Portuguese English Spanish
Interface
Adjust the interface to make it easier to use for different conditions.
This renders the document in high contrast mode.
This renders the document as white on black
This can help those with trouble processing rapid screen movements.
This loads a font easier to read for people with dyslexia.
Busca Avançada
Você está aqui: Notícias » 1975 a 2000: retomada científica e pioneirismo contra dengue e HIV

1975 a 2000: retomada científica e pioneirismo contra dengue e HIV

Com o retorno da democracia, IOC se reestruturou e teve papel central diante da chegada da dengue e do HIV ao Brasil
Por Maíra Menezes14/10/2025 - Atualizado em 03/11/2025

Os anos de 1975 a 2000 foram de retomada científica no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) com ingresso de novos pesquisadores, reestruturação das atividades de ensino e, finalmente, reintegração dos cassados e implantação da gestão participativa na volta da democracia. Chegando ao centenário, o IOC obteve reconhecimento de laboratórios de referência, se destacou na biologia molecular e no enfrentamento da dengue e do HIV. Confira na quarta reportagem da série especial Linha do tempo: IOC 125 anos.

Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: José Rodrigues Coura, Leônidas e Maria Deane, Henrique e Jane Lenzi, Helio e Peggy Pereira e Luis Rey. Fotos: Gutemberg Brito e Acervos IOC e COC/Fiocruz. Arte: João Veras

A retomada científica do IOC ocorreu sob a gestão de José Rodrigues Coura, que assumiu a direção do Instituto e a vice-presidência de Pesquisa da Fiocruz em 1979, a convite do Ministério da Saúde. O contexto era de abertura lenta e gradual do regime militar, sob pressão popular, sendo a Lei da Anistia aprovada naquele mesmo ano. Com o objetivo de repovoar o IOC, Coura atuou para captar cientistas renomados e reestruturou as atividades de ensino. Também retomou a publicação da revista â€˜Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.

Retornaram ao Brasil para atuar no IOC: o entomologista Leônidas Deane e a protozoologista Maria Denae, que estavam na Venezuela; o parasitologista Luis Rey, que estava em Genebra, aposentando-se na Organização Mundial da Saúde (OMS); os virologistas Helio e Marguerite (Peggy) Pereira, que se aposentavam na Inglaterra; e os patologistas Henrique e Jane Lenzi, que vieram de Harvard, nos Estados Unidos, entre outros cientistas expoentes que passaram a compor os quadros do Instituto. 
 

Atividades de ensino do IOC, no campo e em laboratório, em programas de pós-graduação Stricto e Lato sensu. Fotos: Gutemberg Brito e Acervo IOC/Fiocruz. Arte: João Veras

O ensino formal no IOC foi interrompido em 1970, devido à decisão de concentrar as atividades educativas na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Em 1980, foi iniciada uma nova fase de atuação, com o estabelecimento da pós-graduação Stricto sensu no Instituto.

Mantendo a excelência e a articulação com a pesquisa dos tempos do 'Curso de Aplicação' e acompanhando a expansão de suas áreas de expertise, o IOC chegou a sete programas Stricto sensu, que titularam 4.143 mestres e doutores, em Biologia Parasitária, Medicina Tropical, Biologia Celular e Molecular, Ensino em Biociências e Saúde, Biologia Computacional e Sistemas, Biodiversidade e Saúde e Vigilância e Controle de Vetores.

O papel de formar recursos humanos para a saúde pública também se concretiza em quatro pós-graduações Lato sensu - em Entomologia Médica, Malacologia de Vetores, Ensino em Biociências e Saúde e Ciência, Arte e Cultura na Saúde - e dois cursos de nível médio - Especialização em Biologia Parasitária e Biotecnologia e Técnico em Biotecnologia. O ensino no IOC inclui ainda iniciação científica e cursos de férias para alunos de graduação, formação de pós-doutorado e atividades educativas não-formais para públicos diversos. 

Diagnóstico, vigilância genômica e identificação de vetores, como barbeiros e caramujos, estão entre as muitas atividades desenvolvidas pelos laboratórios de referência do IOC. Fotos: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Vinte e três laboratórios do IOC prestam serviços de referência, desempenhando papel estratégico no SUS para diagnóstico de agravos, identificação de vetores e reservatórios, sequenciamento genômico, desenvolvimento de tecnologias e capacitação de profissionais. Além de apoiar o Ministério da Saúde, nove atuam em nível internacional em redes da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Laboratórios de referência mantêm ainda dois ambulatórios especializados para atendimento de pacientes em hanseníase e hepatites virais.

