso da população”, constata.
Outro problema destacado pelo secretário é a leishmaniose, que está em expansão no mundo e enfrenta o mesmo processo em nosso país. No Brasil, ela atinge 47,5% da população na região Nordeste. São 3.693 casos ao ano. A doença vem sendo registrada pelo SVS desde 1980. Em 2003, houve uma reformulação das estratégias de controle. O ápice foi registrado no ano 2000, quando quase cinco mil pessoas foram infectadas. “O Brasil tem uma responsabilidade tremenda entre os países que registram esse mal porque temos alta capacidade científica e tecnológica para combatê-lo”, enfatiza o secretário.
Compromisso público
Jarbas Barbosa reiterou o compromisso político na luta para eliminar as doenças relacionadas à pobreza. “Isso é parte de uma agenda na saúde pública que não foi concluída no país. Ainda estamos atrasados. Temos um alto grau de desenvolvimento científico, tecnológico, acadêmico e até econômico, guardadas suas proporções, que deve servir para darmos esse salto na qualidade da saúde pública no Brasil. Necessitamos de estratégias especiais e ênfase no nível local, com decisões baseadas em evidências, necessidade de informação adequada para a população, integração com a atenção primária (ESF), intervenções interprogramáticas, como ter acesso a água potável, condições básicas de higiene em comunidades do país”, destaca.
V Encontro do IOC
A primeira etapa da Plenária do V Encontro do IOC reuniu em Teresópolis (RJ) cerca de 100 membros do Instituto com o objetivo de discutir as políticas estratégicas do Instituto no contexto do Plano Quadrienal (2011-2014) do IOC/Fiocruz, aprovado no VI Congresso Interno, e consolidou os itens Missão e Visão institucionais.
Nesta segunda etapa, realizado no auditório do Museu da Vida, em Manguinhos (RJ), também foram reunidos cerca de 100 membros com objetivo de votar as propostas produzidas em grupos de trabalho durante o evento. Nestes grupos, foram elaboradas propostas para quatro blocos temáticos – Pesquisa, Complexo industrial, Cooperação e Coleções; Ensino, Comunicação e Informação; SUS, Saúde, Sustentabilidade e Ambiente; Inovação na Gestão – e para a definição da Missão, Visão e Valores institucionais.
João Paulo Soldati
21/06/2011
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)