Diversas referências foram credenciadas nos anos 1980, no contexto da estruturação do sistema nacional de laboratórios de saúde pública, incluindo serviços voltados para poliomielite, hepatites virais, leishmanias, leptospirose e triatomíneos, entre outros. Alguns serviços têm atuação ainda anterior, como as referências para influenza, estabelecida na década de 1950, e para cólera e enterobactérias, implantada no começo dos anos 1970.  

 
Momento de votação durante reunião do Conselho Deliberativo do IOC, instância máxima de decisão do Instituto. Foto: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Após a redemocratização, em 1985, o IOC seguiu a trilha da gestão participativa e iniciou o processo de eleição de seus diretores. Até então, todos os diretores do Instituto haviam sido indicados pelo seu antecessor ou pela autoridade política à qual estavam vinculados. Em 1985 e 1989, os diretores foram eleitos pelo Conselho Deliberativo do Instituto, que foi criado em 1979. Depois, o voto passou a ser direto.

Atualmente, o Conselho Deliberativo, instância máxima de decisão do IOC, é formado por representantes eleitos de todos os seus laboratórios e das categorias que integram a comunidade institucional. A instituição conta ainda com câmaras técnicas, que assessoram a tomada de decisões da Diretoria, e promove periodicamente os ‘Encontros do IOC’, que visam propor estratégias e diretrizes de curto, médio e longo prazos para a unidade. 

Os pesquisadores cassados antes da cerimônia de reintegração e durante o evento. Na foto do alto, a partir da esquerda: Augusto Cid de Mello Perissé, Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Haity Moussatché, Fernando Braga Ubatuba, Moacyr Vaz de Andrade, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Herman Lent, Sebastião José de Oliveira, Domingos Arthur  Machado Filho. Fotos: Acervo COC/Fiocruz. Arte: João Veras

O retorno dos cassados aos quadros do IOC ocorreu em 1986, cinco anos após a Lei da Anistia. Dos dez pesquisadores, apenas Herman Lent optou por não voltar ao Instituto, permanecendo na Universidade Santa Úrsula, que o havia acolhido. Assim, retornaram: Augusto Perissé, Domingos Arthur Machado, Fernando Braga Ubatuba, Haity Moussatché, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Moacyr Vaz de Andrade, Sebastião José de Oliveira e Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

A cerimônia de reintegração, conduzida pelo então presidente da Fiocruz, Sergio Arouca, reparou a injustiça e afirmou a redemocratização da Fiocruz. O evento teve participação de personalidades como Ulysses Guimarães e Darcy Ribeiro.

 
Mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, Zika e chikungunya. Foto: Josué Damacena. Arte: João Veras

Os anos 1980 marcaram a chegada da dengue às Américas, com grandes epidemias. Atuando de forma pioneira, o IOC contribuiu para a compreensão da doença, o desenvolvimento de métodos de diagnóstico e de estratégias de controle, tornando-se referência junto ao Ministério da Saúde.

O Instituto foi responsável pelas primeiras detecções dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus dengue no Brasil, respectivamente em 1986, 1990 e 2001. Em 2010, identificou o sorotipo 4, apontando a reintrodução da linhagem no país quase 30 anos após o primeiro surto registrado em Roraima em 1981.

O pioneirismo também esteve presente no enfrentamento das emergências mais recentes de arboviroses, como a Zika em 2015 e a febre amarela em 2016.

Paralelamente às atividades na virologia, as pesquisas sobre o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya, são uma expertise do Instituto, que investiga o comportamento do vetor e a resistência a inseticidas, entre outros temas, e concebeu a estratégia de controle ao inseto â€˜10 minutos contra o Aedes’.  

Abaixo, a primeira imagem do HIV obtida no Brasil, em 1987, pelo IOC. Acima, o pesquisador Bernardo Galvão, que liderou a equipe responsável pelo isolamento do vírus. Imagem de microscopia: Monika Barth. Foto: Genilton Vieira. Arte: João Veras

Logo após a confirmação do primeiro caso de Aids no Brasil, pesquisadores do IOC assumiram o desafio de enfrentar a doença. Na época, a infecção era pouco compreendida, associada com alta mortalidade e cercada de preconceitos. O vírus HIV foi caracterizado em 1983, na França. Dois anos depois, cientistas do IOC conseguiram desenvolver o primeiro kit brasileiro para o diagnóstico, após terem acesso a amostras de células infectadas pelo patógeno. A metodologia permitiu a confirmação da doença em casos suspeitos e contribuiu para estabelecer a triagem em bancos de sangue, reduzindo o risco de contaminação através de transfusões.

Na etapa seguinte de pesquisa, foi realizado o primeiro isolamento do HIV-1 no Brasil e na América Latina, em 1987. Publicado em artigo na revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, o achado contou com o empenho de uma equipe multidisciplinar que precisou aprender novas metodologias e adaptar técnicas usadas no exterior para a infraestrutura disponível no Brasil. Até hoje, o vírus permanece no alvo de pesquisas do IOC, que atua como laboratório de referência em HIV para o Ministério da Saúde.  

 
À esquerda, parasitos Trypanosoma cruzi entrelaçados em registro de microscopia eletrônica de varredura com colorido em pós-processamento da imagem. À direita, parasitos do gênero Leishmania. Imagens: Anissa Daliry e Maria de Nazaré Soeiro/IOC e Coleção de Leishmania/IOC

Durante os anos 1990, o IOC teve atuação pioneira na área genômica, sendo um dos responsáveis por introduzir no Brasil a técnica de PCR, que revolucionou a biologia molecular, permitindo amplificar genomas para sequenciamento e diagnóstico de doenças. O desenvolvimento de tecnologias de ponta para enfrentar agravos negligenciados foi um dos focos do Instituto, que estabeleceu metodologias moleculares para diagnóstico de doença de Chagas e leishmanioses, assim como identificação e tipagem de DNA de parasitos, constituindo serviços de referência na área. A aplicação da engenharia genética para produção do vírus vacinal amarílico em tecidos foi outra inovação.

A biologia molecular segue no centro de atividades de pesquisa e inovação no IOC. Nos últimos anos, o Instituto atuou, por exemplo, no desenvolvimento de kits para diagnóstico molecular de diversos agravos, incluindo hanseníasedoença de Chagasleishmaniosesfebre maculosa,  febre amareladiarreia aguda, além de um simultâneo para influenza e Covid-19 e outro para dengue, Zika e chikungunya.

O último quarto de século da história do IOC tem como marcos a atuação na linha de frente de emergências de saúde pública, incluindo a pandemia de Covid-19. Na quinta reportagem da série especial ‘Linha do tempo: IOC 125 anos’, saiba mais sobre estas contribuições e conheça o atual perfil institucional da unidade.

:: Veja as principais referências bibliográficas consultadas para a produção das reportagens.

:: Confira outras matérias sobre os 125 anos do IOC na página especial do Jubileu Secular de Prata.

Com o retorno da democracia, IOC se reestruturou e teve papel central diante da chegada da dengue e do HIV ao Brasil
Por: 
maira

Os anos de 1975 a 2000 foram de retomada científica no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) com ingresso de novos pesquisadores, reestruturação das atividades de ensino e, finalmente, reintegração dos cassados e implantação da gestão participativa na volta da democracia. Chegando ao centenário, o IOC obteve reconhecimento de laboratórios de referência, se destacou na biologia molecular e no enfrentamento da dengue e do HIV. Confira na quarta reportagem da série especial Linha do tempo: IOC 125 anos.

Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: José Rodrigues Coura, Leônidas e Maria Deane, Henrique e Jane Lenzi, Helio e Peggy Pereira e Luis Rey. Fotos: Gutemberg Brito e Acervos IOC e COC/Fiocruz. Arte: João Veras

A retomada científica do IOC ocorreu sob a gestão de José Rodrigues Coura, que assumiu a direção do Instituto e a vice-presidência de Pesquisa da Fiocruz em 1979, a convite do Ministério da Saúde. O contexto era de abertura lenta e gradual do regime militar, sob pressão popular, sendo a Lei da Anistia aprovada naquele mesmo ano. Com o objetivo de repovoar o IOC, Coura atuou para captar cientistas renomados e reestruturou as atividades de ensino. Também retomou a publicação da revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.

Retornaram ao Brasil para atuar no IOC: o entomologista Leônidas Deane e a protozoologista Maria Denae, que estavam na Venezuela; o parasitologista Luis Rey, que estava em Genebra, aposentando-se na Organização Mundial da Saúde (OMS); os virologistas Helio e Marguerite (Peggy) Pereira, que se aposentavam na Inglaterra; e os patologistas Henrique e Jane Lenzi, que vieram de Harvard, nos Estados Unidos, entre outros cientistas expoentes que passaram a compor os quadros do Instituto. 
 

Atividades de ensino do IOC, no campo e em laboratório, em programas de pós-graduação Stricto e Lato sensu. Fotos: Gutemberg Brito e Acervo IOC/Fiocruz. Arte: João Veras

O ensino formal no IOC foi interrompido em 1970, devido à decisão de concentrar as atividades educativas na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Em 1980, foi iniciada uma nova fase de atuação, com o estabelecimento da pós-graduação Stricto sensu no Instituto.

Mantendo a excelência e a articulação com a pesquisa dos tempos do 'Curso de Aplicação' e acompanhando a expansão de suas áreas de expertise, o IOC chegou a sete programas Stricto sensu, que titularam 4.143 mestres e doutores, em Biologia Parasitária, Medicina Tropical, Biologia Celular e Molecular, Ensino em Biociências e Saúde, Biologia Computacional e Sistemas, Biodiversidade e Saúde e Vigilância e Controle de Vetores.

O papel de formar recursos humanos para a saúde pública também se concretiza em quatro pós-graduações Lato sensu - em Entomologia Médica, Malacologia de Vetores, Ensino em Biociências e Saúde e Ciência, Arte e Cultura na Saúde - e dois cursos de nível médio - Especialização em Biologia Parasitária e Biotecnologia e Técnico em Biotecnologia. O ensino no IOC inclui ainda iniciação científica e cursos de férias para alunos de graduação, formação de pós-doutorado e atividades educativas não-formais para públicos diversos. 

Diagnóstico, vigilância genômica e identificação de vetores, como barbeiros e caramujos, estão entre as muitas atividades desenvolvidas pelos laboratórios de referência do IOC. Fotos: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Vinte e três laboratórios do IOC prestam serviços de referência, desempenhando papel estratégico no SUS para diagnóstico de agravos, identificação de vetores e reservatórios, sequenciamento genômico, desenvolvimento de tecnologias e capacitação de profissionais. Além de apoiar o Ministério da Saúde, nove atuam em nível internacional em redes da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Laboratórios de referência mantêm ainda dois ambulatórios especializados para atendimento de pacientes em hanseníase e hepatites virais.

Diversas referências foram credenciadas nos anos 1980, no contexto da estruturação do sistema nacional de laboratórios de saúde pública, incluindo serviços voltados para poliomielite, hepatites virais, leishmanias, leptospirose e triatomíneos, entre outros. Alguns serviços têm atuação ainda anterior, como as referências para influenza, estabelecida na década de 1950, e para cólera e enterobactérias, implantada no começo dos anos 1970.  

 
Momento de votação durante reunião do Conselho Deliberativo do IOC, instância máxima de decisão do Instituto. Foto: Gutemberg Brito. Arte: João Veras

Após a redemocratização, em 1985, o IOC seguiu a trilha da gestão participativa e iniciou o processo de eleição de seus diretores. Até então, todos os diretores do Instituto haviam sido indicados pelo seu antecessor ou pela autoridade política à qual estavam vinculados. Em 1985 e 1989, os diretores foram eleitos pelo Conselho Deliberativo do Instituto, que foi criado em 1979. Depois, o voto passou a ser direto.

Atualmente, o Conselho Deliberativo, instância máxima de decisão do IOC, é formado por representantes eleitos de todos os seus laboratórios e das categorias que integram a comunidade institucional. A instituição conta ainda com câmaras técnicas, que assessoram a tomada de decisões da Diretoria, e promove periodicamente os ‘Encontros do IOC’, que visam propor estratégias e diretrizes de curto, médio e longo prazos para a unidade. 

Os pesquisadores cassados antes da cerimônia de reintegração e durante o evento. Na foto do alto, a partir da esquerda: Augusto Cid de Mello Perissé, Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Haity Moussatché, Fernando Braga Ubatuba, Moacyr Vaz de Andrade, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Herman Lent, Sebastião José de Oliveira, Domingos Arthur  Machado Filho. Fotos: Acervo COC/Fiocruz. Arte: João Veras

O retorno dos cassados aos quadros do IOC ocorreu em 1986, cinco anos após a Lei da Anistia. Dos dez pesquisadores, apenas Herman Lent optou por não voltar ao Instituto, permanecendo na Universidade Santa Úrsula, que o havia acolhido. Assim, retornaram: Augusto Perissé, Domingos Arthur Machado, Fernando Braga Ubatuba, Haity Moussatché, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Moacyr Vaz de Andrade, Sebastião José de Oliveira e Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

A cerimônia de reintegração, conduzida pelo então presidente da Fiocruz, Sergio Arouca, reparou a injustiça e afirmou a redemocratização da Fiocruz. O evento teve participação de personalidades como Ulysses Guimarães e Darcy Ribeiro.

 
Mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, Zika e chikungunya. Foto: Josué Damacena. Arte: João Veras

Os anos 1980 marcaram a chegada da dengue às Américas, com grandes epidemias. Atuando de forma pioneira, o IOC contribuiu para a compreensão da doença, o desenvolvimento de métodos de diagnóstico e de estratégias de controle, tornando-se referência junto ao Ministério da Saúde.

O Instituto foi responsável pelas primeiras detecções dos sorotipos 1, 2 e 3 do vírus dengue no Brasil, respectivamente em 1986, 1990 e 2001. Em 2010, identificou o sorotipo 4, apontando a reintrodução da linhagem no país quase 30 anos após o primeiro surto registrado em Roraima em 1981.

O pioneirismo também esteve presente no enfrentamento das emergências mais recentes de arboviroses, como a Zika em 2015 e a febre amarela em 2016.

Paralelamente às atividades na virologia, as pesquisas sobre o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya, são uma expertise do Instituto, que investiga o comportamento do vetor e a resistência a inseticidas, entre outros temas, e concebeu a estratégia de controle ao inseto ‘10 minutos contra o Aedes’.  

Abaixo, a primeira imagem do HIV obtida no Brasil, em 1987, pelo IOC. Acima, o pesquisador Bernardo Galvão, que liderou a equipe responsável pelo isolamento do vírus. Imagem de microscopia: Monika Barth. Foto: Genilton Vieira. Arte: João Veras

Logo após a confirmação do primeiro caso de Aids no Brasil, pesquisadores do IOC assumiram o desafio de enfrentar a doença. Na época, a infecção era pouco compreendida, associada com alta mortalidade e cercada de preconceitos. O vírus HIV foi caracterizado em 1983, na França. Dois anos depois, cientistas do IOC conseguiram desenvolver o primeiro kit brasileiro para o diagnóstico, após terem acesso a amostras de células infectadas pelo patógeno. A metodologia permitiu a confirmação da doença em casos suspeitos e contribuiu para estabelecer a triagem em bancos de sangue, reduzindo o risco de contaminação através de transfusões.

Na etapa seguinte de pesquisa, foi realizado o primeiro isolamento do HIV-1 no Brasil e na América Latina, em 1987. Publicado em artigo na revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, o achado contou com o empenho de uma equipe multidisciplinar que precisou aprender novas metodologias e adaptar técnicas usadas no exterior para a infraestrutura disponível no Brasil. Até hoje, o vírus permanece no alvo de pesquisas do IOC, que atua como laboratório de referência em HIV para o Ministério da Saúde.  

 
À esquerda, parasitos Trypanosoma cruzi entrelaçados em registro de microscopia eletrônica de varredura com colorido em pós-processamento da imagem. À direita, parasitos do gênero Leishmania. Imagens: Anissa Daliry e Maria de Nazaré Soeiro/IOC e Coleção de Leishmania/IOC

Durante os anos 1990, o IOC teve atuação pioneira na área genômica, sendo um dos responsáveis por introduzir no Brasil a técnica de PCR, que revolucionou a biologia molecular, permitindo amplificar genomas para sequenciamento e diagnóstico de doenças. O desenvolvimento de tecnologias de ponta para enfrentar agravos negligenciados foi um dos focos do Instituto, que estabeleceu metodologias moleculares para diagnóstico de doença de Chagas e leishmanioses, assim como identificação e tipagem de DNA de parasitos, constituindo serviços de referência na área. A aplicação da engenharia genética para produção do vírus vacinal amarílico em tecidos foi outra inovação.

A biologia molecular segue no centro de atividades de pesquisa e inovação no IOC. Nos últimos anos, o Instituto atuou, por exemplo, no desenvolvimento de kits para diagnóstico molecular de diversos agravos, incluindo hanseníase, doença de Chagas, leishmanioses, febre maculosa,  febre amarela, diarreia aguda, além de um simultâneo para influenza e Covid-19 e outro para dengue, Zika e chikungunya.

O último quarto de século da história do IOC tem como marcos a atuação na linha de frente de emergências de saúde pública, incluindo a pandemia de Covid-19. Na quinta reportagem da série especial ‘Linha do tempo: IOC 125 anos’, saiba mais sobre estas contribuições e conheça o atual perfil institucional da unidade.

:: Veja as principais referências bibliográficas consultadas para a produção das reportagens.

:: Confira outras matérias sobre os 125 anos do IOC na página especial do Jubileu Secular de Prata.

Edição: 
Renata Silva da Fontoura
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)